CASAMENTO SE ACABA NA PORTA DA IGREJA

   Esse casamento não era para acontecer apesar de programado, assim pensou Lúcia justo no momento em que se arrumava para a cerimônia. Precisava fazer isso chegar até Paulo, seu noivo, que a essas horas também já devia estar se preparando para o grande dia de sua vida, ela sabia que ele a amava, suas atitudes no decorrer dos dois anos que se conheciam davam a entender, coisa que jamais poderia duvidar, mas nesse instante em que colocava o lindo vestido branco em seu corpo algo a fez mudar de ideia, lhe bateu uma dúvida tremenda, não poderia seguir em frente com esse casamento que lá na frente pudesse lhe trazer consequências nada agradáveis. Mas como dizer isso para as pessoas que a rodeavam? Como dizer isso para sua mãe, que foi quem mais a incentivou a levar a sério essa união que era do seu gosto? Lúcia, então, diante dessa situação, com os olhos lacrimejantes, olhou firmemente para sua irmã/amiga e lhe confidenciou isso, para espanto dela. Era a pessoa que mais confiava, além de irmã era uma amiga incondicional, fazia qualquer sacrifício por ela. Atônita, sua irmã Leila ficou a imaginar o que poderia estar acontecendo, pois Lúcia não lhe falara nada que pudesse por em xeque esse casamento. Pediu gentilmente para que as duas conhecidas que alí se encontravam se retirassem do quarto e sentou-se na cama ao lado de sua querida irmã. Ia começar então uma série de indagações e explicações da parte de Lúcia.

   O leitor deve estar também meio confuso com essa situação de Lúcia, querendo saber o porquê dessa pretensa desistência dela de se casar com Paulo, seu noivo, mas vamos a um fato que ocorreu dias antes desse anunciado evento para que se entenda melhor a posição da nossa figurante. Estava Lúcia saindo de um consultório médico quando subitamente lhe surgiu a frente um rapaz de nome Everaldo, o qual lhe cumprimentou formalmente e foi reconhecido por ela, que prontamente lhe abriu um sorriso e o abraçou. Foram companheiros de escola quando ela tinha apenas quinze anos e ele dezesseis, hoje ela com vinte e três viu que sua fisionomia permanecia a mesma daquele tempo, tão significativo para ela, também para ele, pois tiveram a oportunidade de iniciarem um namorico que não durou nem três meses, pois por circunstâncias que fugiram deles acabaram se separando, já que os pais do rapaz foram morar em outro estado, justamente no final do ano letivo. O que a prendeu foi um pacto que fizeram durante o curto espaço de tempo em que conviveram e que não era praticamente um namoro, mas um flerte, pois não queriam tornar público esse caso, os pais de ambos nada sabiam, tinham eles tão somente como amigos de escola, só que nos momentos escolhidos por eles se encontravam para uma conversa mais íntima. Estavam prestes a anunciarem a união quando tiveram a notícia de que teriam de se separar, visto que ele iria morar em outra região distante da cidade em que viviam. Lúcia lamentou bastante, já estava se apegando a ele, o qual propôs a ela que nunca o esquecesse e com um canivete marcaram um coração cada um em seu braço como forma de perpetuar o amor. A moça ficou com a imagem dele por muito tempo após a sua partida, marcada por um longo beijo, bem diferente dos que costumavam trocar às escondidas. O tempo foi passando e Lúcia acabou esquecendo Everaldo, demorou para firmar um namoro sério, conheceu alguns rapazes até encontrar Paulo, com quem noivou e marcou casamento.

   Instintivamente Lúcia olhou para o braço, lá estava a marca do coração feita com canivete, um tanto apagada mas dava para ver o contorno exato de um coração. Paulo já tinha visto, mas ela afirmara tratar-se de bobagem da adolescência. Vendo a imagem agora seu coração foi aos pulos, despertou aquele antigo sentimento vivido na adolescência, pensou no encontro que teve com Everaldo na saída do médico onde fôra para uma consulta de rotina. Disse para ele que estava de casamento marcado, ele nada falou, apenas deixou rolar duas lágrimas que foram percebidas por Lúcia. Teve o ímpeto de beijá-lo durante o momento em que o abraçou, mas se conteve, não ia pegar bem, afinal era uma moça comprometida e estava para casar-se. Sua irmã ouviu todo o seu relato e entendeu perfeitamente a sua posição, só lamentava por tudo que já estava programado, o que iriam dizer os demais membros da família e os convidados? O enlace matrimonial estava marcado para as dezoito horas daquele sábado nublado, parecia que o tempo conspirava contra ela. Olhou o relógio, marcava três e quarenta da tarde, ela queria resolver essa situação a qualquer custo, seu coração lhe pedia isso. Caiu em prantos e tirou o vestido que acabara de vestir, jogou-o sobre a cama, sua irmã apenas observava essa triste cena também aos prantos.

   Em casa Paulo foi acometido de um mal estar, um fato estranho, começou a suar frio, teve que tirar o paletó que havia colocado, a gravata foi afrouxada, momento em que o telefone tocou e ele soube da notícia do cancelamento das núpcias, determinação de Lúcia. O mal estar passou, mas ele chorou convulsivamente, Lúcia não podia fazer isso com ele que a amava tanto, queria fazer dela uma esposa ideal para um marido exemplar. Infelizmente isso não seria mais possível, ela estava determinada.

   Cinco anos se passaram, Lúcia estava casada com Everaldo, tiveram dois filhos, um casal, o amor era intenso, viviam felizes, mas o destino marcou a vida de Lúcia com Paulo, ela soube depois que ele casou-se com uma grande amiga sua.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 02/03/2019
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