Mar e Música
Quando você olha daqui o que te parece?
Eu vejo muita coisa, menos um pão. De onde tiraram esse nome sem sentido, Pão de Açúcar. Pra mim parece mais a corcunda de um camelo, a única coisa que se salva nessa cidade são os bondes, pelo menos isso ainda funciona com certa capacidade.
Você é muito difícil mesmo olha essa paisagem maravilhosa.
Você me fez viajar por dez horas naquele maldito carro para me mostrar o mar? Podíamos ter ido pro Guarujá e chegaríamos em três horas e a paisagem seria a mesma, aliás você sabe que não suporto areia nos meus pés.
Querida o Rio está cheio de novidades, você sabe que eu precisava ver de perto, essa nova música que chamam de Bossa tem uma melodia única e eu precisava disso. A música corre em minhas veias.
Isso tinha graça quando você fazia serenatas na minha janela, hoje seu sonho nos custa o apreço de meu pai, e ainda serei deserdada se você continuar com essa loucura. Amor, vamos embora.
Minha amada, não sei viver sem duas coisas na vida, você e a música. Mas não me faça escolher.
Nesse momento um pedinte se aproxima do casal
Bom dia casal, desculpe a intromissão mas acabei ouvindo seus dilemas. Se posso me atrever a falar à vocês então digo. Não existe amor sem música e também não existe música sem amor, se a senhorita quer mesmo que ele deixe a música então é simples, deixe-o, a música dentro dele irá morrer tão rapidamente que em breve só restarão lembranças, por outro lado dentro da senhorita só restará o vazio deixado pela falta do amor que se foi. Não existem soluções fáceis para tal dilema, então eu acho que a senhorita deveria tirar esses sapatos e o senhor deveria silenciar por um momento seu violão e deveriam caminhar descalços pela areia da praia e esperar o por do sol que está por vir.
O homem foi se afastando a medida que o sol ia se pondo no horizonte.
Na areia da praia apenas a silueta de um casal de mãos dadas.