O Conto do Três vezes Três - parte cinco
[Parte 5 - Eu sei que você existe]
Parece clichê, mas era um belo dia e eu acordei de um sono da tarde pesado. Pensei que havia dormido demais, mas quando olhei para o relógio, haviam se passado apenas alguns minutos. E acordei também com outra sensação: a de que você existia. Mesmo sem eu saber quem era você, eu sentia. Jamais entenderei como eu sabia. No sono profundo e abafado, colorido pela minha mente e pintado com tintas em tom alaranjado, nós éramos muito próximos. Nada foi dito, tudo foi sentido.
Durante horas conversamos, nos conhecemos. Desenhamos o retrato um do outro, corremos no parque e rimos a toa. Era tudo tão leve e tão... quieto. Somente ouvia-se o som de nossas vozes e a natureza. Eu descobri que a natureza fala, ao modo dela, no mundo em silêncio. Eu senti pela primeira vez uma paz genuína que somente a alma completa pode sentir. E quando digo completa, é completa de si mesmo.
A falta de ar começou a ser frequente, eu não sabia o que estava acontecendo. Você quis me acalmar e consegui ler em seus lábios que tudo ia ficar bem, pois eu já não ouvia mais nada. A visão escureceu e eu cai sem ar. Fui sugado pelo túnel mágico da vida e transportado de volta ao meu corpo que estava na cama. Eu cai de muito alto.
Eu não sei dizer, não sei explicar, mal consigo escrever isso pra vocês, mas eu sei que ele existe. Eu sinto a presença dele. Já esteve maior, hoje está menor e ao que o tempo passa, minha cabeça consome mais um pouco dessa memória. Venha me alimentar ou te esquecerei.
Hoje eu ando pelas ruas olhando para todos os lados, curioso e preocupado querendo te encontrar. As vezes viro uma esquina que não deveria virar, as vezes vou à algum lugar. Sempre à espreita, sempre esperando o momento repentino que eu não sei qual é. Eu ouço sua música, eu ouço sua voz, eu sinto seu cheiro e eu sinto seu gosto. Mesmo não sabendo quem você é. Mas eu sei que você existe.