SÁBADOS EM TI

Sábados. Rastejo por eles, amo-te. Minhas incongruências deixam-me mudo e atado nas paixões amestradas. Amor é um conglomerado de emoções, paixão é um emaranhado de sanções. À distância possuo-te. Nos meus intramedos escondo-me do teu fascínio distante, tua boca sussurrando-me desejos, tuas mãos aprisionando meus impulsos sensuais, sou-te. À noite, noites suadas na cama, percorrendo-te num frêmito vazio, teu cheiro que nunca senti cavalgando meus poros, eu me orgasmando febril, trêmulo, açoito a escuridão com teu nome em luz neon. Domingos. Sisudez das pessoas nas ruas, nas igrejas, nas praças. O ódio dos desvalidos batendo-me à porta, faço-me um eremita fujão, encaverno-me nas páginas de um livro, nas linhas melódicas de um blues, de um jazz, de uma canção de antigamente, quando antigamente eu não te amava. Anseio-te. Na vastidão do silêncio toco-te, bebo-te, abraço-te, vinho e embriaguez de um coquetel lânguido, teu corpo adocicado na mesa do banquete entre uvas e especiarias orientais. Sugo tua língua, teus olhos varam-me e me amam e me atam à cama com tuas pernas bailarinas entrecruzadas em mim. Medo enclausurado de encarar céus e sóis e nuvens bruxuleantes. Amarro-te. Barbantes retesados e atados a mil mãos colam-te a mim. Teu fôlego o aspiro com sucção de monstro de um olho só, ciclope no cio e sugador das tuas vestes jogadas no chão em meio aos desalinhos dos nossos cabelos fartos de água das fontes das nossas libidos.

Tento bastar-me nas contraposições em que nos encontramos, a tentar definirmo-nos. Eu lenha tu fogo atiçador dos meus mais intrínsecos desejos, tua boca e teus olhos a me devorarem num jantar à luz de nossos corpos e copos afrodisíacos. Pleno-me. Nado rios e riachos virgens nas braçadas dos movimentos do teu corpo ensandecido de prazer, olhamo-nos nas barafundas de nós mesmos a vasculhar gestos que nos atem. Amo-te, repito. Nos quilômetros e milhas de nós dois, mares e marés que nos abocanham a possibilidade de aproximação, amo-te. Tenho-te. Nas palavras que o vento e a brisa levam-te em prosas nas quais me mergulho com a mente a buscar te contaminar com meus apelos desesperados.

Pejo-me. Farto-te de meus orgasmos líricos nas estrofes que escreves no meu corpo, pergaminho de tua verve salomônica em cantares de coro divino. És-me. Definho se demoro em ler-te, em decifrar tuas metáforas metastáticas, apinhando-me de delírios e festas e sofreguidão. Quando a mirar-te em sonhos, molho-te com minha semente fértil, as cores da canção das manhãs dos nossos motes arteiros. Csárdás. Enquanto dançamos, nos lanhamos em odores agridoces e tu desmaias na cama e me abraças com teus braços felpudos. Dou-me-te.

Sonhamos com mundos que jamais os vivenciaremos, moro-te em grotões com algibes fartos, aprisiono-te em celas que impeçam teus cabelos de te libertarem. Vejo-te flor túmida no jardim dos quero-queros voando cílios em profusão na minha cegueira por ti. Quando pousar, quero cobrir-te de beijos, a invadir tua boca com meus sussurros de desespero e minhas blandícias em teus poros eriçados na terra que nunca foi pisada. Quero lamber tuas lágrimas e pejá-las de estrelas cadentes no teu corpo porto de minhas embarcações. Quis aprofundar-me em mim e afundei-me em ti, exacerbar-me de ti e apoucar-me de minhas libidos. Impossível. No fim, quando sair de ti latejando cansaço e aço e vislumbrar teus seios bebendo meu sugo, serei sempre sábado, enfeitiçado.

Matuto Versejador
Enviado por Matuto Versejador em 02/08/2019
Código do texto: T6710866
Classificação de conteúdo: seguro