Lembranças
Lembranças
Brenda Carvalho*
Abrindo a gaveta esquecida do velho armário do nosso quarto — agora só meu — pego nosso álbum de fotos. Olhando a primeira fotografia, já amarelada pelo tempo passado, encontro traços do que um dia fora um grande amor.
Como algo tão simples poderia me trazer tantas recordações? — Olho para cada linha do seu rosto — a criatura mais bela angelical — o corpo pequeno, franzino comparado ao meu, inerte à uma delicadeza sem igual. Os cabelos curtos até os ombros, encaracolados, cada cacho representando a naturalidade, a vigoridade em seu sorriso, a pele morena queimava contra meu corpo a paixão.
Passava cada página daquele pequeno pedaço de vida com o rosto fumegando. Arfava a cada vez que me deleitava com sua humanidade. Aquele estranho ser, cheio de mistérios, segredos, todos revelados para mim. Cada palavra dita, cada pedido seu, vindos de seus lábios carnudos com a voz serena e dengosa. Gostosa de se ouvir.
Seu caminhar suave, desenhado na vez em que ela vinha de rumo encontro a mim, enquanto pedia engraçadamente para que não parasse aquele momento.
Meu olhos ardiam, eu lutava contra eles para que não me entregassem — venceram-me — as lágrimas já rolavam por cada centímetro de meu rosto, abrasando enlouquecidamente dentro de meu corpo.
Cada terminação nervosa dele se demonstrava um fio desencapado, dando choques em meu sistema. Mas ainda assim, eu me sentia mais completo ao ter que olha-la, mesmo que por um papel velho.
Uma felicidade estonteante. Um júbilo, era isso o que eu sentia quando vislumbrava sua delicadeza de querubim.
Amor? — Não, não era amor. Era muito que qualquer coisa além do entendimento humano, a minha bela amada, tudo imerso naqueles retratos da vida...
Apenas lembranças.
* Estudante da Escola 19 de Julho, 3º Ano.