Dia 94
Em uma sexta-feira a tarde, fui te encontrar em um parque. Cheguei quase uma hora atrasada, quando recebi uma ligação desesperada de alguém me dizendo que você havia se embriagado e caído de uma árvore.
Quando te avistei, respirei aliviada e pensei: "que bom que ele está bem". E não falei com mais ninguém. Naquela hora, tudo que eu mais queria era me certificar de que você ficaria bem pelo resto da vida. Mas eu ainda não imaginava que esse resto seriam apenas mais 3 anos.
Eu te acompanhei até o hospital e fiquei do seu lado, durante todos os exames, vendo a maneira sarcástica que você lidava com a situação, como se a sua vida realmente não importasse mais pra você mesmo.
Eu tinha cortado o meu dedo alguns dias antes. E quando você me viu e perguntou o que tinha acontecido, eu te contei que havia chegado bêbada em casa e cortado meu dedo com a faca, enquanto picava batata.
Você riu e me chamou de inconsequente e eu respondi: "pelo menos eu não fico me pendurando bêbada em árvores por aí e tendo convulsões no meio do parque".
Era engraçado o seu conceito de certo e errado, de consequência e inconsequência. Quando se tratava de você mesmo, nada tinha importância.
Se eu soubesse que seriam apenas mais três anos, eu faria tudo de novo, mesmo que fossem apenas mais 3 horas. A verdade é que é muito difícil amar alguém que não se ama, mas se você pudesse se enxergar da maneira como eu te enxerguei, você ainda estaria aqui.