Não use de forma errada.

Por demasiado tempo,

tomei-me a pensar sobre esse corriqueiro caso,

onde a vontade de algo me deixou cego à realidade e acabou causando dor,

a quem em momento nenhum ousou de tanto pudor.

CONTO2 Não use de forma errada.

Pedro, em sua mais recente morada, perto de uma comunidade de pesca desfruta de novas distrações.

Nessa década, nesse momento o mundo vive ao redor da tecnologia e, com as novas amizades Pedro

aprendeu a se intreter de outra forma.

Era sábado, nem quente, nem frio.

Levantei-me da cama, mais uma vez, escorrendo minhas mãos pelos lençóis, procurando dessa vez

meu óculos e, meu descongestionante nasal do qual já não vivia sem.

Por sorte, encontrei ambos rápido. Visto meu óculos, uso meu descongestionante, olho o sol.

É dia.

Tomo meu café, escovo os dentes, olho-me no espelho, continuo com o mesmo desdenho à minha imagem.

Troco minha roupa, coloco o uniforme de serviço.

- L.S Refrigeração, que camisa horrível.

Volto a deitar-me na cama e esperar o meu chefe chegar com o carro, para irmos a caminho da Usina

na qual eu era auxiliar da manutenção dos ares-condicionados e tudo, na verdade, que relacionava-se

à refrigeração.

Dou mais uma cochilada, escuto bem no fundo a buzina do carro.

- Acorda Pedro! Vai perder a hora! Não vou aguentar você perdendo mais um serviço, moleque irresposável.

Minha mãe, Petra, esbravejava da cama dela.

A casa era pequena... Era uma cozinha, uma varanda e uma sala/quarto para 4 pessoas, mas, estava melhor que no

antigo lugar. Um definitivo muquifo.

Levantei rápido, corri pra fora, abrindo a porta já sentia o cheiro do Marlboro.

O Leandro já estava com aquela cara. " Esse cara nunca vai aprender... "

- Eae Leandrão, bora!?

Corri para o carro, seguimos o caminho escutando músicas sem sentido,

uma trajetória sem sentido.

Chegando, o Leandro, como sempre, de ressaca, pediu para eu ir limpando uns ares enquanto ele

ia ficar descansando no carro, peguei o Veja - pasmem, eu usava uma versão " genérica " chamada Óia.

E fui, com a escada do lado nos braços, seguindo meu rumo. Como sempre, avoado, minha mente nesse momento já tinha

tomado o costume de imaginar-me em um romance perfeito, sentir amor. SENTIR AMOR de verdade. Imaginava o que

faria se o amor aparecesse, me desse um singelo oi e me abraçasse, cairia em prantos ou o abraçaria com toda minha força?

Cheguei no primeiro escritório, todos me olham, afinal, hoje, tenho 1.87 de altura, costumo chamar atenção.

Monto a escada e ponho-me a limpar o ar condicionado enquanto escuto e observo, cada um vivendo sua vida

em um bloco separado, que eu chamo de " o individual ".

Tomei esse hábito de observar, auto-defesa. Não posso ser pego desprevenido de novo.

Assim sigo o trabalho, enrolando o dia enquanto meu chefe se recupera da noite passada. Todas as

manhãs...

Volto para casa, no trajeto sem sentido, ouvindo músicas sem sentido, imagino como será a noite.

Chegando, logo encontro o Anderson me chamando para jogar sinuca, alegando ter me dado uma surra ontem e

eu, com um belo espírito competidor, não pude negar o convite.

Coloco uma bermuda e vou para a mesa de sinuca.

Enquanto jogavamos, Anderson dizia:

Pô Pedrinho, final de semana passado que a gente ficou com aquelas minas, to falando com a Geovana até hoje,

cê tem falado com a Aninha?

Logo pensei " Nossa, Aninha? Tinha até me esquecido daquela baixinha, bem legal ela. "

- Não Derson, nem troquei mais idéia.

- Então manda mensagem pra ela hoje! Ela não para de falar de você para a Geo.

- Mas como assim Derson? Só ficamos uma vez.

Anderson:

- Sei lá o mel que você tem cara, fala com ela.

Terminamos a melhor de 3, saí ganhando e me gabando dizendo que comigo ninguém pode.

Voltei para casa, comi, deitei no meu canto, peguei o celular e mandei mensagem para a Ana.

Comecei a conversar com ela, meio sem vontade... Não tinha sentido atração assim por ela.

Deixei-a falando sozinha e dormi...

Mais um dia típico, acordei no domingo, tomei café, escutei minha mãe reclamando da vida,

mal ví minha irmã mais nova, Carla andava meio distante... Acho que era o começo da puberdade, não a reconhecia mais,

não totalmente.

Pego o celular, tem mensagem da Aninha, devo ou não dar atenção?

Decido dar atenção...

Ela diz que a Geovana vai tomar açaí na praça com o Anderson e queria que eu fosse,

bem, eu fui.

Pouco antes de chegarmos o Derson me avisou:

- Toma cuidado Pedrinho, ela parece tá afim mesmo de você, não vai dar esculacho não hein! Você tem essas suas

manias doidas de jogar tudo para o alto e tentar fazer tudo parecer um final de filme de domingo à tarde.

Eu retruquei!

- Ei, qual é? Não é assim não, tem um coração aqui também.--- " Tem um coração aqui também, assustei-me. Há coração aqui, porra. "

Chegando, já pude ver o brilho nos olhos dela, ê Aninha, no que você está se metendo, hein?

Tomamos o açai e conversamos bastante. Mesmo assim, analisei bastante a mesa.

O jeito que o Derson olhava para Geovana e a Geovana olhando para o Derson.

Era isso que eu queria... Olhando para o lado, enxerguei o olhar dos dois na Aninha.

Seria essa a minha guria?

Decidi me aventurar. Sem medir consequências.

Levei o casal embora e fui levar a Ana.

Ela meio trêmula, de nervoso.

Indaguei se tinha algo que à gerasse desconforto.

Ela disse que era porque ansiava muito me ver de novo.

Eu disse:

- Calma Aninha, eu não sou tudo isso, sou só um garot--- Ela interrompeu-me com um beijo, delicadamente

gostoso.

Era o segundo beijo da vida dela, eu não sabia que tinha sido o primeiro.

Retribui o afeto da mesma forma.

Foi tão quente, acho que era paixão.

Da parte dela...

Voltei pra casa, pensativo... Será ela aquilo que eu tanto procuro?

Para, deve ser bobeira da minha cabeça. Corro pra cama, amanhã tenho que trabalhar.

É segunda, estou demasiadamente mais cansado que o normal.

Pego o trajeto sem sentido mais uma vez, com meu chefe de ressaca, escutando música sem sentido...

A mesma rotina que sentia que prendia-me cada vez mais.

Mas, desse dia em diante, começo a trocar mensagens com a Aninha enquanto estou no serviço, estranho.

Criamos afinidade de uma noite para outra.

Acho que foi muita vontade de ter algo, mas logo apago essa idéia da mente.

Chego em casa, Derson já está com a Geovana. Estou sozinho.

Ela me liga, fala que quer me ver. Eu, atoa, pego a moto velha e subo até sua casa.

Ela está do lado de fora, eu ando com saudade de atenção, ver se tiro um pouco desse peso que tem na minha mente.

Nos beijamos de novo, conversamos pouco...

Dou um beijo na testa dela e digo-

- Até outro dia broto.

Volto para casa pensando de novo, será que estou gostando só porque estou recebendo atenção?

Eu sinto uma dificuldade particular em estar sozinho nessa imensidão...

Meu quarto, não tem o meu " individual ", mas mesmo assim, estando sozinho,

vivo sendo invadido.

Chego em casa, minha mãe preocupada com as contas, olha e diz que deveria me esforçar mais,

Que sou como meu pai.

Eu escuto isso o resto da noite, até finalmente dormir, ouvindo Creep do Radiohead.

Acordo, cansado.

Não quero mais esse serviço, esse rumo sem sentido. Mas preciso continuar pra ajudar em casa...

Passo mais um dia, trocando mensagem com ela e com o Derson, que diz que vai começar a namorar a Geovana.

Fico boquiaberto com a situação, meu Deus.

Decido seguir em frente com a Aninha! Se o Anderson pode, eu também posso.

Continuamos a nos ver por 1 mês...

2 meses...

Ela me pede em namoro. Fico surpreso. Aceito.

Ela me acorda de manhã e não grita comigo, conforto, alívio.

Mas eu, no fundo, não sentia o que devia.

Perduro mais uns meses nessa sensação até começar a notar que, eu não a amo.

O ciúme dela, começa a se tornar insuportável.

Me afastei do mundo...

Pra viver só para ela, não podia desperdiçar a chance.

Cada dia mais afundado nesse escuro.

Conviver com ela e minha mãe tornava as coisas muito difíceis.

De um lado o amor que eu lutava pra ter e não conseguia, e, de outro, o que eu tinha sem nem merecer.

Era uma culpa ambígua, de não ser suficiente para ambas.

Isso durou 9 meses.

Até decidir terminar o namoro com Aninha. Derson e Geovana estavam firmes, Geovana estava

grávida e eles INCRIVELMENTE felizes e, não, não era isso que eu tinha. Eu tinha conforto.

E isso não era justo com a Aninha...

Numa noite, levei ela embora tomei coragem e disse:

- Aninha, sinto muito, mas disso tudo, é tudo sem sentido algum. Olha pra gente, totalmente presos no

conforto de um ter o outro.

Ela já chorava, mas me mantive firme.

Ela pediu uma semana pra me deixar pensando se era isso mesmo que queria...

Aceitei com dor no peito, pois sabia já sabia a resposta.

Passei uma semana leve.

Só tinha na cabeça o peso de não ser um bom filho, de não ter tido um pai, de não ter rumo.

De ser só palavras.

O sétimo dia chegou, ela veio em casa... Desconfiada...

Eu abracei ela...

E meu corpo falou mais alto.

É triste admitir, mas por impulso disse que queria voltar.

Queria me saciar...

Lembro como me olhou pouco antes de nos deitarmos, como se ela já soubesse o resultado.

Quando levantamos, o ar tinha ficado pesado.

O meu quarto, já estava inundado.

Coberto de Adeus.

Ela sabia... E também sabia eu.

Levei ela embora de bicicleta --- a moto estava sem bateria.

Chegando lá, disse-

- Meu anjo, infelizmente não vai dar... Eu não consigo ficar nisso preso, parece que meu cérebro não consegue

pensar...

Me desculpa por antes e por toda a dor que ainda há de vir. Eu gostei de você, mas o amor não brotou como

pensei que fosse ser...

Virei a bicicleta e sai, enquando Aninha corria, dizendo que não podia ser assim o fim.

Mas foi. Em prantos, eu na bicicleta da minha mãe e a garota que eu não amo correndo atrás de mim...

Esse não é um conto com final feliz. Muito longe.

É um aviso.

Quando você sabe que é, você sabe.

Não espere que o tempo traga o amor que você sonha... Deixei me levar pelo relacionamento bom do meu amigo

e de tanta vontade de ter algo parecido, acabei pecando.

As vezes temos poder demais sobre as coisas e não sabemos lidar com isso.

Guarde esse poder com juízo.

Não use de forma errada.

O amor nem sempre brota dos dois lados.

Mas o lado bom é que uma hora você esquece...

Ou escreve tudo num bloco de notas e mais uma noite se entristece.

Pelas falhas que todo homem um dia tem.

Pelas falhas que todo humano um dia tem.