O PERFUME DA DESILUSÃO

 

   A janela do quarto entreaberta deixou entrar um vento acariciante e agradável, junto com ele veio um perfume bastante conhecido de Joana, que repousava em uma espaçosa cama. O luxo era demasiadamente uma evidência, todo conforto lhe era proporcionado e nada lhe faltava, aquele era seu mundo condicionado a quatro paredes, ali permanecia todo o seu tempo, exceto quando precisava se deslocar para o hospital ou alguma clínica para exames de rotina. O perfume que ela sentia entrar nos aposentos não a incomodava, mas em certos momentos gostaria que não invadisse aquele seu espaço de restabelecimento que já durava vários anos, nem mais contava com uma possível saída desse estágio de uma doença que a afligia desde a sua adolescência, entregara a Deus todos os seus planos de futuro por não mais ter condições de pô-los em prática, sabia da impossibilidade que vislumbrava. Esse cheiro característico a encantou por algum tempo, era o perfume que Sérgio usava no seu dia a dia e que era associado ao relacionamento entre ambos. Amava esse homem e via nele a continuidade de sua vida, o amor era recíproco e tinha a anuência de todos os membros da família e do meio social.

   Joana respirou profundamente, olhou a janela, viu o céu azul com algumas nuvens, em seguida inspirou o ar que a deixava pensativa, o ar que continha aquele perfume conhecido que pertencia ao seu grande amor. Era um cheiro que insistia em alí permanecer como se o corpo que o exalava também alí estivesse. Ela sabia que não era impressão, sentia perfeitamente entrarem pelas suas narinas aquela fragrância tão desejada, gostava de sentí-la na maioria das vezes em que se deixava ser levada pelos pensamentos em Sérgio, um certo prazer tomava conta dela. Era raríssimo chorar pela perda do homem que prometera desposá-la, primeiro porque viu os anos se passarem e ter com isso se conformado, depois porque compreendeu que não valia mais a pena amar aquele que a desprezara no momento em que mais precisava dele.

   O passado sempre voltava para Joana, os anos se passaram mas a lembrança dele era viva, parecia que o destino queria pô-la a prova, talvez querendo dizer que ela se enganara ao se aproximar de Sérgio, aparentemente um homem culto e desejoso de querer fazê-la feliz. Não fosse aquela que hoje é sua esposa talvez as coisas tivessem sido diferente, se essa mulher não tivesse se atravessado no seu caminho e tomado o seu homem, hoje sua legítima esposa seria ela, mas o destino assim quiz e ele, assim como ela, também padece em um leito, vítima de uma doença. As coisas que acontecem em nossas vidas muitas vezes são difíceis de serem explicadas e cada um vive da maneira que foi determinada por Deus.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 05/08/2019
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