AMANTES AO LUAR

Conta-se que numa pequena aldeia perto de Brest, na Bretanha francesa, vivia uma linda donzela, loura como o sol e sempre sorridente. De seu nome Amelie, era pobre, filha de rendeiros, mas dizia que a sua maior riqueza era a alegria de viver despreocupada, correndo pelos campos, perseguindo e brincando com os pássaros que chilreavam pelas árvores.

Quis um dia que a sorte a tomasse de amores por Pierre, filho do mais rico proprietário rural do lugar. O namoro depressa se desenvolveu, ela apaixonada, ele sempre o escondendo, com medo do pai. E o que era para acontecer, sucedeu… Amelie engravidou e então falou para o namorado da sua situação. Ele ficou aterrado, disse-lhe que não poderia envolver-se com ela, dava-lhe dinheiro para se desfazer da criança.

Amelie ficou revoltada com a atitude de Pierre, era um covarde. Falou com a mãe, que após horas de choro pela sua desdita, tratou de enviar a filha para casa da irmã, bem longe dali.

Passados meses, Amelie deu à luz uma belíssima menina, também loura e rechonchuda, a quem chamou de Marie. Deixou-a ficar mais alguns anos em casa da tia, que lhe deu esmerada educação num colégio de freiras.

Marie só veio ao encontro da mãe já era adolescente, quase adulta, a progenitora estava muito doente e o pai falecera de ataque cardíaco há vários anos atrás.

A mãe também faleceu passados meses. Entretanto, com a ajuda dos tios, abriu uma lojinha de bordados, que fazia com as próprias mãos, pois era muito prendada.

Soube que Pierre tinha casado e abalara para Inglaterra, onde o pai lhe comprara uma cottage com largos hectares de terreno de cultivo, para além de lhe dar um rendimento chorudo.

Marie teve no início muitas dificuldades financeiras, levava uma vida de clausura pois apesar dos tios estarem presentes, o dinheiro mal chegava para o dia-a-dia. Agora adulta, estava esbelta e atraente, o belo rosto sempre emoldurado de longos cabelos louros.

Algum tempo depois, Marie foi a uma festa na paróquia, a primeira da vida dela, e travou conhecimento com várias pessoas, para ela completamente desconhecidas. Entre elas, foi-lhe apresentado o filho do atual caseiro do pai de Pierre. Era tímido, moreno, mais alto que ela e chamava-se Antoine.

Ficou fascinada pelos olhos dele, verdes azeitona, bem como pela delicadeza com que a tratava. Ambos não sabiam dançar e por isso ficaram muito tempo lado a lado, conversando.

A tia, já viúva, observava à distância e às tantas foi buscá-la, dizendo que era tarde.

Pelo caminho ralhou muito, lembrando-lhe como se tinha dado o infortúnio de sua mãe. Marie aceitou o conselho, sabia que a tia era como uma mãe e só queria o bem dela.

Mas algo nasceu naquela noite, um sentimento que se foi fortificando dia após dia, pois eles nunca mais deixaram de falar, aproveitando todos os momentos. Amavam-se e isso mesmo Marie transmitiu à tia. Ela lamentou aquela paixão, que só traria desconsolo e tristeza à sobrinha.

Quis o infortúnio que num sábado à noite, Antoine se envolvesse numa briga com um vizinho, homem de maus fígados, truculento e ordinário, pois gabou-se de já ter seduzido Marie. Antoine não era homem para calar desaforo e envolveram-se numa luta com navalhas, tendo o outro sido mortalmente golpeado no coração.

Antoine foi a casa de Marie e pediu-lhe para fugir com ele, ao que ela, entre prantos, lhe disse que não poderia abandonar a tia, que tinha sido uma verdadeira mãe para ela. Antoine insistiu, mas não a conseguiu convencer e perante a ameaça da polícia, que já o procurava, desapareceu para local desconhecido.

Nunca mais Marie saiu de casa para ir a uma festa ou simplesmente para passear e apesar de muito assediada, sempre recusou com amabilidade.

O tempo passou, gente morreu, crianças nasceram…

À entrada da aldeia, há uma rocha num monte acima, que serve de miradouro, onde, em noites de lua cheia, alguns caçadores já juraram ver um casal abraçado, quando por ali passavam regressando da caça.

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 11/02/2019
Reeditado em 26/11/2022
Código do texto: T6572597
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.