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Há quem diga que só se ama verdadeiramente uma vez na vida. De fato, o amor é um sentimento que nunca morre já que pode até ficar adormecido por um tempo e os seres envolvidos se aventurarem por outros caminhos, viverem outras paixões neste ínterim, mas basta uma pequena fagulha para se reviver o sentimento outrora sentido.
Em se tratando de amor, não fará diferença se ele é sentido por homem ou por mulher, pois nosso primeiro sentir será sempre inesquecível deixando marcas indeléveis, que nada é capaz de apagar. Michela e Junior, embora ainda não soubessem, estavam prestes a reacender as chamas do amor que já tinham vivenciado.
Na sala de aula, o robusto professor Ladislau fazia as últimas dissertações sobre a anatomia humana que, na realidade, fora a matéria que preenchera toda a aula daquele dia. Por todo o período da manhã e parte da tarde, ele havia explanado sobre a parte teórica do corpo humano, mas o ponto alto foi quando propôs aos alunos que assistissem à necropsia de um indigente. Isto foi demais para alguns alunos e cinco deles passaram mal de fato, precisando sair para vomitar quando presenciaram o corte da abertura da caixa torácica do indivíduo.
Finalmente, quando o professor disse que a turma estava dispensada, Junior saiu correndo rumo à portaria desviando-se de tudo e de todos. Ao sair, viu que o motorista da família já o estava aguardando e que, dois veículos à frente, Michela estava recostada no porta-malas de sua Mercedes conversível. Ele foi falar com Alfredo:
- Boa tarde, Alfredo – disse Junior aproximando-se mais do motorista – preciso que você me faça um favor.
- Pode falar Junior, o que você quer?
- Eu não vou com você para casa agora, vou sair com a minha ex- namorada... bom, ela está passando por uns problemas...
- Rapaz, - cortou o motorista - você não precisa me explicar nada, vá se divertir. Onde devo ir buscar você e a que horas?
- Não se preocupe, ela me deixará em casa. Diga ao pai que tive que sair e que estou com Michela Dolce.
- Tudo bem, Junior, mas ligue para seu pai se for chegar mais tarde, você sabe como o Dr. Fernandes fica preocupado quando vocês demoram.
- Ok, eu ligarei. ‘Brigado’, Rodolfo.
Junior foi em direção ao carro de Michela e quando ele estava a certa distância, ela lhe arremessou as chaves do carro.
- Você dirige – disse ela já contornando o veículo e indo para o lado do passageiro.
Rodolfo buzinou ao passar por eles. Junior acenou e jogou a mochila no banco de trás. Já sentado ao volante, ele colocou o cinto e introduzindo a chave na ignição, perguntou:
- Para onde vamos?
-Para onde você quiser me levar! – esboçando um sorriso enigmático - Hoje estou em suas mãos.
Ele achou estranha aquela resposta, mas Michela parecia ter certeza do que esperava da vida.
- Eu pensei em um lugar calmo, onde pudéssemos respirar ar puro e conversar... Você tem alguma sugestão?
- Lugar calmo... – ponderou Michela - que tal o Parque do Ibirapuera?
- Perfeito! Vamos ao Ibirapuera!
Em se tratando de amor, não fará diferença se ele é sentido por homem ou por mulher, pois nosso primeiro sentir será sempre inesquecível deixando marcas indeléveis, que nada é capaz de apagar. Michela e Junior, embora ainda não soubessem, estavam prestes a reacender as chamas do amor que já tinham vivenciado.
Na sala de aula, o robusto professor Ladislau fazia as últimas dissertações sobre a anatomia humana que, na realidade, fora a matéria que preenchera toda a aula daquele dia. Por todo o período da manhã e parte da tarde, ele havia explanado sobre a parte teórica do corpo humano, mas o ponto alto foi quando propôs aos alunos que assistissem à necropsia de um indigente. Isto foi demais para alguns alunos e cinco deles passaram mal de fato, precisando sair para vomitar quando presenciaram o corte da abertura da caixa torácica do indivíduo.
Finalmente, quando o professor disse que a turma estava dispensada, Junior saiu correndo rumo à portaria desviando-se de tudo e de todos. Ao sair, viu que o motorista da família já o estava aguardando e que, dois veículos à frente, Michela estava recostada no porta-malas de sua Mercedes conversível. Ele foi falar com Alfredo:
- Boa tarde, Alfredo – disse Junior aproximando-se mais do motorista – preciso que você me faça um favor.
- Pode falar Junior, o que você quer?
- Eu não vou com você para casa agora, vou sair com a minha ex- namorada... bom, ela está passando por uns problemas...
- Rapaz, - cortou o motorista - você não precisa me explicar nada, vá se divertir. Onde devo ir buscar você e a que horas?
- Não se preocupe, ela me deixará em casa. Diga ao pai que tive que sair e que estou com Michela Dolce.
- Tudo bem, Junior, mas ligue para seu pai se for chegar mais tarde, você sabe como o Dr. Fernandes fica preocupado quando vocês demoram.
- Ok, eu ligarei. ‘Brigado’, Rodolfo.
Junior foi em direção ao carro de Michela e quando ele estava a certa distância, ela lhe arremessou as chaves do carro.
- Você dirige – disse ela já contornando o veículo e indo para o lado do passageiro.
Rodolfo buzinou ao passar por eles. Junior acenou e jogou a mochila no banco de trás. Já sentado ao volante, ele colocou o cinto e introduzindo a chave na ignição, perguntou:
- Para onde vamos?
-Para onde você quiser me levar! – esboçando um sorriso enigmático - Hoje estou em suas mãos.
Ele achou estranha aquela resposta, mas Michela parecia ter certeza do que esperava da vida.
- Eu pensei em um lugar calmo, onde pudéssemos respirar ar puro e conversar... Você tem alguma sugestão?
- Lugar calmo... – ponderou Michela - que tal o Parque do Ibirapuera?
- Perfeito! Vamos ao Ibirapuera!
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O trânsito estava intenso na região da Av. Paulista, mas tão logo entraram na Avenida 23 de Maio, conseguiram chegar rapidamente ao parque, bem a tempo de apreciar o belo pôr do sol.
Havia muitas pessoas fazendo caminhadas, algumas correndo, outras andando de bicicleta e vários pais aproveitando o calor do fim de tarde de verão para passear com seus filhos.
Junior e Michela se encaminharam para a beira do lago e, sentando-se na grama, ambos ficaram calados por um longo período somente a observar os esguichos de água produzidos pelas duas bombas que ficavam no meio do lago. Michela quebrou o silêncio perguntando a Junior:
- Lembra quando viemos aqui pela primeira vez?
Junior desviou seu olhar para o monumento dos Bandeirantes, procurando relembrar a data exata.
- Não vá me dizer que não se lembra mais – disse Michela, decepcionada.
- Mas é claro que me lembro, bobinha, foi no dia 30 de Janeiro de 2004, de noite... e nós viemos ver.... sim, viemos ver a exposição das 125 obras do Pablo Picasso pois ela era parte da comemoração dos 450 anos de São Paulo.
-Foi isso mesmo, - disse Michela mais entusiasmada – e do que mais você se lembra?
-Eu me lembro dum momento especial em que nós, no segundo piso, paramos em frente às duas peças muito esquisitas dele.
- Diga-se de passagem – disse Michela – quase todas as peças dele são bastante esquisitas... mas continue o que estava dizendo.
- Bem, como eu ia dizendo, nós paramos em frente daquelas duas peças e minha irmã Laura perguntou-me: “o que significam estas peças tão feias?” ... Eu titubeei...não sabia bem o que dizer a ela, então você respondeu que as peças representavam as mulheres da vida dele, isto é, de Picasso - a esposa e a amante.
- É verdade. Então Laura disse que ele tinha um tremendo mau gosto para escolher mulheres pois elas eram muito feias e todos nós caímos na gargalhada. As pessoas que estavam próximas nos olharam com espanto e repreensão sem atinar direito porque estávamos rindo tanto e, envergonhado, o seu pai parecia que ia te matar com o olhar.
- Pois é.... e lembra do que fizemos a seguir?
- Claro que eu me lembro, nós deixamos a sua irmã com o Dr. Fernandes e descemos para o labirinto do Minotauro. Você ia calado como se a gente fosse encontrar um ser mitológico de verdade naquele labirinto e, de repente, do nada, algo tocou na minha nuca. Eu dei um grito de susto e me grudei em você, que aproveitou e me roubou um beijo.
Ele olhou para Michela sem nada dizer, apenas ergueu a mão vagarosamente e olhando bem nos olhos dela, afastou uma mecha de cabelo que encobria um lado de seu rosto e beijou-a na boca. Ela não o afastou e retribuiu o beijo. Ele se afastou bem devagar e vendo que ela permanecia de olhos fechados, beijou-a novamente, porém com mais carinho e volúpia. Ambos se entregaram ao momento. O tempo foi passando, mas eles nem notaram e, quando deram por si, já havia anoitecido. Num movimento suave, Michela afastou-se e apoiou a cabeça no ombro dele.
- “Caracas”! - exclamou Michela - já anoiteceu.
Embora estivesse aparentemente sério diante do ocorrido, Junior estava mesmo era em estado de êxtase afinal tinha em seus braços aquela que ele julgava ser a mulher de sua vida. Depois de sofrer por dois anos e meio sempre lamentando tê-la perdido, agora sentia sua amada e todo o calor gostoso que emanava do corpo dela.
- Vamos embora daqui antes que um guarda venha nos chamar a atenção.
- Realmente, é melhor irmos embora.
Eles seguiram de mãos dadas até o carro sem dizer uma palavra. Junior, diferentemente dos rapazes de sua idade que só queriam curtir a vida, estava incomodado com a situação que criara, pois embora gostasse muito dela, Michela estava noiva e com casamento marcado já para o fim da semana.
Ao chegarem ao carro, ele abriu a porta para ela e, já ao volante, colocou o cinto de segurança e depois perguntou:
- E agora, como vai ser? Você contará sobre nós para o Rafael?
Michela passou a mão nos cabelos com ar de pensativo.
- Não sei, mas agora não estou a fim de pensar nisso, quero somente viver este momento, depois pensarei no que fazer. Vamos procurar um lugar mais tranqüilo para namorar direito e fazer o que, juntos, fazemos melhor...
Ele olhou para ela e os olhos dele brilhavam, mas não com um brilho comum, era um misto de desejo misturado à preocupação. Contudo, tê-la novamente em seus braços era tudo que ele queria naquele momento e isto abafou a consciência a dizer-lhe que não deveria aproveitar-se da vulnerabilidade momentânea de Michela. O forte sentimento que nutria por ela falou mais alto.
- Entendi, - disse ele – então vamos em frente.