(Ah!)MAR

Ele queria amar. Soubera disso desde o primeiro beijo em Júlia naquele casamento junino. Júlia era namorada do primo, mas mesmo assim quis beijá-lo. Não foi um bom beijo, imaginou como seria o gosto da água. Ainda assim, ele queria amar. No seu segundo beijo, em um corpo igual ao seu sentiu a primeira vibração humana de troca de calor, aquele sim, o fazia sentir fogo. Mas ainda não era o fogo que arde sem se ver. Sua busca pelo amor o fez rodar o mundo, e sempre acabava ali: em frente ao mar casando na escuridão com o céu. Desde o primeiro beijo ao último foram muitas noites trocadas com o mar. Ah! Mar, talvez o seu sal seja das lágrimas dele que atravessaram as leis dos tempos misturados com cada morte que suas águas levaram. E mesmo sem o amor que tanto deseja, sua história amorosa tinha trilha sonora quando a mensagem no celular apitava que alguém com local estava falando com ele. Era reconfortante, pois sabia que naquelas noites não iria dormir sozinho quando voltasse para casa. Era triste, todas às vezes terminavam sendo as últimas, e na noite seguinte estaria novamente em frente ao mar. Acredito que ele e o João seriam ótimas estrelas para o casal futuro, mas João já tinha virado estrela antes do tempo, por escolha propriamente do resto do mundo. Ele queria amar, assim como o mar queria amá-lo. E entregando seu amor ao ar, o mar o amou da pior maneira que alguém pode amar: sentindo o gosto das lágrimas nas águas do mar.