Café
O conheci num café, era 9:35 da manhã. Ele estava no balcão, usava um avental azul escuro e cheirava café misturado com um perfume amadeirado, que eu não soube identificar. Foi a segunda vez que eu vim a este lugar, confesso que retornei por causa do tal moço do avental azul, que cheirava a café. Ele tem um sorriso que ri junto com os olhos e de alguma forma eu o queria na minha vida. Talvez pelo cheiro de café, que eu amo tanto, ou talvez porquê ele sorri com os olhos, mas eu quis voltar, mesmo que ele sequer soubesse quem eu era. Queria vê-lo todo dia, se eu pudesse. Não sei se vocês acreditam na tal história de amor à primeira vista, eu mesma nunca acreditei até ver o tal moço. Eu não tenho coragem de me aproximar dele, por isso eu escrevo. As palavras são uma forma de manter as memórias vivas e, de alguma forma, quando escrevemos, tornamos o que quisermos em algo real. É isso que eu faço com a vida, eu escrevo sobre ela, escrevo sobre a chuva, escrevo sobre os animais e escrevo sobre o moço com cheiro de café. Fico pensando se em algum momento ele olhará para mim. Será que vivo uma fantasia somente em minha memória? Sou uma contadora e criadora de história. Talvez o moço nem exista, talvez seja um fruto da minha mente necessitada. Mas, para mim, o moço é real. É como se eu o tivesse em minha memória. Mas, eu nem sei o seu nome, só me lembro do seu cabelo, dos seus olhos que sorriam com sua boca, do seu avental azul escuro e do seu cheiro de café que misturava com seu perfume amadeirado. Seria este homem real? Se não for, por que meu coração dispara quando me lembro dele? Por que o meu coração sorri quando penso nele? Pensei em deixar um bilhete. Colocar, no balcão, meu telefone, talvez. Mas, como ele saberia que sou eu? Ele teria que me ver colocando o papel no balcão, certamente. Mas, isso também ficou somente na minha memória. Embora audaciosa, eu sou tímida. Tenho vergonha quando se trata de amor, ainda mais quando o amor é por alguém que eu nem sei se existe. Se o virem por aí, digam que mandei lembranças, falem que sou a moça do cabelo curto, do batom rosado e do vestido florido, que se assentou, da última vez, na cadeira de frente para o balcão em que ele trabalha. Se o virem, digam que eu o amo, mesmo sem saber se ele realmente existe.