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Fernandes já havia recebido alguns golpes no decorrer da vida, por vezes se vira quase no chão, mas sempre se reerguia mais forte do que antes, mas comparadas às suas vitórias, estas últimas venceriam com larga margem de vantagem.
Como homem a serviço da justiça, estava preparado para tudo, porém, ele não se via sem a presença da esposa, que partira tão cedo de sua vida. Tinham pequenas diferenças especialmente no que tangia ao sexo, contudo eles se completavam em todo o restante. Agora Fernandes estava só.
Seus sogros ficaram com ele até o jantar, mas após a refeição eles se retiraram. As crianças foram postas na cama e ele fez questão de ficar ao lado da cama do Junior até que ele dormisse, depois foi ao berço de Laura, beijou-lhe o rosto e desceu para a sala de estar, todavia, embora estivesse em sua casa, ele agora se sentia como um estranho no ninho.
Sentindo o peito apertado, Fernandes caminhou até o piano onde Weruska sempre tocava um pouco para eles após o jantar. Ele folheou as partituras ali dispostas e não pode conter as lágrimas, elas rolaram em sua face. Meio ébrio de emoção, ele começou tocar “Cidade”, uma canção que ele havia ouvido inúmeras vezes no rádio quando voltava do último encontro que tivera com Marilyn. Sem perceber, ele estava tocando e cantarolando baixinho a letra da canção.
Oh, cidade!
Quem foi que fez você tão cinza assim.
Não teve dó de ver-te adoecer
Aqueles que te choram clamam... E clamam.
Na verdade, oh... oh... oh... oh...
Tua tristeza está em mim também.
Em cada esquina, em cada rua.
La... Lara... Lara...
Em cada beco onde exista alguém,
Exista alguém, exista alguém.
Como estas tristes, as cores que te faltam,
Faltam em mim também
Pois perdi, todo o meu verde igual a ti.
Sob nuvens, oh... oh... oh... oh...
Teus edifícios olham mudos.
A esperança e o futuro,
Daqueles que te clamam e choram,
E choram e choram...
Quem foi que fez você tão cinza assim.
Não teve dó de ver-te adoecer
Aqueles que te choram clamam... E clamam.
Na verdade, oh... oh... oh... oh...
Tua tristeza está em mim também.
Em cada esquina, em cada rua.
La... Lara... Lara...
Em cada beco onde exista alguém,
Exista alguém, exista alguém.
Como estas tristes, as cores que te faltam,
Faltam em mim também
Pois perdi, todo o meu verde igual a ti.
Sob nuvens, oh... oh... oh... oh...
Teus edifícios olham mudos.
A esperança e o futuro,
Daqueles que te clamam e choram,
E choram e choram...
Quando Fernandes acabou de tocar as últimas notas, sentiu um leve toque em sua perna, era Junior arrastando o Abel, o seu coelho de pelúcia.
- O que você está fazendo acordado, meu filho? – disse Fernandes erguendo o filho ao colo.
- Eu ouvi o piano e pensei que fosse a mamãe que estava tocando, por isso vim para ouvir com ela – disse ele esfregando a toalha no olho.
Fernandes o abraçou bem forte e, pela primeira vez, o grande e eloquente defensor não sabia o que dizer e se viu mudo. Ficou ali abraçado ao filho, enquanto as lágrimas escorriam por sua face. Ele colocou o filho sentado sobre o piano e o menino ao ver o pranto do pai, disse:
- Chore não, papai, eu te dou o Abel, toma para o senhor.
- Não, meu filho, o papai não está chorando, não, está só muito cansado.
- Pai, toque aquela música que a mãe sempre toca.
- Qual música, o papai não sabe qual é – disse ele, com a voz embargada.
- Aquela que fala “para o seu coração” (For Her Heart).
Fernandes fechou os olhos e respirou profundamente como se fosse aspirar todo ar do mundo. Então se lembrou da última melodia que ouviu Weruska tocando. Colocando o filho no colo, começou a tocar as teclas timidamente.
- É esta, meu filho? – disse ele com a voz trêmula.
- Sim, papai.
Fernandes fechou os olhos e deixou que a emoção guiasse seus dedos por sobre as teclas do piano.
- O que você está fazendo acordado, meu filho? – disse Fernandes erguendo o filho ao colo.
- Eu ouvi o piano e pensei que fosse a mamãe que estava tocando, por isso vim para ouvir com ela – disse ele esfregando a toalha no olho.
Fernandes o abraçou bem forte e, pela primeira vez, o grande e eloquente defensor não sabia o que dizer e se viu mudo. Ficou ali abraçado ao filho, enquanto as lágrimas escorriam por sua face. Ele colocou o filho sentado sobre o piano e o menino ao ver o pranto do pai, disse:
- Chore não, papai, eu te dou o Abel, toma para o senhor.
- Não, meu filho, o papai não está chorando, não, está só muito cansado.
- Pai, toque aquela música que a mãe sempre toca.
- Qual música, o papai não sabe qual é – disse ele, com a voz embargada.
- Aquela que fala “para o seu coração” (For Her Heart).
Fernandes fechou os olhos e respirou profundamente como se fosse aspirar todo ar do mundo. Então se lembrou da última melodia que ouviu Weruska tocando. Colocando o filho no colo, começou a tocar as teclas timidamente.
- É esta, meu filho? – disse ele com a voz trêmula.
- Sim, papai.
Fernandes fechou os olhos e deixou que a emoção guiasse seus dedos por sobre as teclas do piano.
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A quarta-feira amanhecera bela e menos fria do que o dia anterior, o sol já despontava amarelo como uma gema no horizonte e a família Geaninne estava toda à mesa do café.
- E então, filho... Como foram as férias?...Descansou bastante?
- Sim, pai – disse Alex, enquanto passava requeijão em uma fatia de pão integral – pena que tivesse que interrompê-las mais cedo.
- Ma perché doveva tornare presto, problemas no escritório? – perguntou o velho, misturando português e italiano.
- Recebi um pedido de um cliente especial e não pude negar.
- Importantes clientes... isto é bom! Bons relacionamentos geram bons rendimentos.
- Por falar em rendimento, cadê o Hermes? Ele disse que passaria para tomar café com a gente – disse Giovanna.
Enquanto ela falava isto, a campainha tocou.
- Deve ser ele que está chegando – disse Alex.
- Bom dia, pai; bom, dia mãe – disse Hermes dando um beijo no rosto da mãe e do pai – me desculpe pela demora, é que minha namorada dormiu lá em casa essa noite e eu tive que deixá-la no trabalho antes de vir para cá.
- Não tem problema, sente e se sirva. – disse Giovanna.
- Como vai, Alex?
- Eu vou bem, obrigado.
- Eu não sabia que você já estava trabalhando de novo. Não estava gozando as merecidas férias?
- Ele disse que tem um cliente importante que precisa atender. – disse o velho Geaninne.
- A propósito Alex, eu encontrei com um dos seus investigadores lá fora, ele deixou um envelope para você, está sobre a mesinha do hall de entrada.
- Obrigado.
- Eu indiquei seus serviços para uma cliente minha, a Sra. Marilyn.
- Ah! Foi você que passou o endereço de minha casa para ela? Eu recebi o material dela ontem e foi por isso que eu resolvi começar logo... eu achei tudo meio estranho, assim fui investigar tudo bem de perto para saber exatamente onde eu estava me metendo.
- Não tem com que se preocupar, ela é boa pessoa, somente uma mulher que decidiu pedir o divórcio, mas há um acordo nupcial entre o casal que reza o seguinte: “se uma das partes trair a outra, a parte traída levará cinquenta por cento do patrimônio do ofensor”. E é sabido por todos que o David é um sátiro, um compulsivo sexual... um cara que não consegue passar um dia sem correr atrás de um rabo de saia diferente, isto fora as amantes fixas que tem em cada estado por onde passa.
- Até aí tudo bem, eu só não entendo por que você deu o endereço de minha casa para ela. Sabe que eu não gosto.
- Simples, ela é uma pessoa importante que não quer escândalo ou que a sua vida pessoal cai nos jornalecos sensacionalistas.
- Sim, entendi, e eu já estou fazendo o trabalho para ela. Ontem, eu segui David até as onze da noite e nada demais aconteceu, porém eu mandei meu agente segui-lo depois disso e agora estou esperando pelo resultado da investigação do resto da noite. Quem sabe tenhamos sorte e muito breve tudo estará devidamente comprovado.
- Papai está tudo muito bom, mas eu tenho que ir andando – disse Hermes, limpando a boca – eu só vim mesmos para ver como vocês estão e avisá-los que eu e a Margareth ficamos noivos ontem. Vamos nos casar daqui uns dois ou três meses.
- Você não perde tempo, hein, maninho? Já fez um ano, um ano e meio que Juliana morreu?
- Sim, por aí, e você, quando é que vai nos surpreender apresentando uma bela moça que possa vir a ser sua futura mulher?
Alex olhou para sua mãe e disse:
- O dia que eu encontrar uma mulher igual a mamãe. Alguém que não pensa só em curtir a vida, em baladas e estar nos lugares da moda, em alguém que eu confie cegamente... O dia em que eu encontrar esta pessoa, você será o primeiro a saber.
- É mamãe, isso quer dizer que a senhora e o papai sempre vão tê-lo por perto, porque essa mulher que ele procura não existe. Maninho, você tem que mudar esses seus conceitos antigos ou você irá acabar sozinho.
- Deixe seu irmão em paz, Hermes – disse Giovanna – ele tem o direito de querer a mulher que idealizou para ser a sua esposa.
- Está certo, mamma.
Hermes deu um beijo no pai e na mãe, abraçou o irmão e andou rumo à saída. Alex o acompanhou até a porta e, tendo se despedido do irmão, pegou o envelope que fora deixado pelo moto boy e foi para o seu quarto. Ao abrir o envelope, Alex viu que o que Hermes dissera de David procedia, pois havia fotos dele em uma boate cercado por belas mulheres, outras onde ele estava acompanhado por uma loura e uma morena entrando em um motel.
Conferindo o relatório que o detetive Amaral enviara junto com as fotos e depois de analisar as fotos detalhadamente, Alex concluiu que já tinha material suficiente para provar a infidelidade de David. Pegou um envelope, colocou as fotos dentro, escreveu o endereço da caixa postal de Marilyn e pediu que Juan, o faz tudo da casa, o levasse ao correio.