No espelho
No espelho, via-se uma linda mulher que cobria sua face do lado esquerdo com uma mecha de seus cabelos. Tinha olhos azuis bem claros, como a água do mar, a boca suave e um leve toque de tristeza ao se observar.
Observou seu rosto, já não era o mesmo, havia rugas do tempo em sua expressão, e lembrou-se da última vez que se olhou em um espelho há alguns anos atrás.
Estava com um vestido azul, lindo e esvoaçante, os cabelos presos levemente com uma tiara, onde se via uma pequena coroa de cristal.
Seu olhar estava radiante e iluminado. O conde a admirava ao fundo, com carinho e atenção. Ele aproximou-se e lhe beijou o pescoço suavemente. Abotoou um delicado colar de brilhantes e safiras murmurando baixinho que ela estava linda.
Naquele instante, abriu-se precipitadamente a porta com o aviso de fogo! Então correram por um corredor já queimando alto nas paredes, e o seu vestido prendeu-se num relógio carrilhão em chamas, bloqueando sua passagem.
O conde tentou soltá-la, rasgando seu vestido, mas, logo em seguida, desabou uma parte do teto em cima dos dois.
Tudo escureceu.
Quando acordou, estava num leito claro de um quarto e um grande curativo no rosto.
Jamais se esqueceria da noite fatídica, que deveria ser a mais feliz, a noite em que ela e o conde anunciariam o seu casamento.
Ela então enxugou o rosto, cobriu o espelho e voltou a consumir-se na lembrança para sempre.
"As marcas do passado nos gravam profundas recordações na alma."