ONDAS

Acordado, afinal a insônia a muito o acompanhava, ouvi um leve burburinho das ondas quebrando nas rochas e trazido pela brisa morna. Voltou a pensar que tudo aquilo havia sido um erro, um grande equívoco. Buscar nos cinco dias de suposto descanso, um momento de fuga a só. Ela pediu que queria viajar com ele. Ele não queria. Ela foi enfática. Com um profundo suspiro, ele não aceitou. Ela antevia os piores temores corporificados naquele longo e profundo suspiro. Ele planejou a viagem. Ele nada disse a ela. Ele escolheu a pousada.

Pensava: Nesses dias farei uma grande faxina mental, vou esforçar e reparar a ponte ruída pelo tempo. Tábuas podres precisavam ser removidas e substituídas. Os cabos de aço a sustentar a estrutura urgiam por um reforço. A estrutura era frágil e uma tempestade mais forte seria capaz de levá-la rio abaixo. As cabeceiras da ponte apresentavam sinais de erosão. Eram sinais antigos, nada de recente. Deixaram o solo rachar sem proteção, sem cuidado. Preciso passar alguns dias só. Precisava tentar mais uma vez para deixar claro em sua cabeça de que a culpa não havia sido só dela. Tudo aquilo a corroía internamente.

Suas pernas doíam, sua cabeça latejava. Estava cansado, ou melhor, exausto por dias que alternaram olhares distantes, gritos, silêncios longos e profundos, perguntas sem respostas. Talvez a indiferença dele a tivesse levado à exaustão. Virou-se de costas procurou ver se dormia, mas a insônia está lá, com o olhar fixo na parede. Procurava alguns pontos de claridade, alguma luz, algum sinal, alguma ideia para acalentar sua alma entristecida e murcha.

As ondas quebrando nas rochas perto da praia pareciam soar como música de orquestra. Ritmo, vida, intensidade, força, tempo….um tímido sorriso esboçou. Uma lágrima percorreu-lhe o rosto. Sentiu-se livre. De coração lavado, era hora de lançar-se ao mar e deixar-se levar.

Jova
Enviado por Jova em 06/06/2019
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