A procura pela Borboleta
Desde que recebeu aquele beijo, naquele final de festa, a vida de Anderson simplesmente se transformou. Ele não conseguia mais se alimentar direito, não conseguia mais fazer atividades que até então eram corriqueiras para ele e o mais importante: não conseguia mais jogar como jogava anteriormente.
Anderson vivia do futebol. O dono do time assinava a sua carteira na sua empresa e pagava para ele um salário na média de um profissional de interior para jogar pelo time. Detalhe é que ele tinha carteira assinada, mas não precisava aparecer no trabalho. Futebol era mais que uma diversão do final de semana.
Depois do terceiro jogo sem conseguir jogar absolutamente nada, de parecer que estava amarrado em campo e ter fingido lesão no primeiro e ser substituído no primeiro tempo nos outros dois, ele começou a sentir que talvez o seu trabalho estivesse em risco, foi então, que ele decidiu: iria atrás de Mariana.
Foi na casa que ele sabia ser dela e lá falou novamente com o padastro, mas agora com um pouco mais de paciência e calma e conseguiu arrancar do homem o local para onde ela havia viajado e então não teve dúvidas, ele iria atrás dela.
Na manhã seguinte pegou o carro e fez os mais de trezentos quilômetros que separavam ele daquela mulher misteriosa que com um beijo lhe roubou o seu futebol.
Chegando no local correu para o endereço que tinha anotado em um papel que havia recebido do padrasto. Andou pela cidade, bem maior que a sua, até chegar no endereço. Era um condomínio com vários prédios de apartamento com fachadas idênticas.
Falou com o porteiro que lhe disse que ela não estava e que ele não poderia entrar. Voltou para o carro e ficou pensando no que estava fazendo.
Era um camisa 10, um homem que não corria atrás de mulheres, ainda mais de uma mulher que era publicamente sem graça e ainda mais por causa de um beijo. Então porque ele estava ali? Essa era a pergunta que não saia da sua cabeça.
Ele não sabia direito o que ia fazer, mas tinha a impressão que se desse mais um beijo nela conseguiria recuperar o seu futebol perdido e voltaria a dar lançamentos de 30 metros, bater faltas nas gavetas e distribuir dribles como papai-noel distribuí doces.
O tempo demorava para passar dentro do carro, no calor do mês de fevereiro, mas ele era persistente. Algumas vezes, saiu do veículo foi até a rua, espichou as pernas e depois voltou. Não sairia dali por nada. Ele queria encontrá-la quando ela chegasse em casa.
Era quase final da tarde quando ela desceu de um carro e caminhou em direção ao portão carregando alguns livros na mão e uma bolsa pendurada no ombro. Ele saiu do carro e foi ao encontro dela. Estava sorrindo para ela que lhe olhava assustada:
“A gente precisa conversar” ele disse antes que ela pudesse dizer alguma coisa. “ Eu vim só para falar com você”, ele continuou.
Ela não disse nada, apenas caminhou para mais perto da portaria, onde o porteiro olhava curioso para cena. “Você não deveria ter vindo aqui! O que você quer?” ela largou de imediato.
“O beijo que você me deu, desde aquele dia eu não consigo fazer mais nada, eu nem jogar consigo”. Ele falava com uma voz chorosa. “Você está louco, vá embora!” Ela disse e entrou portão adentro. Ele até pensou em entrar atrás, mas sua passagem foi barrada pelo porteiro. “Podemos apenas conversar?” ele gritou enquanto ela já ia sumindo. “Não. Vá para casa. É melhor assim”.
Ele ficou sem entender o que tinha acontecido. Ele não queria ir para casa. Ele queria conversar com ela, ter quem sabe, algum motivo que tirasse de si a maldição que ele recebeu naquela beijo em uma noite de lua cheia.
Anderson dirigiu, parou em um bar entrou e ficou bebendo e pensando na vida. Não tardou a tomar a decisão que o melhor lugar para curar a sua dor de amor seria nos braços da esbórnia. Nem imaginava a surpresa que ainda teria.
Encerro na próxima semana...