.................. P R E D E S T I N A D O S .............
Rua do Passeio, São Luís – Maranhão. As casas de número 1000 e 1001 além de vizinhas ficavam de frente uma para outra. Na casa de número 1000 morava um garotinho de nome Eleaquim e na casa de número 1001 uma garotinha chamada Miuqaele, perceba que os nomes têm algo em comum, porém ninguém estava atento a esse detalhe, os nomes foram escolhidos independentes, nada a ver com os dois particularmente, foi apenas uma dessas coincidências da vida. Miuqaele é exatamente Eleaquim ao contrário.
O garoto tinha cinco anos de idade, moreno claro, bonito, expressivo até demais para a sua idade; ele era de uma inteligência notável e a garotinha, por sua vez, graciosa, calma e linda! Os dois fizeram amizade rapidamente, viviam brincando juntos. Ela tinha a mesma idade que Eleaquim. Os dois cresceram juntos e já se olhavam um tanto diferente já com 12 anos.
Passaram a estudar na mesma escola e um ajuda o outro nas tarefas escolares, os pais de ambos admiravam a amizade deles e até já desconfiavam dos sentimentos dos dois, porém sem levar muito a sério devido à idade deles.
Toda essa convivência acabou levando os dois ao primeiro beijo e a partir daí um namoro às escondidas. Por enquanto uma relação totalmente inocente, coisa de criança mesmo, mas os anos foram passando e a juventude chegando e o namoro ficando mais forte e os sentimentos se aflorando.
Ambos, com 15 anos de idade. Então aconteceu a primeira separação, os pais de Miuqaele resolveram se mudar de cidade devido ao trabalho do pai da garota e tiveram que partir para a cidade de Marabá do Estado do Pará. Moraram em Marabá por 12 anos e por incrível que pareça, o casalzinho de namorados não se correspondeu nesse período, houve um desencontro, uma confusão com número de telefone e Eleaquim não gostava de redes sociais, ele era totalmente avesso à tecnologia diferentemente de quase todos os garotos da sua idade.
Assim, todo esse tempo passou e os dois já estavam com 27 anos de idade. Ela formada em medicina, se especializou em cardiologia e ele também era médico com especialidade em ginecologia. Ainda sem consultório próprio ou clínica, ambos trabalhavam em hospitais públicos. Ele na Santa Casa em São Luís e ela no hospital geral em Marabá.
O Doutor Eleaquim guardava em seu coração sua eterna namoradinha, apesar de todo esse tempo sem vê-la e o mesmo acontecia com a Doutora Miuqaele. Após anos passados, suas aparências eram outras, ambos estavam irreconhecíveis se comparados com o período de adolescentes, embora a beleza dos dois não tivesse perdido o encanto.
A Doutora gostava que lhe chamassem de Elea, todos na cidade de Marabá a conheciam como Doutora Elea. Esse apelido foi escolhido pela própria para homenagear o seu amado Eleaquim. Já o Doutor Eleaquim que morava e trabalhava em São Luís, também resolveu homenagear a sua amada da adolescência e preferiu se apresentar como ‘Amiuqa’, era exatamente assim que ele escrevia o seu apelido.
Portanto, era a Doutora Elea e o Doutor 'Amiuqa'. Ele, Ginecologista e ela Cardiologista. Um belo dia, a Doutora Elea que sentia dores na vagina, resolveu que iria até São Luís para se consultar com uma ginecologista na Santa Casa indicada por um médico amigo dela, a mesma jamais imaginava que a Ginecologista da Santa Casa era, na verdade, um Ginecologista e por ironia do destino, justamente o seu eterno amor.
Preparou-se, portanto e, dirigiu-se a São Luís, chegando a Santa Casa, identificou-se como Doutora Elea como sempre o fazia e pediu para a recepcionista colocar em sua ficha como se seu nome fora realmente Elea e não Miuqaele e explicou que não gostava muito do seu nome e já era conhecida dessa forma, a recepcionista concordou sem nenhum problema, até mesmo pelo fato dela ser uma médica.
Sentada na sala de espera, chamava atenção de todos por sua beleza e postura e após alguns minutinhos de espera, ouviu o seu nome e adentrou a sala do Ginecologista, Quando o viu, sorriu e disse que achava que era uma médica e não um médico. O Doutor 'Amiuqa' se apresentou como tal e os olhares logo se cruzaram, pois a Doutora se encantou com a beleza do seu Ginecologista.
Conversaram bastante, a consulta e exames rotineiros foram feitos, mas no final, o Doutor não resistiu e convidou sua nova paciente para um almoço, convite aceito imediatamente, pois a empatia foi automática, porém os dois não se reconheceram de forma alguma.
O almoço aconteceu e conversaram sobre suas profissões e os trabalhos desenvolvidos. A Doutora Elea contou que era Ludovicense, mas não quis entrar em detalhes.
Fascinados um pelo outro, iniciaram rapidamente um namoro e começaram a sentir um pelo outro algo tão forte que só conheceram em suas adolescências, sem saber, obviamente que o sentimento ora aflorado era, na verdade, o mesmo de sempre.
Com uma vida corrida decorrente da função que ocupavam e sem falar da distância em que viviam, foram levando da maneira possível os seus encontros e viagens, etc... O amor só aumentava, mas nunca haviam revelado um ao outro os seus nomes originais, ambos imaginavam que os nomes apresentados eram legítimos e não apelidos.
Namoraram durante cinco anos num vai e vem entre São Luís e Marabá, isso quando sobrava tempo em suas atividades. Os dois já estavam com 32 anos de idade e resolveram se casar. Pasmem! Os dois só descobriram suas identidades, na frente do Juiz de paz, no Cartório. O Doutor não se conteve, chorou como uma criança e, não sabia se abraçava ou se beijava sua amada que também em prantos de felicidade só sabia dizer: meu amor, meu amor, meu amor... Os dois casaram e felizes resolveram passar a lua de mel no Rio de janeiro.
Após três dias de lua de mel, tudo estava indo bem, parecia um sonho; felizes saíram para passear no calçadão em Copacabana e de repente parou um carro com os vidros fechados e totalmente escuros, um homem alto e forte saiu do carro, pegou com força os braços da Doutora Miuqaele e a colocou dentro do carro que saiu em alta velocidade. O Doutor Eleaquim entrou em desespero, não sabia o que fazer nem o que pensar e pediu ajuda aos transeuntes, a polícia foi acionada, mas ninguém tinha pista daquele carro.
A Doutora Miuqaele foi confundida com uma atriz americana que estava a passeio pelo Brasil e acabou sendo sequestrada por engano e levada para os Estados Unidos. Após muitas tentativas à procura de sua amada esposa, Eleaquim desolado, voltou para São Luís abatido e choroso.
Era um tormento não saber o paradeiro de sua esposa, ninguém tinha informação alguma, a própria polícia não dizia nada, apenas pedia paciência e dava uma desculpa qualquer.
Os anos foram passando e levando consigo as esperanças de encontrar sua esposa viva. O Doutor transformou-se num homem triste e solitário, mesmo no seu trabalho era possível perceber a sua desolação.
A Doutora por sua vez, foi abandonada meses depois, pelas ruas de New Jersey nos Estados Unidos, inconsciente e muito ferida. Encontrada por um casal de idosos, foi levada para o hospital onde ficou internada e em coma por um bom tempo.
Restabelecida foi morar na casa desses idosos que cuidaram dela com todo carinho, mas não tinham dinheiro para que ela fosse mandada para o Brasil ainda mais que ela não se lembrava dos acontecimentos e das pessoas.
Passou dias difíceis nos Estados Unidos, mas recuperou-se e se habilitou para trabalhar como médica por lá e assim foi ficando até que um dia resolveu voltar ao Brasil. Já haviam se passado 38 anos, ela já estava com 70 anos de idade e era uma cardiologista de “mão cheia”.
Com 70 anos também estava o Doutor Eleaquim e o pobre coitado, sofreu tanto por amor que acabou doente, o seu coração já estava fraco e já tinha passado por uma cirurgia. Os seus cabelos já estavam branquinhos, sua pele fina em virtude da idade e descuido.
Um belo dia pediu a sua irmã que lhe levasse ao Teatro Arthur Azevedo, pois queria assistir a uma peça em cartaz e a sua irmã não lhe pôde negar. Sentaram nas primeiras fileiras ao lado de uma senhorinha com os cabelos tão brancos quanto os dele e se cumprimentaram rapidamente, pois a peça já iria começar.
Durante a peça, Eleaquim se emocionou tanto... Por lembrar-se da sua amada que sofreu um ataque cardíaco, logo foi levado para fora e a senhorinha ao lado disse: - Deixa-me ajudar, sou cardiologista e foi logo fazendo os procedimentos necessários até que o SAMU chegasse. A senhorinha fez questão de acompanhar até ao hospital e não saiu de perto dele por nem um minuto.
O Doutor Eleaquim passou dias na UTI e todos os dias a senhorinha o visitava. Ele foi submetido a mais uma cirurgia e aos poucos, milagrosamente ia melhorando, apesar da idade. Um belo dia! Já sem nenhum tipo de aparelho, conversando com seu 'anjo da guarda', a senhorinha do teatro, agradeceu por ter salvado a sua vida e em seguida perguntou o seu nome e ela disse: - Não gosto muito do meu nome, por isso desde novinha escolhi um apelido para homenagear o único e grande amor da minha vida, o meu marido e todos me chamam de Doutora Elea que vem do nome Eleaquim, o meu amor.
Neste momento, O Doutor respirou fundo, começou a chorar e com voz trêmula disse: Doutor Eleaquim sou eu, meu amor. E sem acreditar, a Doutora Miuqaele abraçou o seu marido e os dois ficaram ali abraçadinhos por um bom tempo.
Chamaram os familiares e esclareceram toda a história e os dois puderam voltar para casa numa felicidade única, tudo parecendo um conto de fadas, um milagre do amor, da vida; uma predestinação. E os dois viveram felizes até o último dia de suas vidas.