Um Conto de Castelo - Sinopse, Capítulos I a IV

Sinopse

Berenice era a única filha de uma grande fazendeiro da região. O pai contraíra grandes dívidas com o "Barão do Café" que após enviuvar-se, propôs o perdão da dívida caso se casasse com Berenice. Ele queria uma jovem esposa para cuidar da sua prole e da Casa Grande da Fazenda do Meio.
A moça sempre se sentiu incomodada com os olhares do barão. Mesmo antes de sua esposa falecer, em constantes visitas à seu pai, o homem já grisalho, lançava-lhe olhares gulosos a que ela tinha verdadeiro pavor.
Certa vez, encurralada na varanda da casa ele forçou um beijo e profetizou que ela seria prenda dele.
Agora, o pai endividado punha em risco o sonho de Berenice de ser professora, casar-se com Jerônimo, a contra-gosto do pai, e ser feliz talvez no vilarejo próximo às terras paternas.
Jerônimo era filho do capataz do temido Onofre di Santis, o barão do café. Cresceu admirando à distância, a menina de tranças, nas muitas viagens às terras do Coronel Afrânio, quando acompanhava o pai e seu patrão. Berenice notou o rapaz valente quando nas festas religiosas, ele que era o predileto, vencia os rodeios e depois tocava modas de viola para os peões. Ela dava sempre um jeito de entrar na cozinha e ouvia tudo ao lado de dona Zefa, mãe de Jerônimo, cozinheira da casa dos seus anfitriões.


Capítulo I
Na sala

A família se preparava para receber a visita do barão e sua família. D. Constanza, preparava os melhores vestidos para ela e sua filha, organizava para que os meninos estivessem limpos e bem vestidos e coordenava a cozinha que produzia quitutes, bolos e chá para o período da tarde. Mais à noite o jantar contaria com os melhores perús que tinham e doces de diversas qualidades eram primorosamente preparados.
O barão vinha com a família para pernoitar na fazenda, afinal, a viagem era um pouco longa, havia trechos difíceis e os animais precisavam descansar.
Berenice estava sorridente e seguia o script que a mãe lhe ensinara. Mas ela não gostava nada de ver os olhos do barão fixos nela enquanto seu pai falava dos negócios que os dois homens tinham.
- O que foi mia fía? O que aconteceu pra você entrar na cozinha desse jeito?
- Não gosto nada desse barão. Ele tem um olho ruim, Doninha. Ele parece que nem está ouvindo o que meu pai diz. Eu sinto que ele só olha para mim.
-Deixe de bobagem menina, a senhora dele está lá ao lado, sua filha Juliana também. Porque não a chama para tomar um ar fresco na varanda?
Berenice saiu satisfeita com a recomendação de Doninha, mas foi adentrar o recinto e o barão deu a ideia ao pai que a menina não pôde deixar de acatar.
- Onofre, peça à sua Berenice para tocar ao piano. Suas mãos de fada nos deixariam muito encantados!
E assim foi feito. Berenice se dirigiu ao piano e tocou todo o repertório dando graças de não ter de olhar o barão novamente.

*****
Capítulo II
O encontro

As festas eram raras, mas Berenice se preparava todos os meses de julho para ir com a família à Fazenda do Meio.
Eram três dias de festas, missas na capela erguida por Dona Hermínia, os rodeios onde Jerônimo era a sensação e a noite passava rapidamente com farta comida e bebida oferecidas pelo Barão do Café.
Numa dessas festas, Berenice estava olhando a fogueira quando alguém chegou por trás e disse:
- Esse fogo queima, mas não queima tanto quanto um amor impossível.
Ela se virou rapidamente e viu Jerônimo com os olhos fixos nas chamas. Depois ele desviou o olhar para o chão e se desculpou por aproximar-se da dama.
- Não, espere!
Disse Berenice num tom tão doce, que o rapaz se voltou sorrindo.
- Devo-lhe parabenizar pelo excelente trato com o Boi Bravo. Você realmente é o que dizem.
- E o que dizem?
- Que você é um homem valente... E muito bonito.
- Moça, não se deve levar a sério o que essa gente diz.
E retirando o chapéu se afastou antes que alguém pudesse repreendê-los, afinal a peonada era proibida de falar com os hóspedes da Casa Grande.

Berenice naquela noite custou a pegar no sono. Não acreditava que tinha confirmado para Jerônimo que o achava bonito.
No dia seguinte Jerônimo cavalgava bem cedo indo para Castelo, buscar alguns provimentos. A estrada linda, entrecortada de serras e vales ficou mais bonita para ele. O ar puro inflava-lhe os pulmões, a fragrância dos eucaliptos lembravam-lhe a delicadeza dela. O rapaz imaginava Berenice compartilhando a mesma cela, os cabelos esvoaçando ao vento que magistralmente, desmanchava-lhe as longas tranças...

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Capítulo III

Peças do destino

Dona Concenza já estava há quinze dias na Fazenda do Meio. Dona Hermínia estava de mal a pior, como dizia Doninha.
-Vá Berê, leve essas roupas limpas para sua mãe. Já foram avisar o vigário e parece que de hoje a esposa do barão não passa.
Berenice saiu à cavalo, acompanhada de seu irmão mais velho, Bernardo, que a conduziria até a fazenda e depois retornaria para cuidar das plantações de seu pai. Berenice deveria acompanhar e ajudar a mãe que cuidava da amiga moribunda.
Ela temia encontrar-se com o barão, mas soube que ele estava viajando, trazendo um médico de Cachoeiro. A viagem durava alguns dias e provavelmente ele estaria lá somente no dia seguinte.
Quando chegou na porteira se despediu de Bernardo. Seguiu sozinha por uma vereda e ao cruzar o bosque percebeu um cavalo se aproximando. Era Jerônimo.
Seu coração parecia que saía pela boca, mas ela se conteve e apressou a cavalgada.
- Moça, não precisa fugir. Eu só ia dar-lhe boas vindas.
O cavalo de Jerônimo se antecipou e atravessou a pista e por isso Berenice teve de parar também.
- Isso são modos de receber os visitantes?
- Desculpe-me, mas assim que a vi descendo, pensei que precisava de companhia.
Berenice desceu do cavalo, amarrou o animal numa cerca e procurou uma pedra que havia logo ali. Uma mina de água brotava naquele local e ela se refrescava sempre antes de chegar na sede da fazenda. Jerônimo a acompanhou e também se refrescou. A água cristalina brilhava à luz do sol e ela começou a brincar com Jerônimo, atirando-lhe a água com as mãos em conchas. Eles riram e nessa brincadeira se aproximaram a menos de um palmo. Berenice olhou em seus olhos e disse mais uma vez.
-Você tem olhos bonitos!
- Berenice, não fale assim. Você sempre foi toda bela. Eu sempre olhei pra você, quando ia para sua casa, ficava olhando pela fresta da porta da cozinha.
- Então era você? Você era o menino que vinha ver a tia...
- Sim, vinha com meu pai ver tia Doninha, levar alguma encomenda ou trazer outras. Mas nunca podia atravessar a porta da cozinha, nem ficar no pátio que dava para a sala da sua casa eu podia... mas muitas vezes ouvi você tocar.
Nesse instante, os olhos de Berenice mergulharam nos de Jerônimo e a paixão contida arrebatou-os num longo beijo.
- Não, não podemos Jerônimo! Preciso encontrar a minha mãe.
- Perdoe-me por isso. Prometo que nunca mais haverá de acontecer.

Jerônimo ficou com os olhos na estrada vendo a menina dos seus sonhos se afastar e Berenice não soube como conseguiu conduzir seu alazão até a sede.

Dentro do quarto:

-Menina, me ajude com as bacias. Cuidado para não se molhar! Você está esquesita, menina?! O que houve na estrada para cá?

Dona Concenza ia falando sem parar, a que Berenice só atendia calada, afim de não apagar da memória as últimas horas vividas naquele lugar.

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Capítulo IV

A promessa

Fazia três meses que o barão se enviuvara. As filhas dele já estavam crescidas e o menino, ainda pequeno, demandava cuidados especiais. A criadagem precisava de comando e o barão decidiu se casar novamente.
Havia dívidas que Cel. Afrânio não conseguia quitar. O barão, amigo que era, foi ao banco e comprou os papéis. Um alívio para o fazendeiro pois suas terras eram contíguas e caso não pudesse pagar, transferiria ao novo credor, parte da fazenda.
O barão então propôs algo diferente. Em vez de terras, pensou que se Berenice viesse com ele, as crianças estariam mais felizes e a criadagem teria alguém para comandá-la.
A princípio Afrânio não gostou da ideia. Sentiu o rosto queimar ao ouvir a proposta inusitada. Mas depois, ao longo dos dias, decidiu que era sim, a melhor saída, afinal, Berenice perto dos vinte anos já estava passando da hora de se casar. O pai não sabia do pretendente que enchia o coração da filha de alegria, mas se soubesse aí que seria muito pior para Berenice, pois a enviaria para o convento, seria freira como sua tia.
Constanza chorou muito. Pediu ao marido rever a decisão, mas estava tudo acertado. Cederia a mão da filha ao barão.
Berenice ainda não sabia de nada, não podia nem imaginar tamanha audácia do Sr. Onofre di Santis, o Barão do Café.
Ela não contou para o pai na época, temendo atrapalhar os negócios da família, mas três anos atrás o nobre, cujo título fora comprado, diga-se de passagem; havia lhe prometido isso. E agora cumpriria sua promessa.
Naquela tarde horrenda, ele a surpreendeu na varanda. Era uma tarde quente e Berenice estava molhando as flores do jardim. Quando passou pela varanda, o homem de meia idade, cabelos grisalhos, barba por fazer e roupa de linho um tanto amarrotada, lhe impediu a passagem e sem que alguém pudesse ver, tentou roubar-lhe um beijo, segurando forte o seu queixo. Berenice tentou se esquivar, e de forma prepotente ele disse bem perto do ouvido.
- Você ainda será minha. Você verá!

Naquela tarde, o pai chamou todos na sala e após o jantar anunciou que o noivado de Berenice estava prestes a acontecer. Ela se pôs a chorar. Se trancou no quarto e recusou-se a sair por alguns dias.

(Continua no próx post. Leia até o final, só mais um tanto desse... Venha comigo!)

 
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 29/01/2019
Reeditado em 09/07/2019
Código do texto: T6562249
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