O amor tem conserto

Clara era uma pessoa muito delicada, sonhadora e otimista. Acreditava que viera ao mundo para aprender e ser feliz.

Desde criança Clara tinha uma flor feita com retalhos de tecido. Todos os dias ela brincava com esta flor, mas de tanto jogar para lá e para cá, às vezes, a flor descosturava algumas pétalas. Sempre que isso acontecia, a menina ia logo correndo pedir para a mãe costurar.

O tempo foi passando e a flor foi sendo deixada de lado. Clara não era mais uma criança. Agora, outras coisas a interessavam, além daquela flor surrada e muito remendada. A flor foi esquecida na cômoda do quarto, não tinha mais sentido viver com aquilo a tiracolo!

Clara já era uma mocinha. Um pouco vaidosa, dedicava algumas horas para cuidar dos longos cabelos preto que penteava com demora. Nos fins de semana, fazia reuniões em seu quarto com as amigas: Lisa, Ana e Rebeca. Muito animadas e festivas, as amigas passavam horas pintando as unhas, se maquiando, ouvindo músicas e fofocando sobre os prováveis amores que surgiriam.

Em uma manhã de Segunda-feira, quando Clara estava indo para o colégio, avistou ao lado de sua casa um garoto. Ele era um pouco alto, magro e tinha cabelos castanhos. Clara o cumprimentou e seguiu para o colégio. No caminho, não conseguia parar de pensar naquele garoto. Nossa, até que ele é bonito-disse Clara.

Ao se encontrar com as amigas, Clara foi logo falando do garoto para elas. Para ela tudo nele era encantador! Mesmo sem conhecê-lo, ela já via todas as suas boas qualidades.

Novamente saindo para o colégio, Clara encontrou com o garoto na rua da casa onde ela morava. Dessa vez, ele a cumprimentou e perguntou o nome dela. Após se apresentarem a garota já sabia que o rapaz ao lado da casa dela se chamava Diego, era sobrinho da vizinha e iria ficar um ano com a tia porque os pais estavam em uma viagem internacional de trabalho. Eles eram jornalistas e ficariam seis meses lá. Por isso, acharam melhor deixar o Diego na casa da tia para estudar o último ano do ensino médio.

Os dois se encontravam com mais frequência. Iam juntos para o colégio, tinham muitas coisas em comum, por exemplo, o gosto por séries e filmes românticos. Foi quando estavam assistindo uma série que o primeiro beijo aconteceu. Todo encabulado, Diego pediu Clara em namoro. Apaixonada, Clara aceitou prontamente.

Clara e Diego não escondiam o amor que sentiam um pelo outro. As amigas vibravam com o romance dos dois e a felicidade do casal era visível para todos.

Nos momentos de alegria Clara sempre tinha uma vontade estranha de pegar a flor de retalhos de pano. Ela abria a gaveta da cômoda, ficava alguns minutos com a flor nas mãos, em seguida guardava. Aquilo lembrava sua infância feliz, os momentos de alegria genuína e constante.

Após quatro meses de namoro Clara resolveu fazer uma surpresa para Diego. Foi à loja e comprou um balão em formato de coração e uma caixa de bombom. Procurou em seu quarto o caderno, e escreveu à mão, o quanto ela o amava e o quanto ela queria que a felicidade dos dois durasse para sempre. Organizou tudo e foi sem avisar para a casa da tia de Diego.

Ao chegar em frente à casa Clara paralisou. O coração ficou pequeno e gelado, os olhos não acreditavam no que viam. Uma garota o abraçava com demora e afago. Diego parecia íntimo dela. Clara soltou o balão que segurava e voltou para casa com o coração esfacelado, dolorido. Foi logo ligar para a amiga Rebeca para contar a ilusão que estava vivendo.

Diego era um farsante, mentiroso, nunca a amou- pensava Clara.

Deitou na cama e olhando para a cômoda pensou na flor, mas não quis pegar. Chateada, cobriu o rosto com o lençol para tentar dormir. Não conseguia dormir, tinha que resolver isso com o Diego. Pegou o telefone e ligou, nem deixou o namorado falar....já foi logo despejando tudo. Disse que já sabia quem ele era, ele era um mentiroso, fingido, só não sabia como ele conseguia fingir tanto ao ponto de parecer verdade o que ele dizia sentir. Desligou o telefone.

Alguns minutos depois alguém bateu na porta, era o Diego. Pediu desculpas a mãe de Clara por ir a sua casa aquela hora. Clara ouviu a voz de Diego e veio para a sala. Diego a chamou para conversar um pouco lá fora porque queria saber o que estava acontecendo.

Horas de conversa e Clara descobriu que a garota era uma prima de Diego que veio vê-lo e em seguida partiu para sua cidade. Uma prima que veio de longe para vê-lo! Será verdade isso? –pensava Clara. Clara não acreditava na história que ouvia. Diego achou melhor ir para casa pois não queria mais continuar naquela discussão sem sentido.

Clara e Diego ficaram uns três dias sem se falar. Até que Diego mandou uma mensagem para Clara, ele perguntou se Clara queria terminar o namoro. Disse que sempre foi verdadeiro com ela, que a amava. Em seguida, mandou um áudio da prima confirmando tudo o que foi dito para ela. Clara leu a mensagem, mas não respondeu. Ela abriu a gaveta da cômoda e pegou a flor. Olhou atentamente cada pétala remendada e começou a pensar....Lembrou que sempre costurava e consertava a flor quando alguma pétala se rompia. Mandou mensagem para Diego vir até sua casa. Sentada no sofá com Diego, Clara mostrou-lhe a flor. Contou à ele o que fazia quando descosturava alguma pétala da flor e completou dizendo que queria que o amor dos dois fosse como aquela flor: se algum dia algo se quebrasse, que eles consertassem, mas não jogassem fora o amor que sentiam um pelo outro.

Cleia Santos
Enviado por Cleia Santos em 08/05/2019
Reeditado em 11/05/2019
Código do texto: T6642150
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