Relações sem sentimentos -Marcelo Homes-
Robson Taylor, nasceu em um dia frio, era época de primavera, passou sua infância como todas as outras crianças, porém, na sua adolescência, descobriu uma maldição, um fardo que deveria carregar durante sua existência que com o tempo passou a enxergar como uma dádiva, era inconstante no amor. Mas não era somente desprovida do amor por mulheres, era desprovido de todos os sentimentos, alegria, tristeza, medo, melancolia, raiva, etc. Ele era frio, assim como o dia que ele nasceu, frio, escuro e vazio.
Na sua adolescência, vendo todos os seus amigos jovens se apaixonar, sofrer e chorar, depositar sua felicidade na mão de terceiros (aquela velha besteira juvenil), e começou a se perguntar "_por que eu não?" Todos sentem algo, porém, ele não sentia nada. Com isso passou a sentir o seu primeiro sentimento, "a dor", ele começou a sentir dor por não sentir nada, ele queria sentir algo. Então, passou sua adolescência inteira até sua maturidade pesquisando, estudando, entendendo, conhecendo, interpretando, todo tipo de sentimentos possíveis. E agora, aos seus 27 anos, tinha conhecimento de todos os sentimentos, de como era a reação química no cérebro referente a cada sentimento, qual parte do cérebro é responsável por eles, como nosso corpo reagia a tais sentimentos, conhecia os gatilhos que os estimulavam, adiquiriu, com amplitude, tudo que diria respeito aos sentimentos. Ele chegou a entende a complexidade que existe esse campo do conhecimento, pois os sentimentos são algo intimamente internos, é um estado do subconsciente, porém, ele tem, em suas mãos, o conhecimento de manifestar qualquer sentimento, em qualquer pessoa, pois os eles (os sentimentos) são constituídos por emoções, que estas são, em outras palavras, criadas pelo externo. Nossa parte psíquica, mais particularmente o "ego" , estudam as cituações e circunstâncias que são e não são favoráveis ao organismo físico, criando assim sensações no nosso corpo, identificando o que é favorável ou não ao organismo, produzindo emoções prazerosas ou detestáveis, indo à depende da circunstâncias, fazendo o indivíduo deseja, ou não, reviver tais momentos. O conjunto de emoções faze-se constituir os sentimentos, os sentimentos fazem o ser humano criar grupo, sociedade, normais e dogmas baseado em seus sentimentos mais íntimos, dos quais jugam justo e certo.
Para Taylor, era tudo mecanizado e sublime ao mesmo tempo. Ele se tornou um perito, um técnico, um especialista no campo dos sentimentos. Conhecia todos os seus gatilhos, o tom de voz, a velocidade das palavras pronunciadas, seus gestos lentos, sua forma de andar sem pressa, etc. Possuía várias táticas para conhecer se suas técnicas estavam funcionando, tal como, perceber a dilatação das pupilas, a coloração dos lábios, as veias do pescoço com mais fluxo sanguíneo, o batimento cardíaco, o distanciamento de uma perna para outra, seus gestos, como por exemplo, o cabelo de banda deixando à mostra seu pescoço, fica levando suas mãos ao decote com intervalo curto de tempo, o modo do sorriso, o alto da frequência do toque durante o diálogo, etc. Ele era um perito nesse ramo, porém ainda continuava desprovido dos sentimentos, por enquanto só tinha contato com a dor, a dor de não sentir nada.
Se tornou-se um empresário, se deu muito bem no ramo das vendas, pois sabia muito bem como cativar seus clientes, ficou renomado e cresceu muito economicamente. E agora ele decidiu explorar seus conhecimentos ao máximo, até então só tinha explorado o seu conhecimento nos seus vários relacionamentos e no seu ramo de trabalho, mas agora é estruturado economicamente, e decidiu dar o máximo de prazer as mulheres, já que ele próprio não sentia absolutamente nada, a não ser a dor, Então decidiu, com 32 anos de idade, explorar o mundo e em cada continente, cada país, de cada estado, de cada cidade, ele iria ficar com uma mulher, não qualquer mulher, mas somente aquelas que lhe chamasse à atenção e lhe despertasse o interesse de alguma forma. Isso daria 36,722 cidades, ele tinha recurso para isso.
Começou pelo seu país de origem, Inglaterra, foi para Alemanha, China, Itália, Rússia, Japão etc. Nos três primeiros países ele não sentiu nada fora do normal, porém, quando ele chegou a Itália e se deparou nos braços daquelas lindas mulheres, sentiu algo, algo que nunca havia sentido antes, algo extraordinário, magnífico, esplêndido, estarrecedoramente divino. Ele sentiu prazer, sim prazer, mas não prazer comum por ter deitado com as mulheres, mas sentiu prazer pelas despedidas, sentir o prazer de ver a dor nos olhos daquelas mulheres, de ver as lágrimas escorrerem pelo seus rostos ao ouvir ele anunciar que estaria indo embora. E quanto mais apaixonadas elas tivessem, mais prazer ele sentia em dizer que iria embora, em dizer adeus. Ele gostava de provocar essas dores emocionais, ele se sentia vivo, se sentia completo, sentia que a existência dele não era em vão e agora lhe encontrar um motivo para viver.
E assim seguiu sua fria e calculista jornada, a despedaçar corações por onde passava. Ele não demonstra prazer ao ver aquelas mulheres, ainda sem roupas, implorar e suplicar para que fique, ele até demonstrava dor, demonstrava compartilhar de tal sentimento das quais as mesmas sentiram, porém ele inflamava de desejo e prazer por dentro em ver aquela cena divina, ele tinha sensação de observar uma tela de Leonardo da Vinci ou de Picasso, só que em movimento. Remorso? Ele não tinha conhecimento disso, os únicos sentimentos que ele sentia agora era dor e prazer.
Já tinha percorrido 27, 112 cidades (ou mulheres, como preferir) e cada uma tinha uma peculiaridade diferente, ele sentia cada uma individualmente, o desejo que sentia por um, nunca repetia da mesma forma por outra, com cada mulher é um prazer diferente, um desejo, um sentimento diferente.
Estava agora na França (aí talvez seria sua decadência), já havia passado por Bordéus, Clamart, Lyon e Paris, e agora está em Drancy. já havia se deitado com uma mulher, de uma de altura é mediana, cabelo ruivos, meios caracolados, tinha um rosto simpático, essa fez um drama mas não derramou lágrimas. Taylor saindo da pousada, pegou um táxi em direção a próxima cidade, mas como pressentimento divino resolveu parar antes de sair de Drancy, parou em um café para comer um pão e tomar um chá, pois ele não bebia café, enquanto fazia sua refeição, como que trazido pelos deuses, chegou ao seu olfato, um aroma suave, doce, de leveza quase angelical que ele fez trazer as recordações de passado distante, o fez lembrar da adolescência, de quando se perguntava "por que não sinto o que os outros sentem pelas outras pessoas". Aquele aroma lhe fez sentir estagnado, transportado, pela primeira vez sentiu medo, sentiu medo de se virar e ver uma mulher, pois a regra era uma mulher por cidade, porém se ele se virasse e fosse uma mulher, pode ter certeza, que ele quebraria qualquer regra, norma, doutrina, dogma, Cultura, ele quebraria exatamente qualquer coisa que o impedisse a se deitar como a tal mulher, e ter-la ao seu olhar, a chorar e suplicar por ele.
Então, usando de seus métodos, ele se vira lentamente... É uma mulher, de altura mediana, de pele morena, de cabelo escorrido, é jovem, ela tem um sorriso maravilhoso, e quando ele olhou o sorriso dela, não mais desejou ela chorando e suplicando por ele, queria ver ela sorrindo, sorrindo apenas. Foi isso que ele desejou dessa vez, um sorriso
Ele a observa discretamente, ela senta em uma mesa redonda que contém quatro cadeiras, ela está sozinha, está a espera de alguém, o garçom se aproxima e pede um café, apenas um café, demonstrava que ela não ia demorar muito, e que se Taylor tivesse de agir, deveria agir logo. Ele termina seu chá e vai em direção à ela lentamente, aproxima-se dela e diz;
_Bom dia! Me chamo Taylor, Robson Taylor!
Estende a mão direita em direção dela. e ela, em um movimento recíproco, estende sua mão e se apresenta;
_ Bom dia! Me chamo Samara!
(...)