NAO ESPERE PRA LEVAR FLORES

Sabe aqueles dias que voce viaja sem sair do lugar?

Eu faço isto com certa frequência, e ainda com mais facilidade se ouço as experiências de alguém...

Estava eu sentada no terminal urbano, quando um senhor que aparentava estar na casa dos 70 anos sentou-se ao meu lado. E, confesso não sei como começou nossa conversa mas, ele me falou de sua família, seus filhos e principalmente de suas escolhas na vida.

Me contou que casou-se duas vezes, sendo que do primeiro casamento teve quatro filhos e no segundo tem três filhos.

Me explicou que seu primeiro relacionamento não fora fácil, mas que, antes de romper as barreiras, procurou se certificar de deixar todos encaminhados.

Mesmo assim, perdeu contato com os filhos, que magoados com a situação, tomaram as dores da mãe e o condenaram ao exílio de seu convívio.

Eu, sempre muito crítica e curiosa, lhe perguntei se havia cumprido com suas obrigações de pai, após a separação.

Ele, muito humilde, me contou que todas as obrigações financeiras ele cumprira mas, talvez tivesse falhado nas de relacionamento.

Relatou que, mesmo seus filhos já sendo adultos, tratavam sua nova companheira por substantivos pejorativos e isto o magoava, e, confessa até ter se afastado um pouco dos filhos para não forçar uma situação.

Hoje, com a chegada da idade e também de alguns problemas de saúde, ele sente falta deste convívio mas, o abismo que se criou entre ele e os filhos lhe parece instransponível...

Foi então que comecei a viajar, tentando me colocar na posição deste senhor...

Nós pais, quando recebemos a dadiva ser ter um filho não recebemos juntos um manual de como agir ou como melhor educar ... ou ainda qual melhor forma de amar....

Nós simplesmente, nós entregamos a esta aventura, que é uma lição, uma benção e uma demonstração de amor constante sem nos dizer a melhor fórmula de combinar estes fatores...

E, em seguida tentei, me colocar no lugar da mãe, que, ficou sem seu companheiro tendo como apoio os filhos.

Às vezes, não nos damos conta mas transferimos aos filhos nossa dor, sem ter a força ou auto crítica, de perceber que um relacionamento é feito de duas pessoas.

E, se não deu certo a responsabilidade é dos dois, portanto, não temos o direito de destilar nossa dor contaminando o relacionamento de nossos filhos com nosso excompanheiro que nunca será ex-pai

E, como não podia deixar de fazer, tentei me colocar no lugar de filha. Buscando em minha lembranças, todas as emoções e frustrações que senti ao não entender as escolhas e atitudes de meus pais.

E, foi neste papel, que entendi que não temos o direito de julgar ninguém. Pois cada um de nós faz sua escolha tentando acertar.

Nas relações, de família, todos somos diferentes, todos precisamos tomar decisões...

uma dia como filhos e depois como pais...

Cada um de nós quando escolhe um caminho, o faz acreditando ser o melhor...

insano seria pensar que erramos pelo simples prazer de querer...

Julgar... condenar...ignorar um amor de pai ou mãe... não nos acrescenta em nada...

Pois, estas pessoas que maltratamos hoje, são as responsáveis por termos tido a oportunidade de viver, amar, formar nossa própria família...

Foi graças ao amor destes dois seres imperfeitos que conseguimos ser quem somos...

Com certeza, somos tão imperfeitos quanto eles ... mas tentamos e acreditamos estar fazendo nosso melhor....

Enfim, não espere para levar flores aos seus pais... pois a maior flor que que podes lhes oferecer é sua maturidade em aceitar suas imperfeições…seu respeito... e principalmente seu amor....

Cigana Ro
Enviado por Cigana Ro em 16/09/2019
Código do texto: T6746676
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