A ÚLTIMA CARTA
POR JOEL MARINHO
O velho carteiro descia a rua a cada quinze dias, Isaura, ainda adolescente esperava sentada para receber sua cartinha de amor que vinha lacrada com aquele selo postal e junto aos escritos vários desenhos de flores e corações, era de fato uma alegria enorme receber aquelas fofuras quinzenalmente.
Isaura conheceu Luiz em uma única visita que fez com seus pais a cidade de Itapindava, cerca de 500 quilômetros da vila onde morava.
Foi amor à primeira vista, aliás, foi a primeira e última vista, trocaram meia dúzia de palavras, nenhum beijo, o endereço e muitas e muitas cartinhas apaixonadas durante exatos dois anos.
Ela ainda guarda com muito carinho todas as cartas/relíquias em uma gaveta de sua casa aquelas recordações que tanto o fez suspirar fundo e fazer planos futuro, mas a vida as vezes nos prega peças tão sofrível como foi o caso dela. A modernidade engoliu com força e sucumbiu aquele amor.
Quando recebeu aquela carta falando de amor profundo e um pedido de noivado ficou maravilhada, então escreveu com carinho a resposta dando um sinal positivo, porém o velho carteiro Carlos nunca mais apareceu por ali inviabilizando que ela mandasse o aceite de noivado, dessa forma Isaura também nunca mais recebeu novas notícias daquele amor de terras distantes.
O serviço de correios acabou sem aviso prévio, surgiram novas modernidades como os serviços de telefonia, mas pela falta de recursos dos pais de Isaura nunca puderam comprar essas mordomias modernas e assim a moça perdeu contato com seu amado.
Casou-se depois com um rapaz local, mas sinceramente nunca esqueceu seu primeiro amor, de certa forma platônico, por isso guardou com muito carinho aquela que foi literalmente a sua última carta recebida ao lado daquela a qual escrevera e jamais enviada.
Amarelada pelo tempo e trancada na velha gaveta do guarda roupas ao menos uma vez por semana Isaura as visita para ler e dessa forma mantém suas relíquias de amor protegidas das traças traiçoeiras que insistem em apagar aquela linda e triste história de amor mantido ainda vivo através daqueles antigos registros.