Meus 14 anos
*Conto romântico*
Recordação.
Meus 14 anos.
Naquela tarde de verão quando meus primos José e Juraci, me convidaram pra ir à sua casa.
O caminho não era dos bons. Só era possível a pé ou em lombo de cavalo.
Lá estava eu no espinhaço de um cavalo forrado com a cela.
O sol decaia por trás da mata mas ainda açoitava minha pele branca/vermelha.
Dos calcanhares dos animais subia uma poeira vermelha do barro frouxo do chão.
Nenhum chapéu na cabeça e a cara lisa no sol. Eram 15 horas mais ou menos. E no passo a passo das éguas pensava eu na Patrícia. Aquela potranca de 13 anos que já mexia no meu pouco juízo.
O caminho era longo e a gente pouco conversava. Os animais iam um na frente do outro pois o caminho estreito na ladeira da Serra não permitia passagem lado a lado.
Chegamos, finalmente. Cansados e os animais suados. Salvador e Berlucia me receberam muito bem. Sempre sou bem vindo nas casas que frequento. Nasci com esse dom de ser meio agradável.
Berlucia é minha prima mais velha. Hoje falecida. Salvador é seu marido. José, Juraci e Patrícia são 3 de seus 12 filhos.
Patrícia sorriu quando me viu chegar. Aquele sorriso inocente com uma pitada de maldade.
Também mexeu com meu jovem coração que é apaixonado de nascença. Ainda hei de morrer de paixão🙈🙈🙈😅😅😅.
Porém, o sol finalmente se esconde pra não ver o que os homens fazem à noite porque, tem coisas que é melhor mesmo não ver.
Ao longe, no lado oposto do sol, ainda arde as pontas das árvores num aba de Serra que ainda se agarrava com os últimos raios pardejantes.
O tempo já truvava e descambava às 18.
Na fonte d'água as éguas e os cavalos eram lavados e saciavam a sede.
Nós, os homens, pelados a se lavar cada um com uma cuia. Éramos adolescentes, mas por dentro eu muito ardente apesar da água fria.
Mesmo juntos a gente só se indentificava pela voz, pois a escuridão era terrível.
Na casa de Salvador as meninas já estavam banhadas e arrumadas. Seria uma noite de festa.
A banda da epoca era um rádio gravador com fita k7.
O artista do momento era amado Batista.
E a festa começou ainda cedo. Cerca de 19. Tinha algumas gatinhas. Duas primas e umas delas. Pouca gente morava na Serra.
Patrícia se adiantou e agarrou minha mão. Fiquei gelado de emoção, mas não me intimidei e apertei-a com força suave para que ela percebesse que estava gostando.
Então saiu a primeira música. Seresteiro das noites. Dançamos meio solto, meio colado. Vez em quando roçava minha bochecha na bochecha dela e insinuava uma vontade de beijar.
A música mudou para "Chance" e no intervalo ela não soltou minha mão.
Uma amiga dela queria dançar comigo, mas Patrícia não permitiu. Era como se fosse somente dela ou só pra ela. Também estava mais que satisfeito. Aquela mão macia e face suave me embriagou de vez.
Enquanto o repertório do amado era tocado, a gente dançava.
Salvador desconfiou de minha malícia e ficou nos vigiando com os olhos. Percebi que estava sendo observado e minha chance de saborear o mel dos lábios de Patrícia escapou nos olhos de seu pai. Fiquei só na vontade.
Juraci, num dado momento, me chama em particular pra me constranger a beber cachaça. Mal sabia ele que queria beber mas era o licor da taça de Patrícia. Aquele primo quase Cunhado não desconfiou de minha paixão e insistia que eu bebesse. Demorou muito até perceber que nem amarrado pelos cotovelos eu não beberia tal coisa.
Voltamos pro salão de dança. Uma pequena sala de barro batido.
Já passava de meia noite e embora o vento açoitasse gelado, de mim saiu um mormaço quente da quentura do amor que explodia dentro de mim e se derramava no peito de Patrícia na dançar da música *"Quero ser grande cantor pra poder te conquistar"*
Às 3 a festa acabou.
Acordamos o dia ardendo e Salvador já dominava o Leitão que ia ser fritado mais tarde.
A faca cortava a garganta do animal e o sangue jorrava feito uma cachoeira. Era assim que meu sangue fervia na noite daquele dia.
Trinta e três anos passaram e a saudade daquela bochecha rosada e dos lábios que não provei, ainda mora dentro de mim.
Porque que os amores não morrem?