Homem completo
Thomás sempre foi um cara tranquilo. Um sujeito boa gente, por assim dizer. Gostava das coisas simples da vida, encontrava felicidade nas nos pequenos detalhes e vivia uma vida feliz. Dentro da sua área de atuação dava para dizer que ela era bem-sucedido profissionalmente. Era inteligente para o quê fazia e safo para o mundo em sua volta. O único problema de Thomas sempre foram seus relacionamentos.
Foram inúmeros namoros fracassados. Às vezes olhando para as estrelas, deitado na rede, sentindo o sereno do início da noite tocar o seu rosto, ele ficava se perguntando tinha de errado. Sempre fora um bom rapaz, fiel, não era ciumento, não era avarento e nem de longe podia ser considerado um daqueles bananas que fracassam seus relacionamentos pela falta de efetividade. Ele não era desses, mesmo assim, seus relacionamentos, um a um iam pro buraco da mesma forma.
Chegou a ter um caso mais sólido. Achou que seria para a vida inteira. Planejou a vida ao lado daquela pessoa. Estava confiante, mas como um castelo de cartas que é atingido pelo vento viu tudo desmoronar de maneira absolutamente abismal em frente aos seus olhos.
Na mesma rede, onde deitou muitas vezes, Thomás tomou uma decisão: Nunca mais se envolveria com ninguém. Abraçaria a solidão como companheira de todas as horas e riria com ela.
A vida de Thomás seguia normal. Ele estava contente sozinho, mas aí apareceu Letícia. A verdade é que ela a tempos estava ali. Tornará-se amiga já a bastante tempo e por mais que ele a visse todos os dias, nunca a tinha olhado com outros olhos que não fossem os da amizade. Tudo mudou em uma tarde. Uma única tarde.
Thomás combinou com os amigos de pegar uma praia. Iriam todos do trabalho, mas por motivo ou outro, na hora, acabou que somente Thomás e Letícia apareceram. Não que o fato deles ficarem sozinho tivesse despertado em ambos uma paixão avassaladora. Não foi assim que aconteceu.
Depois de nadarem nas águas do mar, de sentarem na areia olhando o horizonte, de comerem milho-verde com margarina, quando estavam pronto para ir embora, já caminhando para o carro, ao passo em que o sol ia se deitando mansamente por trás do horizonte, naquele instante, Thomás deu uma última olhada em direção ao mar e voltou novamente seus olhos para a Letícia e tudo que ele viu foi uma luz absolutamente brilhante que bateu no rosto da outra. Alí, naquele momento tudo mudou.
O sorriso dela ficou mais encantador. A pele dela brilhou como ouro ao sol e seu olhar transformou-se em duas brilhantes estrelas na negra noite fria do deserto mais escuro. Ele não teve dúvidas. Naquele momento seu mundo estava prestes a mudar.
Sua boca secou por um instante, justo ele sempre tão comunicativo, suas mãos soaram na hora, justo ele sempre tão calmo, seu coração disparou loucamente, justo ele sempre tão controlado.
Teve vontade de gritar para ela, mas teve medo de assusta-la, então apenas fixou seus olhos com mais exatidão e congelou o tempo em sua mente, pois, sabia que ali, naquele instante, quando o reflexo do sol batia na água do mar e iluminava o rosto de Letícia, estaria para sempre entre as melhores lembranças que teria na vida.
Mais tarde ele a procurou e disse o que estava sentindo e então seu coração disparou de maneira absolutamente rápido quando sentiu que ela poderia estar sentindo a mesma coisa.
Logo, o que era uma amizade transformou-se em algo mais. Thomás não conseguia dimensionar se aquele relacionamento seria diferente dos demais, se duraria para sempre ou se seria mais um caso fracassado, e isso também não importava, porque a vida o tinha ensinado a viver o agora e no agora ele descobrirá que nunca conhecerá alguém como Letícia. E isso era bom. Isso era tudo que ele sempre procurou. Isso era o que ele precisava para ser um homem completo. Letícia, simplesmente, o completava e ele era grato por isso.