Separando os Trecos
Paulo e Bia estavam separando seus trecos, o acervo dos seus "guardados". Era, por assi dizer, uma celebração do adeus. Tinham resolvido romper a relação. Não chegaram ao estágio dos insultos, pularam essa fase, nem altearam a voz. Resolveram por consenso que nao dava mais para continuar. Simples assim. Um respeitava o outro. Mais: eles se amavam, mas...
Tem mais, sabiam que mesmo se separando jamais um esqueceria o outro. Um grande amor não acaba nem com a separação. Ele continua vivo e bulindo. Mas as divergências e o gênio forte dos dosis resultou na decisão da separação dos trecos.
Eram pessoas sensíveis e emotivas. Enquanto estava separando os guardados, a cada objeto faziam uma referência, o disco do Chico Buarque era dela, o de Bethânia dele, o livro de Neruda dela, o de Vinicius dele.... Então chegou a vez dos retratos. Os que estavam juntos, alguns naquele climão, como saber que era o proprietário da foto? Com os olhos marejando ela ainda conseguiu rir e propôs: - Vamos tirar no ímpar ou par? Ele concordou mas antes começaram a rememorar a história das fotos, e foram ficando próximos no divã, de repente riam e choravam e aí, poke!, se abraçaram, se beijaram e rolaram no tapete.Desistiram da separação. Depois da festa da desistência começaram rindo a rearrumar os trecos. Inté.