Angústia.

Hank acorda com falta de ar do mesmo pesadelo recorrente. Castiga sua garganta com um cigarro enquanto pensa em como tudo deu errado. Lee o abandonara sem maiores explicações. Não é a primeira vez que se engana e entrega seu coração de bandeja à uma mulher, mas parece que desta vez o baque foi mais intenso. Procura em sua memória nada confiável um motivo razoável. Olha para Trotsky e o olhar displicente do gato nada quer dizer.

Desiste de dizer palavra e tenta não sentir pena de si mesmo. A televisão continua a vender ilusões para a massa alienada e entorpecida pelo alcool e a religião. Tem vontade de atirar o aparelho no asfalto da rua como forma de catarse, porém tem ciência e experiência de que tal atitude desmedida não é bem vista por pessoas que se consideram normais e equilibradas na sociedade doente em que vive.

Imagina uma forma de ganhar dinheiro, mas lhe faltam idéias e inspiração. Poderia ligar, fazer juras de amor e futuro melhor, mas por algum motivo sua consciência o impede como se dissesse: às vezes você simplesmente erra os cálculos e não é capaz de atingir seus objetivos.

Almoça na metade do dia como se fosse uma obrigação e infere sobre o que o destino reserva para ele. Momentos depois depois se lembra que nunca acreditou no mesmo, em como tudo é uma projeção ne nossos desejos e paixões pessoais no outro e no mundo material.

A maioria das histórias de amor são ridiculas e o final é trágico. Resignado, caminha sob nuvens que só não são mais cinzas do que a face de semi-conhecidos que insistem em fingir que não o conhecem em cada esquina que cruza.

Rodrigo Margini
Enviado por Rodrigo Margini em 28/10/2019
Reeditado em 28/10/2019
Código do texto: T6781193
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