DE OLHOS FECHADOS -  PARTE III
 


 
- Oi!  Não gosto de beber sozinha, pensei em você me acompanhar!

- Claro, entre!

- Desculpe o traje, acabei de tomar banho.
 
- Traje? Toalha é traje? Disse Júlia, colocando o vinho sobre a mesinha de trabalho.  
 
- Ah, desculpe também pela roupa  de vovozinha! Sinto muito frio em São Paulo. Explicou Júlia sobre o pijama que vestia.
 
Ela fez um gesto de frio abraçando a si mesma. Isso foi o suficiente para deixar Ricardo louco para abraçá-la e beijá-la. O olhar de ambos  se cruzaram fazendo com que o desejo os dominassem naquele instante. Ela começou a beijá-lo de forma repentina, quase que selvagemente, parecia querer arrancar algo de dentro de si mesma. Havia urgência por parte de ambos, como se tivessem esperado uma vida inteira por aquele momento. Não havia palavras, apenas sussuros, eram puro instinto! Numa busca incessante para atingir o êxtase, como se desejassem possuir o corpo e a alma um do outro num desejo intenso e sofrido, que desafiava seus próprios limites.

Em meio ao turbilhão de emoções do momento, Ricardo tirou o pijama de Júlia, que sentiu a pele arrepiar-se em contato com o ar frio, mas ele a protegeu com beijos cada vez mais ardentes. Júlia dizia com o olhar o que queria. Ricardo via o desejo dela por ele aumentar a cada toque, o que o estimulava mais  ainda, pois não lembrava quando foi a última vez que uma mulher o desejou tanto! Os corpos tinham uma linguagem própria de comunicação. 
 
Júlia desceu suavemente a língua pelo corpo de Ricardo, que correspondia a cada carícia recebida. Ele imaginava e esperava ardentemente  que ela continuasse com aquilo, e  ela, quase que numa leitura de pensamentos, começou a traçar com os lábios uma reta em movimentos circulares até o umbigo, demonstrando que  não pretendia mesmo parar por ali, o que, pela simples ideia do que viria, já o transportava para sensações inexplicáveis. Quando percebeu que já se aproximava de onde ele tanto queria, gentilmente implorou que continuasse e empurrou levemente sua cabeça para baixo.

Mas, nesse momento,  a campainha tocou.


O susto fez com que Júlia  quase caísse da cama.  Ela ficou literalmente  em pânico. Ricardo precisou acalmá-la, pois ficou transtornada pedindo que ele não abrisse a porta.

- Calma! Julia. Eu tinha pedido um vinho para levar ao teu quarto. É a camareira, não se preocupe! Após a moça sair, eles reiniciaram de onde haviam sido interrompidos. O vinho ficou como ornamentação, pois tinha algo igualmente saboroso para fazerem.
 
 
*****
 
Ricardo acordou e percebeu que Júlia estava  quase caindo da cama.

- Puxa! Você dormiu bem rápido. Pensei que mulheres gostassem de ficar agarradinhas após fazerem amor. Você só virou e dormiu.

- Isso não é verdade! Odeio esses rótulos que colocam nas mulheres e nos homens como se todos fossem iguais. Mulheres também gostam de virar e dormir. Basta  gozar! Se não gozar fica a noite  toda agarrada kkkkkk.

- Estou indo pro meu quarto. Sinta -se beijado, preciso escovar os dentes porque isto aqui não é novela, em que as mulheres acordam com dentes escovados, maquiadas e  cabelos perfeitos!

- Se quiser pode usar minha escova. Disse Ricardo.

- De jeito nenhum. Só se faz isso com alto grau de intimidade.

- Hummm.


Ela saiu logo em seguida. Mas, antes combinaram de almoçar juntos lá pelas 15h, pois Júlia alegou que precisava comprar uma mala para colocar alguns projetos.
 
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- Júlia encontrou a mala que procurava, numa galeria bem movimentada próximo à Rua  25 de Março. Ricardo se prontificou a carregar a mala, sob protestos dela. Ainda dentro da galeria, chegaram a uma loja de produtos musicais. Enquanto ela olhava um techado, percebeu os vendedores e clientes sorrindo das "marmotas" de Ricardo que munido de um microfone, óculos escuros e chapéu, apoderou-se do microfone do locutor e começou a cantar de forma sofrível, uma música de "sofrênsia"  do cantor Pablo, que fazia muito sucesso pelo país.
 
"Estou indo embora, a mala já esta lá fora
Vou te deixar, (vou te deixar) vou te deixar
Por favor não implora, porque homem não chora
E não pede perdão, e não pede perdão".
 
 
 
Ela e os vendedores sorriam dele dançando na loja. Para não perder a piada resolveu entrar na brincadeira e fez um gesto de joelhos pedindo que ele não fosse embora. Ele a abraçou suspendendo-a levemente no ar e disse que não iria mais embora. O DJ da loja aproveitou-se do momento e, enquanto eles se beijavam, colocou uma música de Amedeo Minghi "La Vita Mia". Um clássico da música italiana. A cena foi antológica e hilária. Ambos saíram felizes.
 
 
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Durante o almoço ela pediu virada paulista. Ele, como sempre,  algo mais light.
 
 - Sabe... Quando eu era adolescente ouvia uma música que dizia assim: "ela é viciada em ocultismo e coisas dos astral.. e eu pimenta e sal...".  Conhece? Parece comigo e contigo. Eu viciada em pimenta e sal e você em comida saudável.
 
- Não conheço. Mas, faz sentido sim. Disse Ricardo.
 
- Júlia, por que não gosta de falar da sua vida?  Interrompeu-a, Ricardo.

- Eu gosto de falar de  qualquer coisa interessante. Minha vida não é tão interessante assim.
 
- Eu quero saber.  Façamos um trato! Eu falo da minha e você fala da sua.  Pode ser?
- Sim. Pode ser. Você começa!
 

Imagem do Google.