Olhos nos Olhos

A mulher sentada confortavelmente num divã, com a televisão ligada mas seu som, mexendo com um dedo a perda de gelo num copo com uísque, relaxando à noite, naquele à vontade costumeiro, falavacmo se estivesse conversando com alguém:

- Lembra, meu bem, quando você me disse sem mais aquela, sem nenhuma consideração para que eu fosse feliz e vivesse bem, a título de despedida. Confesso que quase enlouqueci de ciúme, mas como estava ondicionada a marchar de acordo com seu grito de "ordinário, marche!", não me restou outr alternativa senão obedecer. Com certeza você pensou que eu estava completamente vencida e conformada. Não foi assim... Eu sobrevivi...

Continuou o monologo como se estivesse falando co o ex-amor:

- Se você, que sabe, quiser, até por mera curiosidade me rever, vai me encontrar toda toda, viva e bulindo, completamente refeita. Pode crer. Juro. E, olhos nos olhos, quero ver sua reação ao constatar que, mesmo sem você, eu passo bem, bem demais. E... sou feliz.

Continuou:

- Veja bem, estou até remoçando, tão e bem com a vida que, não raro, me pego cantando , sem saber o porquê, alegre. É isso, tantas águas rolaram, outros homens me amaram... Detalhe: muito melhor que você. Simples assim.

Tomou mais um gole do uisquinho(chamava uísque com gelo de uisquinhio) e continuou como se estivesse falando ao ex:

- Não, cara, não tenho ressentimentos. Zerei esse problema, deletei... Outra coisinha: se você precisar de mim, o que é certo, não faça cerimônia, cê sabe que a casa é sua, pode entrar e, claro, olhos nos olhos, vou matar uma curiosidade: quero ver o que você vai dizer, como vai agir, como vai suportar me vendo tão feliz.

Botou no som a música de Chico Buarque cantada por Bethânia:

"Quando você me deixou meu bem...".

Há mulheres que surpreendem. Conheço várias. Juro. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 10/05/2019
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