Verde não é uma cor criativa
- Cara, isso é bizarro – Ele dizia todo animado. – Eu adoro as pessoas que pensaram nesse desenho.
- Uau, sim! Totalmente bizarro – Respondi dando uma mordida no pedaço de pizza de peito de peru. Eu realmente tinha gostado, apesar de ficar desconfortável assistindo.
- Existem várias teorias sobre esse vídeo, – Ele continuava olhando pra televisão – eu viva procurando sobre.
- Me conta! – Eu estava interessada e me virei de frente pra ele, sentada no sofá.
- Por exemplo, quando o boneco mostra as cores criativas, ele te dá uma paleta de cores prontas, mas você não vê a cor verde lá – Ele deu um gole na catuaba.
- É como se ele tivesse sendo manipulado a pensar dessa forma?
- Exatamente! – Nesta hora ele havia se virado pra mim e sorria, falando mais rápido que o normal – Então eles estimulam o boneco a pensar fora da caixa, mas quando ele realmente sai com algo criativo, como a cor verde, a “mídia” diz que verde não é uma cor criativa. Na verdade ele só pode escolher entre aquelas cores que “a mídia” impõe.
- Nossa, do caralho, por isso que tem umas câmeras no final, e eles estão sendo filmados...
- E tem mais – Ele me interrompeu – Mais pra frente no vídeo, ele mostra uma imagem de um cérebro com diversas partes divididas em cores diferentes. Repare que tem uma parte colorida em verde. Essa é a parte do nosso cérebro responsável por ter uma opinião própria, se não me engano...
- Por isso ele não pode escolher a verde? Não pode ter uma opinião própria?
- É cara, foda né? – Ele deu outro gole na catuaba.
- Sim, eu viajo nessas teorias. E nas teorias do universo também, tipo aquela em que vivemos em uma simulação, sabe?
- Sei demais! – Ele parecia ainda mais animado – É igual naquele episódio de Rick and Morty que eles criam um mini universo pra carregar a bateria do Rick...
- Sim! – Nós dois começamos a rir – E sobre universos paralelos? Já parou pra pensar que existem infinitas possibilidades de tudo acontecer? Sei lá, você pode viver em um universo onde todas as pessoas tem três cabeças, ou em que você se tornou alguém muito famoso e muito de rico. Em infinitos deles você nem existe...
- Olha vou te falar, eu queria poder viajar entre essas dimensões. Mas por outro lado, tem infinitos eu’s por ai que são muito melhores do que eu.
- Assim como tem infinitos “você’s” que são muito piores que você desse universo – Dei um sorriso e enchi o copo dele novamente.
- E se eu fosse substituído? Um “eu” de um universo paralelo extremamente parecido comigo, mas que não fosse eu... Apesar que seria literalmente eu mesmo, mas você entendeu.
Olhei pra ele e dei um sorriso. Acendi outro cigarro e ele continuava olhando pra mim.
- Você acha que a gente é meio doido? – Perguntei.
- Acho que a gente devia parar de beber – Ele deu risada.
Há três anos atrás a gente pensava que sabia de tudo.
- “Quando você entende que é só mais um vivendo em uma infinidade de universos, as coisas parecem menos importantes. Você parece menos importante”.
Não é verdade.
- “E se eu fosse substituído? Um “eu” de um universo paralelo extremamente parecido comigo, mas que não fosse eu... Apesar que seria literalmente eu mesmo, mas você entendeu”.
Três anos depois, encontrei a resposta que nunca vou conseguir dar a ele. E a conclusão que cheguei, é que apesar da infinidade de universos existentes, em nenhum deles vou encontrar alguém exatamente como ele, nas mesmas circunstâncias, da mesma maneira, com as mesmas atitudes e características.
É verdade, o universo é grande e as possibilidades são infinitas. Mas até agora, estou tentando encontrar a parte dele que foi menos importante aqui.