Amor e ossos quebrados

[Continuação de "O melhor que você pode ter"]

Acordou tonta, a boca seca, a visão embaralhada. Que lugar era aquele? Sentiu dores, na perna esquerda, principalmente. Respirou fundo. O lugar cheirava como um...

Hospital. Estava num hospital.

A última coisa de que se lembrava era ter atravessado a rua correndo, para se livrar do inoportuno do Ted. Uma coisa decididamente estúpida para se fazer, mas ela cansara de tê-lo em sua cola, como se fosse um míssil guiado pelo calor do seu corpo.

Não, decididamente, essa não era uma boa imagem, refletiu. Nada de mísseis. Mísseis explodem coisas, matam gente. Todavia... ela estava num leito hospitalar, possivelmente com alguns ossos quebrados. Dano, certamente ele já lhe causara.

Seus pensamentos foram interrompidos pela entrada de uma enfermeira no box que ocupava, separado dos leitos vizinhos por duas divisórias laváveis, que lhe davam certa privacidade.

- Oi Cindy! Que bom que acordou - cumprimentou-a, aproximando-se do monitor multiparamétrico instalado ao lado da cama. - Como se sente?

- Boca seca... - reclamou Cindy.

- É o efeito da medicação - explicou, enquanto anotava alguns dados num formulário afixado numa prancheta. - Eu vou te dar água, um segundinho só...

- Há quanto tempo estou aqui? - Indagou Cindy.

A enfermeira consultou o relógio de pulso.

- Você chegou ontem à tarde... menos de 24 h. Seu namorado passou por aqui de manhã, ver como você estava.

Cindy balançou negativamente a cabeça, enquanto a enfermeira enchia um copo de água.

- Ted? Ele não é meu namorado.

A enfermeira apoiou a nuca dela e lhe deu a água para beber, gentilmente.

- Foi como ele se apresentou na recepção, quando chegou aqui, acompanhando a ambulância... e antes que pergunte, sua avó também está aqui, saiu a pouco para comer alguma coisa.

Cindy bebeu com satisfação e depois a enfermeira enxugou a sua boca com um lenço de papel.

- Como eu estou? Quebrei muita coisa? - Indagou apreensiva.

- Fratura no fêmur esquerdo, luxações e equimoses generalizadas. Você não bateu de cara no chão, não se preocupe...

Cindy suspirou.

- Fratura no fêmur... em quanto tempo poderei andar de novo?

A enfermeira injetou um medicamento numa das bolsas de soro suspensas ao lado do leito, antes de responder.

- Isso varia de pessoa para pessoa... mas você está em boa forma, felizmente. Acredito que em 5 meses o osso estará consolidado, mas em cerca de duas semanas já poderá começar a fazer fisioterapia.

- Cinco meses! - Desesperou-se Cindy. - Como é que eu vou fazer... sou só eu e minha avó, que já está idosa!

- Talvez você possa recorrer ao rapaz... aquele que disse que era seu namorado - sugeriu a enfermeira. - Bom, agora eu tenho que atender a paciente ao lado, o doutor Johnston virá vê-la em cerca de uma hora.

Novamente só, Cindy deixou a cabeça afundar no travesseiro. Cinco meses! Talvez antes de findo o prazo, estivesse andando de muletas, mas aquilo iria desestabilizar a sua vida - para não falar da avó. E pedir qualquer espécie de ajuda ao causador da sua desgraça estava fora de cogitação. Chegou a pensar que talvez devesse denunciá-lo a polícia; depois, descartou a ideia. Ted não tinha onde cair morto, e se fosse preso, o bebê Nicholas seria o principal prejudicado.

Mas havia alguém que poderia ajudá-la a raciocinar melhor, e avaliar suas possibilidades: Marsha. Precisava falar com ela, o quanto antes.

[Continua]

- [07-05-2019]