Tango dos desejos!

— Antes de mais nada, permita-se! Esta foi a frase dita antes do acordo entre eles.

O ambiente estava preparado minuciosamente com velas, música, cheiro de perfume suave; detalhes espalhados em todos os lugares do quarto. Óbvio que havia cumplicidade em tudo.

Dava para sentir o gosto do passo a passo da construção da confiança que se perpetuou como uma brisa suave na pele dos amantes do mar: constante e suave. A conquista de ambos já tinha sido estabelecida por dias e dias de conversas rápidas na hora do almoço no restaurante onde sempre faziam as refeições da tarde junto com todos do trabalho: um lugar rustico e de ótimo ambiente. Sem falar na comida que dispensa comentários...

O início de tudo? Bem... Aconteceu em uma destas situações difíceis de serem explicadas onde nem ele e nem ela imaginaria que haveria tanta cumplicidade. A esta altura dos acontecimentos, o que importa é que ambos estão entregues aos desejos que fomentaram discretamente durante meses de convivência: pedaços de amores inacabados que teimam em perdurar – vitral de imagens turvas de amores e desilusões, igualmente.

Ambos casados, mas, com desejos rústicos – intensos por vezes – que nunca ousaram sussurrar em sonhos... Escolheram outro meio para desafogar antigas perversões: obscuridades da mente humana. Há quem diga que tudo é efeito de imaginação fértil. Mas, o que se viveu e experienciou foi fruto de uma verdade intensa: construções de experiências que nos fazem humanos, animais instintivos que procuram apenas o ato da conquista, reafirmando-se em cada prazer promovido, em cada sorriso esculpido, em retoques de uma tela de pintura inacabada como é a vida. Autores de obras de arte ou de desarte: armaduras que, nus, se dissipa como o vento que apaga a luz de uma vela que ilumina a esperança de completude. Assim estão os dois: vestidos de desejos inacabados e em busca de suas liberdades.

O dia do primeiro encontro chegou. Ele estava sentado na cadeira do quarto do motel que ela escolheu para viver o que tinha em mente. Suas escolhas femininas de pura extensão daquilo que ela considerava ser ideal viver fora de seu dia a dia comum. Ele assumiria o papel de condutor como ela quis que fosse: mandatário de desejos incompletos. Ela despia-se lentamente com os olhos fitados nos lábios dele: lábios que ela deseja beijar pela primeira vez já que nada acontecera até então. Ele, ainda vestido, apenas conduzia o balé encantado que se transformava ante a seus olhos incrédulos: quanto mais ela se despia, mais ela aparecia e se mostrava em sua essência reprimida. Um tango tomou conta do ambiente.

— Venha até e caminhe lentamente.

Ela estava nua e usava apenas uma perneira sexy que entrelaçava das coxas até o tornozelo: presente que ele deu no momento em que ela entrou no quarto.

A cada passo que ela dava, o tango tocava firme, anunciando os prazeres que sentiria em poucos momentos. Ele, ainda sentado, estende a mão direita: um encontro de toques ao ritmo frenético do som que tomava conta de todo ambiente. Em pé, ele a faz rodopiar lentamente, beijando-a nos dedos inicialmente e, a cada virada de corpo, outro pedaço de pele era saboreado, perpassando braços, antebraços, pescoço e, finalmente, a boca que ele fez questão de apenas passar a língua suavemente... Deixando-a sozinha momentaneamente, ele segue até a mesa e segura uma das cadeira.

— Sente-se!

— Sim.

O som do tango parecia uma valsa harmoniosa que a hipnotizava. Nada em mente. A única coisa que ela desejava era se entregar. Sentada, ela sentia que algo diferente estava acontecendo. Sua pele estava sedenta por ele.

— Feche os olhos.

De olhos fechados, ela sentia que ele estava perto.

— Vou colocar uma venda em teus olhos. Tudo bem?

— Sim.

Já com os olhos vendados, a curiosidade era eminente. O desejo era tanto que ela sentia escorrer entre as pernas o líquido que indicava que estava pronta para ele.

— Estou muito excitada. Estou escorrendo por você!

Sutilmente, ele se aproxima e diz próximo ao ouvido dela:

— Vou beber você! Abra as pernas!

Ela sentia um misto de tesão, receios, medo, desejo de entrega e culpa. Mas, aquele era o confessionário de sua vida inteira. A voz da liberdade se fazia ouvir. Ela sentia a respiração de seu homem entre as pernas. Ele estava perto. Ele estava...

— Sua pele macia é minha.

Ao mesmo tempo que ela ouvia a voz dele, sentia beijos sutis e lentos que subiam e exploravam, ao som do tango dos desejos, os pelos que se arrepiavam a cada toque que ela sentia: um rio se formava entrepernas. Seu homem sabia o que estava fazendo. Ela e ele sabiam dançar bem o ritmo que se formava a cada batida que escutavam da musicalidade do anseio pelo final do início de outros tantos momentos que viveriam. O tango para. Ele para. Outro tango inicia, mas, ele se afastou dela por um momento.

— Cadê você?

— Estou aqui, responde ele no ouvido direito dela.

— Vou amarrar você e quero que você me diga se está apertado ou não.

— Tudo bem. Confio em você.

Sob o ritmo frenético de O Último Tango em Paris, ele inicia um ritual detalhista de voltas e nós no corpo daquela que seria alvo de desejos e sensações intensas. Sentada, incólume e inerte; a cada volta dada, a cada nó finalizado a liberdade tomava conta dela e seu único desejo durante este ritual se intensificava a cada toque das cordas que trazia o sentimento de liberdade que ela tanto desejava.

— Me sinto livre, livre, livre!

Ela quis entregar-se a aquele que seria o responsável pelo amadurecimento de uma nova mulher que conheceria seu corpo de forma diferente e experimentaria sensações, toques, prazer intenso e diferente. Um único pensamento vinha em sua mente:

— Você é uma delícia e quero que...

— Cale-se!

Apenas a música deveria ser ouvida. Era assim que ela queria. Ele estava ali para servi-la como um mordomo que tem em suas mãos o cardápio de tudo que ela queria; um chefe de cozinha que tem as receitas de tudo. Mas... Tudo será feito como ele quer. Ele conduz o tango que ela deseja dançar... Nenhum toque é sentido por ela agora. Ele se afasta dela sutilmente. Com a voz embargada de prazer ela indaga:

— Está vestido ainda?

— Sim, responde ele com a voz distante dela daquela que era alvo de muitas atenções.

Ele se aproxima novamente. Ela o sente perto.

— Estou aqui bem perto de você agora.

Beijando-a nos ombros, ele começa a seguir o ritmo dos desejos de sua parceira que, a partir de agora, não tinha mais noção alguma do que ele iria fazer. Ela apenas descreveu o que queria somente até o momento em que queria ser amarrada. Agora, tudo seria surpresa. Tudo seria, desejo. Tudo seria descoberto como estava a pele nua de quem era o centro de todas as atenções dele. Enquanto ele beijava a pele dela, lentamente, passava gelo nos mamilos enrijecidos de desejo intenso. A boca quente dele passeava freneticamente pelos ombros dela, parando, por vezes, na nuca que, em breve, seria bem mais explorada... Suas mãos firmes sabiam bem onde e como tocar no ritmo certo do tango que ambos escutavam... Impossível parar! Ela se contorcia a cada toque gelado das mãos que acariciavam seu corpo, ao mesmo tempo que se deliciava com os lábios quentes de seu parceiro. O tango não parava de tocar e apenas o ritmo do desejo era escutado nos quatro quantos do quarto de motel. Ele se posiciona bem na frente dela. Beija a pele do rosto dela como quem come comida quente. Ele ajoelha-se e traz o balde de gelo mais para perto de si. Posiciona-se entre as pernas dela e diz:

— Antes de mais nada, permita-se!

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 27/09/2019
Reeditado em 28/09/2019
Código do texto: T6755660
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