O mito do Corvo Cerúleo - 1° Prólogo de Sintonia Almírica

Em tempos que estrelas eram a única fagulha de esperança no universo, quando os pontos de luz traçavam o caminho de Deus pelo universo infinito que criara, fingindo que nada era Ele Todo, sua chama queimou em brasa viva, mais forte que o ardor de um vulcão que nem existia ainda, a chama de amor e a chama do ódio de Deus explodiam no universo e Dele saiu um corvo e um sabiá celestes, duas aves contrárias ao destino, o sabiá pássaro de atitude, mais real que o irreal, procurava e clamava por um lar, cantava ecos do silêncio do espaço que sua voz não alcançava, era o piar de barulho mais quieto. O corvo pairava quanto o mais alto pensava, mergulhando novamente aos vazios da escuridão palpável, rasgando com suas asas todo o silêncio, até ambos pousarem nos ombros da Vida e da Morte. O sabiá encantava-se na Vida e seus galhos da coluna, cantando a sorridente felicidade em rosto celeste, rodopiando toda a Vida que ainda não existia, enquanto o Corvo olhava atentamente os olhos da Morte, agarrado no dedo e perdendo o medo da sua própria pessoa, recuado e cauteloso, mas confiante.

Deus então faz o mundo, cobiçado pela Vida e seus destinos, espalhando seus laços e traços, seu conhecido desconhecimento entre livre arbítrio e predestinação, colocando dúvida atrás de dúvida num mar de certeza que ninguém ficará satisfeito de respostas, enquanto o Corvo e o Sabiá mergulhavam pelos céus mundanos e pela primeira vez existindo na existência de incerteza cuja única certeza era não ter nenhuma. O primeiro sinal de vida nasce e o homem vive, andando pela Terra e com suas evoluções, manchando a natureza com sua própria natureza de superar o insuperável, sendo o frágil mais infinito que existe, sem limites de superação a não ser pelo trabalho amargo da Morte.

O amor era para todos que se mereciam, mas não para a Vida e a Morte que trocavam entre si presentes de vida eternamente guardados na sua morte, as gerações e os dias passavam e todos os dias haviam presentes e juras de amor, uma vida nasce, outra perece, o ciclo não se quebra e tudo retorna para Deus. Os pássaros subiram aos celeste e se colocaram na gaiola eterna, atada num laço de sangue como cadeado, os dois se amavam, mas a eternidade era dura demais para alguém que nasce para ser mortal, o sabiá branco se tornava cinza, pois suas cores se perdiam entre as grades, o corvo cerúleo ficava negro, pois não rasgava os céus para o azul lhe banhar num dia. Deus então arrebentou o laço e ambos fugiram ao celeste mais uma vez, até o Pai ter a ideia de fazê-los eternos numa infinita busca por eles mesmos. O Corvo Cerúleo renasceu como um corvo e o Sabiá Branco como um sabiá, pássaros mortais.

Infelizmente as almas imortais ficaram presas eternamente no mistério da reencarnação, procurando-se eternamente com a dúvida da frase que fariam eles se encontrarem.

Uma vida só, que uma vida só.

Uma vida imortal e sozinha.

Uma única vida eternamente acompanhando.

Sabia Branco, eu renasci e voarei.

Esse é o Mito do Corvo Cerúleo, renascido em carne e humano, a história de Loty Morthius, o violinista maldito do Cordas de Ouro.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 19/01/2019
Código do texto: T6554904
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