O Dançarino das sombras.

A pequena cidade interiorana de Rio das Pedras era muito conhecida por suas belíssimas praças com seus jardins esplendorosos e flores coloridas espalhadas por toda a cidade. Uma disponível variedade de espécies de plantas, pássaros das mais belas cores e dos mais harmoniosos cânticos.

No geral, quase todas as praças do interior mineiro tem uma grande e bonita igreja. Rio das Pedras não foge à regra, em todas as praças de Rio das Pedras há uma suntuosa igreja, no estilo barroco, com sinos que são tocados de hora em hora. Em toda a cidade a bela e deslumbrante arquitetura do século passado prende a atenção de seus muitos visitantes. A economia de Rio das pedras gira em torno do turismo e da agropecuária, durante todo o ano a cidade tem visitantes do Brasil inteiro e até fora dele.

Figurava as primeiras horas de um calmo domingo do mês de maio, os raios do sol nasciam preguiçosos por trás das árvores do morro dos milagres - o mais famoso da cidade - aos poucos as campinas verdejantes molhadas pelo sereno da noite foram secando à medida que o astro do dia escalava o azul celeste. À medida que ganhava o céu os raios iam ficando mais intensos. Os pássaros davam um espetáculo à parte cantando harmoniosamente, todos empoleirados nos fios de energia ou nos telhados das casas. Qual poeta não se encantaria com tal cena de imensurável beleza e perfeição proporcionada pelas mãe natureza.

No terceiro andar do prédio do seminário legionários de Cristo, a segunda janela da esquerda para a direita, era do quarto do recém-ordenado padre, Giovanni Delariça, Filho de camponeses locais, o jovem Delariça decidiu pelo sacerdócio quando tinha completado vinte anos de idade. A sua vocação veio a florescer de uma forma incomum.

A princípio, o Jovem Giovani tencionava pela carreira artística, sonhava em ter uma família e filhos, ele tinha uma namorada e estavam noivos, tudo corria bem, até o dia em que o coração do jovem apaixonado foi despedaçado pela traição da noiva com o melhor amigo. O amor que o jovem Delariça devotava pela noiva era puro e sincero, ele depositou todas as emoções naquele amor, todos os seus sonhos com aquela pessoa, e, de repente, tudo estava acabado. O jovem entrou em uma profunda depressão, foi justamente um dos padres do seminário legionários de Cristo que o ajudou, com muitas visitas e conversas. O jovem foi vencendo a depressão, e com ânimo renovado, viu no sacerdócio o caminho de sua redenção, daquele dia em diante entrou para o seminário para tornar-se padre, ele nunca mais viu a sua antiga noiva, que segundo o que se dizia na cidade, tinha ficado grávida e havia mudado para o norte do país.

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Passaram-se os anos, agora aos trinta, sacerdote formado, Giovanni celebraria a primeira missa na principal igreja da cidade, além disso, ele seria o novo pároco de Rio das Pedras, motivo de muita alegria da família do jovem padre e sua família. Delariça era um moço de uma beleza singular, alto e forte, com olhos verdes e cabelos negros encaracolados, levemente caídos por sobre os olhos, o padre arrancava suspiros das mulheres da cidade. Em sua primeira missa, faltou lugares na igreja, muitas pessoas ficaram de pé, de tantas que compareceram a celebração, a grande maioria eram de mulheres.

O coração do jovem padre era unicamente para o sacerdócio, mas como todo coração humano, ele também tinha as suas fraquezas, e as mulheres de Rio das Pedras o provocava de todas as formas que se possa imaginar. Com vestes minúsculas e decotes que avolumavam os seios, até cartas com pedidos inusitados de casamento e fotos indecentes ele recebeu. Tamanha era a ousadia das mulheres. O padre encarava tudo isso como um desafio a sua vocação, e reagia às provocações com bom humor e naturalidade, esse tipo de 'tentação' por assim dizer, não parecia surtir tanto efeito sobre ele, mas tudo estava prestes a mudar. O amor é misterioso e imprevisível, surge quando menos se espera, de onde menos se imagina, assim aconteceu com o jovem sacerdote Delariça.

Uma nova família havia mudado para Rio das Pedras. Era a família do novo pastor da igreja batista, o seu nome era Jonas Alcântara, junto com a esposa e com as filhas, Anne de dezessete anos, e a pequena Anita de dez, essa nova família tinha sua residência na mesma praça onde ficava a principal catedral da cidade.

Era à tarde de um chuvoso sábado quando pela primeira vez o padre Delariça encontrou com a jovem Anne, na fila do supermercado. A moça era de uma beleza invejável, o corpo de uma perfeição magnífica, os cabelos longos negros lisos chegando na altura da cintura chamava a atenção de qualquer um, os olhos azuis intensos hipnotizava à quem olhasse.

Foi em uma fila de supermercado que nasceu aquela diferente amizade, o padre era simpático e atencioso com todos, isso chamou a atenção da jovem, e, por sua vez a jovem com sua beleza estonteante chamou a atenção do padre, de modo imperceptível o coração de Delariça trazia a sua memória antigos sentimentos que a muito estavam adormecidos. Todas as tardes o padre ia ao mesmo supermercado comprar pães - um costume seu - mas agora com a desculpa do seu trapaceiro coração para encontrar a nova amiga, às vezes à encontrava, outras não, mesmo que ele não precisasse de nada, sempre inventava algo só para ir ao supermercado, da mesma maneira aconteceu com a jovem Anne, ninguém imaginaria que aquela simples amizade tencionava para um amor avassalador.

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Tempos depois, mesmo descobrindo que a moça era filha do novo pastor da cidade, o padre não exitou em continuar a amizade. Como o padre leciona filosofia no colégio da cidade, passou a encontrar com Anne mais vezes, que agora, tornou-se a sua aluna mais aplicada. A face angelical, o jeito inocente, foi aos poucos conquistando o coração do jovem padre, que, naquela altura já começava a questionar sua vocação, os conflitos internos começaram a ficar cada vez mais intensos e fora do seu controle. Dia após dia, a cada novo encontro, a cada novo olhar da moça para com ele, e dele para com ela, algo de diferente começava a nascer no âmago do coração, assim como os raios do sol no decurso do dia, àquele sentimento ganhava força e intensidade. Como era de se esperar, a jovem Anne, agora completamente encantada por Delariça, decidiu mesmo contrariando todas os contrapontos sociais, dogmas, preconceitos e opiniões, decidiu conquistar o coração do padre de uma vez por todas. Giovane por sua vez, chorava todas as noites ao pé do altar da igreja em rezas intermináveis, tentando inutilmente lutar contra aquele sentimento tão forte e avassalador. O proibido o seduzia, mas o proibido tinha roubado o seu coração, que vivenciava os piores momentos de sua vida eclesiástica. Ele estava apaixonado, mas não admitia para si mesmo que estava apaixonado pela filha adolescente do pastor da cidade, era difícil ignorar aquele sentimento que o tomou por completo. Agora ele teria que decidir entre o amor carnal e a cruz, se lutaria ou se sucumbiria ao sentimentos do coração.

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Passados alguns dias, o sol despertou sobre as copas das árvores em mais uma adorável manhã de segunda-feira, ao redor da catedral de Rio das pedras transeuntes apressados para o trabalho. Os raios primeiros do sol penetram pelo buraco da janela do quarto do padre Delariça, a frouxa luz sobre os seus olhos o fez despertar, eram quase oito horas da manhã. Ao olhar no relógio na cômoda ao lado, levou um tremendo susto que quase o fez cair. O padre teve uma noite horrível de sono, demorou a dormir e o pouco que dormiu sonhou com bela Anne, sonho esse que o deixou muito perturbado. O padre Delariça tinha aula às nove horas da manhã, e justamente na classe de Anne. Há princípio ele muito relutou em ir, mas algo dentro dele foi mais forte, ele arrumou-se rapidamente, tomou o café correndo e foi para a escola, chegou em cima do horário, foi direto para a classe. De uma forma inevitável os seus olhos se direcionaram automaticamente para carteira onde Anne se sentava, ela não estava lá, "teria faltado" pensou o padre, o seu semblante mudou, de um aspecto apreensivo para um de tristeza, os alunos apenas observavam os estranhos comportamentos do padre.

- Tudo bem com o senhor professor?

Perguntou uma das alunas.

- Sim Clarice… Está tudo bem, não precisa se preocupar, e Aliás, a Anne não veio hoje?

Ele mal havia terminado de falar e a bela jovem estava parada em frente à porta da classe.

- Posso entrar professor? Perdoe-me pelo atraso, é que eu perdi o ônibus.

Ao virar o rosto para ver quem era, Delariça assustou-se, era Anne, o seu olhar se perdeu na beleza da jovem, por alguns segundos ele não disse nada, ficou completamente mudo.

- Posso entrar professor?

Perguntou a jovem novamente.

- Sim… Pode… Mais é claro que pode Anne, perdoe-me pela distração, estou com uma dor de cabeça horrível.

Anne estava mais bonita do que nunca, os cabelos soltos na altura da cintura, o uniforme apertado no corpo escultural, dando destaque às suas belas curvas, seios arredondados, simétricos, coxas grossas, cintura fina, bunda volumosa, tudo deixou Delariça enlouquecido. Durante o decurso da aula o padre não conseguia parar de olhar para a sua aluna, que, propositalmente sentou-se um pouco mais afastada de sua mesa, de forma que da posição em que ele estava era possível ver as pernas tão bem torneadas. Aquela visão enlouquecia Delariça, que sentiu o seu sangue ferver nas veias, o rosto ficou todo vermelho, Anne percebendo a aflição e a agonia do padre o provocava ainda mais, aqueles cinquenta minutos de aula foram por demais agonizantes para Delariça.

Terminada a aula, o padre sequer despediu-se dos alunos, saiu às pressas direto para casa. Já não era mais possível esconder de si mesmo que também estava apaixonado, perdidamente apaixonado, essa era uma situação em que ele não sabia o que fazer, no seminário não ensinaram a lidar com o sentimento chamado amor.

Terminado a aula voltou correndo para casa. Deitou-se no sofá, adormeceu.

" Lembranças do Sonho".

"Deitada em finos lençóis, lá estava ela, expondo aos seus olhos do sacerdote toda a sua beleza, a pele clara e macia, o perfume suave tomando o ambiente enchendo-o de delírios e desejos. As mãos suadas do padre tão perto de tocar os seios perfeitamente arredondados e desnudos da jovem, mamilos duros, as mãos ao alcance de suas magníficas curvas. Diante de seus olhos ela terminou de se despir, quanta graça em cada movimento, quanto encanto e ternura, os olhos se perdiam a cada novo movimento, a cada peça de roupa que caia ao chão, até que ficou completamente nua em sua frente, a fina penugem cobrindo a intimidade, movimentos excitantes, uma dança sensual na sombra da noite, eram dois dançarinos das sombras."

O padre despertou com o som de uma buzina na rua, estava molhado de suor, a coisa estava fora do controle, os seus sentimentos eram confusos e cheios de conflitos, mil coisas ruins passavam por sua cabeça. A que mais o atormentava era o fato de que alguém viesse a descobrir que ele, um padre, estava perdidamente apaixonado por uma adolescente filha de um pastor evangélico. O que as pessoas diriam? O que os pais da jovem diria?

Delariça não tinha mais força para fazer suas orações, o semblante estava caído, pálido, parecia mais um doente. Naquela noite não teria missa, o padre tomou um demorado banho e dirigiu-se para a praça em frente à igreja na tentativa falha de esfriar a cabeça e reorganizar os seus pensamentos. 'O que ele menos esperava foi o que justamente aconteceu', no momento em que ele sentou-se em um dos bancos mais afastados da praça, não demorou nada e lá veio ela, resplandecente como nunca, com um vestido vermelho bem curto e grudado ao corpo, explorando cada centímetro de suas perfeitas e provocantes curvas. O olhar de Delariça mais uma vez se perdeu na beleza da moça, sua memória trouxe a mente cada detalhe do sonho que ainda há pouco teve, ele balbuciou para si mesmo baixinho, “ somos dançarinos das sombras."

- Olá professor, tudo bem, posso me sentar aqui com o senhor?

- Claro que sim Anne, por favor, sente-se.

Os dois ficaram ali conversando, o tempo passou que eles nem perceberam, quando deram conta das horas, já era tarde, temendo que a moça fosse para a casa sozinha, Delariça ofereceu sua companhia, Anne aceitou. Os dois foram juntos, a passos curtos, por um breve momento Delariça esqueceu-se de seu sacerdócio, de seus fiéis, de sua imagem de padre, de seus compromissos eclesiásticos, da igreja, de tudo. Era apenas o homem Giovani Delariça que estava ali, a figura eclesiástica desmanchou-se de seus pensamentos, as lembranças do passado retornou à tona com uma força destruidora, ao caminhar lado a lado com a moça, as suas mãos se roçaram, e de repente num movimento involuntário e quase inesperado, estavam os dois de mão dadas, poucos minutos depois, já não suportando mais o fogo da paixão que o queimava, veio o primeiro e ensandecido beijo, e o segundo, o terceiro, e descontroladamente todos os outros.

A consequência do veneno da paixão desenfreada aconteceu logo depois, precisamente meia hora depois, o santo leito do padre Delariça foi o palco de sua maior loucura e 'pecado' de amor inconsequente.

Lá estava ela, como no sonho, as vestes vermelhas de Anne combinavam com a sua lingerie quase transparente, Delariça deitou-se na cama espaçosa de seu quarto, quase nu, ela aproximou-se dele lentamente, fazendo-o arrepiar-se por inteiro, começou beijando o pescoço, fazendo-o queimar-se em chamas infernais. Os beijos da jovem Anne percorria o corpo do padre de baixo para cima, ele gemia enquanto ela arrancava a sua peça íntima, Delariça delirava contorcendo-se de prazer. Devolvendo o favor, ele fez a mesma operação, começando pelo pescoço da moça e descendo lentamente até a curva dos seios, rodeando com os lábios os mamilos, fazendo-a se contorcer inteira, ousado ele desceu um pouco mais, atinge o umbigo, e da mesma maneira arrancou com os dentes a sua lingerie, buscando o proibido e o oculto, sugando a seiva da sua intimidade, úmida, latejando de prazer. Ela apenas o olhava entre gemidos intermináveis e urros, eram dois dançarinos das sombras. A lua estava enorme e a noite muito clara, a frouxa luz do luar era refletida na pele suada da moça, enquanto a valsa dos lábios continuava indo e vindo, descendo e subindo, assim seguiu-se aquela noite, Delariça naquele momento renunciava seu ministério e se entregava ao amor proibido, restava agora o outro dia e as consequências de seu ato de loucura.

O amor é assim, Louco, insano, traiçoeiro e de prazeres infernais. E as consequências do amor proibido na vida de Delariça veio um mês depois, a moça trouxe um resultado de exame, e nele, o inesperado aconteceu. A moça estava grávida, "e agora, meu Deus, o que vou fazer?" Pensou Delariça. "É o fim?"

Dias depois, Delariça não compareceu a escola, nem ao mercado, nem celebrou missa, preocupados os seus fiéis o procuraram em toda a cidade sem sucesso, até que alguém o encontrou no porão da igreja, pendurado em uma viga de madeira, tenra corda no pescoço, trêmula teia que ainda balançava…

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 28/07/2019
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