A espera na janela.
Como todo raiar de dia, Lavínia se punha debruçada sobre a janela a observar o jardim colorido da avó Lúcia. Flores matizadas, cobertas de orvalho, que se dissipava á medida com que o sol sorridente despontava.
Vó Lúcia na cozinha preparava o café quentinho. Na mesa, um bolo de fubá fresquinho era um convite irresistível talvez pra mim e pra você, porém, não muito para da janela Lavínia se soltar.
O olhar de jabuticaba de menina sonhadora fitava ao longe, como quem tivesse degustando o café da manhã sob a mesa de jardim, com uma xícara de xaxim e uma rosquinha de alecrim.
Lá estava ela em mais uma manhã, fitando da janela o jardim, o campo, as aves, as flores e um caminho de terra “lá vai um”, cercado de arbustos rigorosamente aparados pelas mãos de Vô Zé.
Ah, aquele caminho levara o sorriso de Lavínia para longe desde o início da guerra e desde então, seu café da manhã passou a ser naquela janela.
O jardim lhe trazia lembranças ricas de delícias e o caminho a tristeza de uma partida, sem certeza de um retorno.
Na despedida juras de amor, promessa de espera e votos de devoção.
Que história linda eu pensei, como o amor é rico eu bem sei.
Até que um dia uma fatídica carta chegou e com ela a notícia que a história de Lavínia pra sempre mudou.
Desde então, da minha janela todos os dias, observo que na janela da casa de Lavínia só saem o cheiro do café e do bolo de fubá da vó Lucia. Continuo contemplando o vô Zé, cuidando do jardim e podando milimetricamente seus arbustos.
Lavínia nunca mais naquela janela voltou, porém, torço esperançosamente que isto em breve aconteça, quando minha vizinha sonhadora, voltar a conhecer o amor.