MICROCONTO - Inaugurações
A estreia dos sentimentos no mundo aconteceu mas eu não estava expectando-a. Eu já disse mais de mil vezes que não tenho como responder à indagação acerca do nascimento dos movimentos nevrálgicos do corpo e da alma.
Quem de nós, primeiro sentiu o amor atravessar o coração feito um raio que marca antes de dissipar-se? Quem foi o primeiro de nós a emitir o grito de socorro diante dos ataques dos desalmados?
A quem o medo buscou primeiro e impregnou-se feito cera quente? Quem foi o primeiro alvejado pelo ódio e que, perdido em si mesmo, ostentou a ação imperativa de odiar?
Eu não inventei o fogo mas ao vê-lo impondo-se sobre mim buscando devorar-me tive que aprender a domá-lo.
Eu não criei o vento mas seus sussurros são reais e confesso que nem sempre consigo silenciá-los.
Eu não inventei o amor mas este, apossando-se de mim, inviabiliza minhas certezas, quebra as minhas fortalezas e revela ao mundo que o meu avesso é o que de fato sou.
Não inaugurei os sentimentos do mundo mas é com eles que componho o poema da existência onde sofro seu ardor, sua dor, seu odor...
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