Aquela manhã (pt2)
Depois de muita conversa, eu os convido para minha casa. No caminho conto o que fiz, pelo o que passei, minhas conquistas. Ela desde pequena gostou que eu contasse como seria quando eu entrasse no Exército.
-Conquistou tudo mesmo, não foi? Mas lembro que você queria ir pra fora, não foi ainda?
-Então, Lu. Eu não gosto muito de falar disso, mas sim, consegui, as vezes volto lá. Estou prestes a receber outra transferência. Jamais vou me reclamar, é tudo que eu sempre quis, viajar, ajudar, não sou uma pessoa fixa. -E vou lembrando dos pesadelos. Victor tá calado.
-E você, Victor? Cursar exatas, ok, mas quem diria em Harvard, não é?
-Você sempre disse que queria sair de lá, nunca disse que eu ficaria também. -E abre um sorriso satisfatório.
Luísa nessa hora correu pra olhar algumas lojas, sempre soube que gostaria de fazer compras. Eu e ele ficamos esperando no jardim do condomínio onde moro, olhando as crianças brincarem.
-Quando a gente se afastou? -Tentei não demonstrar espanto. Porque ele quer falar disso agora?
-Pessoas se afastam, Victor. -Ótimo.
-Mas, não teve um motivo, não é? Você sempre me falou como era, eu sempre te disse que entendia, eu disse que não ligava, mas sumir daquele jeito...
-O resultado tinha acabado de sair, logo depois eu viajaria. Eu não queria me despedir, você sabe.
-Você também sabe do que eu tou falando. Naquela altura a gente já tinha se resolvido, creio eu. Você até "apoiou" que eu ficasse com aquela menina, que não deu nem um pouco certo. Mas quero saber antes disso, a gente tava juntos. Tava dando certo, não tava? E... Você só saiu.
-Sempre te disse que eu era assim, não entendo a surpresa. Eu gostava de ti, nunca lidei com isso, e me assustava o quanto aquele sentimento tinha crescido.
-E porque não insistiu? Você não sente mais nada?
A gente tinha 17 anos, foi o melhor relacionamento que tive pra algo que não era sério. Estávamos felizes juntos. Sempre priorizamos a amizade, mas, é claro, que acabou em outra coisa. Não defendo o que eu fiz. Se eu não sinto nada? Sim, sinto, mas eu não posso. Resultaria em que? Em eu fazer ele viajar comigo pelo Brasil ou até mesmo fora? Nunca teríamos um lugar nosso. Ele tá investindo na carreira dele, eu não me atreveria atrapalhar isso, e nem me perdoaria. Hoje com 28 anos não mudei meu pensamento, ele também sabe de tudo isso.
-Não é mais fácil você perguntar se eu não sentia? Hoje não faz diferença. -Também me viro pra ele.
-Eu sei que sentia, do contrário não teria saído. Àquela altura eu era a pessoa que mais te conhecia. É só que eu nunca entendi.
Victor tá alisando meu rosto, tá olhando pra mim e eu já sei onde isso vai dar. Aguenta, Mary, só vão ficar aqui até amanhã. Sempre gostei de olhar nos olhos dele, eles trazem uma sensação de serenidade.
Não acredito que ele tá me beijando, não acredito que eu tou deixando. Somos adultos agora, você é adulta. Haja como tal! Sai desse beijo, mulher. E cá estou eu retribuindo.
A gente se afasta pq escuta Luísa gritando por nossos nomes.
-Não a deixe sozinha, você sabe o que acontece. -Sim, ele sabe, por isso acena pra ela rapidamente pra que ela nos encontre.
(Continua...)