Café ou whisky?
Eu tinha uma escolha a fazer, um copo de whisky com gelo ou um café quente e doce... Eu deveria ter queimado a língua ao invés da garganta.
Eu fiz uma escolha, eu vi você ali como uma xícara de café quente em um dia frio, uma oportunidade de esquentar meu peito sem agasalho, de me aquecer por dentro. Vi a fumaça saindo da xícara e me lembrava seu sorriso antes de me beijar, quando nossas bocas estavam tão próximas que podíamos sentir a respiração um do outro e os meus óculos ficavam embaçados. O cheiro me lembrava seu perfume, doce do jeito que eu sempre gostei, um cheiro atraente e sedutor que era quase impossível resistir... E o sabor? Eu lembro de ter você em meus braços, das noites que assistimos filmes e brigávamos para saber quem escolheria o título, das conversas até dormir e dos nossos beijos que faziam o mundo girar e nosso fôlego acabar.
Mas o barulho de gelo no copo de whisky chamou minha atenção, o vento frio que bagunçava meu cabelo parou e um calor percorreu todo o meu corpo. A cor do líquido do copo me lembrava a noite, de quando eu sentia meu espírito livre ou quando eu sorria sem me preocupar com quem me olhava. O sabor era diferente, não era doce, mas eu bebia com um sorriso no rosto, saboreando cada gole.
O suor do copo me lembrava o do meu corpo quando eu pulava e dançava do meu jeito mais espontânea, sem seguir padrões e as vezes até sem companhia. Aquela bebida me lembrava solidão, mas também liberdade... Então eu escolhi, pedi ao moço do bar que me trouxesse outro copo e com mais gelo dessa vez, então olhei para o lado e a xícara havia sumido, você não estava mais lá.
Eu fiz a escolha tem algum tempo e hoje me encontro como em uma ressaca de uma noite agitada. O whisky deixa minha boca seca, minha cabeça doendo e eu já não seleciono tanto a marca, as pedrinhas de gelo não fazem tanta diferença e não há um só dia que eu não pense na minha escolha.
Eu deveria ter escolhido queimar a língua com a temperatura do café.