CARICIA COM OS OLHOS
Quando mudamos para aquela rua eu tinha 12 anos e Everaldo 17. Lembro que chegamos com a mudança e ele estava na calçada observando os novos vizinhos. Ao me ver, seus olhos castanhos faiscaram ao deparar com os meus, puxados herdados do meu avô.
Desde esse dia percebia sua emoção ao me ver. Meus cabelos pretos na cintura e a boca avermelhada encantavam.
Nunca chegamos a conversar. De vez em quando encontrava uma rosa vermelha na grade do muro da minha casa, que acredito que era ele que colocava.
Eu saia cedo para escola com meu uniforme de saia azul plissada, blusa branca, meia três quartos, sapato preto, o cabelo a balançar e a pasta com os livros na mão direita. Ia de carona com Tina e a mãe dela e ele estava lá para me ver e esboçava um leve sorriso. Quando eu retornava era a mesma coisa.
Foram cinco anos assim. Everaldo me olhando e nunca aproximou. Seus olhos demonstravam carinho de uma amor não realizável. Diziam que era comprometido com uma prima que morava distante.
Ele se formou em Filosofia e eu ia fazer o vestibular para o curso de Odontologia quando meu pai recebeu uma proposta para trabalhar em outro Estado.
O caminhão de mudança parou na minha porta e os nossos pertences foram enchendo os espaços vazios e até a batida final do portão.
Entrei no carro e só vi a rua e Everaldo ficando cada vez mais longe. Nunca esqueci aqueles olhos tão carinhosos. Se fui amada, vivi em seus sonhos e nos meus também.......