Gerado no coração

Este caso era o que eu mais ouvi durante o meu estágio de enfermagem, no antigo hospital “Coração de Mãe”, chamado hoje, após, cinquenta e oito anos, de “Centro Cultural Vicentina Aranha”, mas quem mais contava-me era Ana. Não, sei não; isto parecia mais um fato concretizado do que um mito. No fundo, no fundo esta história era muito parecida como dizem os antigos, com os causos das famílias tradicionais da cidade: Família Rodrigues e Marques.

Contavam que no início do século vinte e um, hoje o atual Centro Cultural Vicentina Aranha, se concentrava uma maternidade muita falada na cidade. De um lado, falado pelos que admiravam seus trabalhos, do outro; pelos que contestavam seus trabalhos.

Nessa época, o tal hospital “Coração de Mãe”, tinha um projeto social destinados a todos munícipe Joseenses e redondeza, que passavam por ali com o desejo de realizar o planejamento familiar. Porém, nessa questão, eles tinham um grande inimigo, na qual eram as igrejas. Pois, para as igrejas, impedir a reprodução humana, ou inverter a responsabilidade do ser humano, era obra do capeta. Já do outro lado, quando se tratavam de auxiliar a casais a terem seus filhos, tinha aplausos seus. Excetos, quando entravam na questão de: barriga de aluguel ou inseminação artificial. Pois, para os cristões, isso era outra obra satânica.

D. Ana não dizia abertamente, mas, pelo pouco que a conhecia, dava pra perceber que alguém tão próximo de sua geração, havia utilizado de um destes recursos, pra beneficiar-se pessoalmente.

Para muitas famílias, aquele hospital trouxe grandes alegrias. Para outros, sem sucesso, a única saída, foi partir para adoção. Caso, que o próprio hospital, entrava em cena, cumprindo o slogan: “Hospital Coração de Mãe – o compromisso da família feliz”.

Porém, diante de todas as coisas boas que diziam do hospital, por detrás, havia um grande mistério. Pois, comentava-se que pela madrugada vagava o espírito da “mãe louca”. Boato, baseado por ela ter-se enlouquecido, após a descoberta, que nem pelo um dos recursos do hospital, poderia ter-se o próprio filho.

Comentava-se, que o espírito da Mãe Louca, vivia pelos corredores, e que seus alvos eram os médicos, para que pudessem medicá-la. Isso, eram os que, já diziam ver seu espírito. Já Ana, não levava isso a sério, muitas vezes preferia nem se retrucar, mas, quando procurava se pronunciar, era sempre a mesma resposta:

— Imagine, isso nunca existiu. Isso é conversa de quem tem a intenção de denegrir a imagem do hospital.

Se a sua resposta sempre era a mesma, para suas oposições, a resposta era sempre contraditória, mas, sempre na mesma palavra. Diziam que o espírito da “mãe louca”, existia, sim, e que isso era a sentença de Deus, sobre a desobediência do hospital em desafiar o plano de Deus, na vida do homem.

Porém, se essas eram as únicas respostas dadas a cada um que atrevessem a pensar neste mistério, os membros do hospital procuravam levar mesmo diante daquela acusação, o hospital a diante.

Ana era a gerente do hospital. Foi ela que fundou e gerenciou-o por muitos anos. Segundo, alguns bisbilhoteiros de plantão, Ana, só chegou a fundar o “Coração de Mãe”, pela a perda de sua família que aconteceu, após uma terrível enchente à muitos anos atrás.

Bons tempos que demorou até mesmo para que Ana voltasse a dar valor na vida. Sentimento que só foi fortalecido após longos anos, formando-se em medicina e se empenhando na fundação do hospital.

Aquela dedicação ao hospital, na realidade, foi uma terapia e que funcionou e muito na sua vida.

Porém, os anos continuavam a passar, e num determinado auge de sua gestão; entrou no poder executivo da cidade, um dos seus piores inimigos, na qual ela poderia ter. Era um cara totalmente contraditório a tudo do qual o hospital viesse a implantar.

Por esse indivíduo, em grandes batalhas eles se travaram. Há os que diziam, que isso chegou a durar quase os seus dois mandatos, como prefeito.

Diante desta guerra, Ana, nem se quer, interessou em conhecer o responsável em se dialogar com ela, nos seus impasses.

Prova que só vieram a conhecer em audiência; ocasião na qual, em troca de olhares, descobriram-se quem era realmente cada um.

Há muitos anos, antes, deles se formarem em mestrados, eles foram casados. Era uma família, na qual se desmanchou com a terrível enchente que inundou o pequeno vilarejo por onde moravam.

Por ser de um vilarejo, sem muito apoio dos políticos daquela época, não obteram auxílios, sobrevivendo apenas como dessem pra se virar.

Comentaram que os tinham sobrevivido, foram levados aos seus familiares e parênteses. Já, os que não tinham, tornaram-se moradores de rua.

Com Ana, foi diferente; sem contato algum com seus familiares, acabou-se mudando para a casa de uma ex – patroa, a qual, amparou-lhe, ajudando ao que podia, ponto de oferecer um curso universitário.

Ana agarrou a sorte, formou-se em medicina. Oportunidade pequena à ferida que o destino plantou ao coração. Anos, se passaram e diante de todo seu percurso, um dia, no tribunal, ela e Ricardo, seu ex – esposo, tromparam-se. Porém, ela, gerente da ação titular, na qual, ele, estaria como advogado; trabalhando contra.

De início, mesmos, surpreendidos pela forma que o destino teria-os unido, muitos se emocionaram. Mas, quando se trocaram palavras, naquilo que realmente estariam de frente a frente; desentendiam e em contra-ataques formavam-se.

Surpreendidos, ao mesmo tempo, inimigos nas causas, a única coisa que pode acalmá-lo, foram sua filha, Rebeca.

Rebeca não entendia o caso. Mas, já calmos, com o auxílio do tempo, pouco a pouco, foram aproximando-se, e juntos, revelaram-lhe a verdade. Ocasião em que, mesmo ao momento emocional que estariam passando, notavam que a causa do “Coração de Mãe”, poderia os atrapalhar. Com apoios dos amigos e dispostos a dar uma nova chance à família, que o destino parecia os devolver, ambos, como férias, preferiram-se afastar do caso. Curtindo a família e de um modo sem compromisso, pensar com carinho na situação do hospital, assim que retornassem das férias. Afinal, amigos de trabalhos e de confianças conseguiram para substituí-los.

Suas viagens aconteceram. Mas, os seus planos de voltarem da viagem, para se decidir a que caminho juntos, seguiriam; não se concretizou. Pois, aquela família que a vida passou há muito tempo distanciando-os; o final de suas trajetórias, os uniram, levando-os juntos, para o outro mundo. E a decisão da qual juntos tomariam, não concretizou-se. Pois, essa responsabilidade ficou em mãos de terceiros. Pessoas, incapazes de ao mesmo fôlego de Ana, lutar pela permanência do “Hospital Coração de Mãe”, em São José dos Campos.

Fortes comentários e absurdos, que enfraquecia de vez, aqueles que tentavam reerguer aquilo que Ana tanto lutou, ouviram-se. Comentava-se que a partida de Ana, foi um castigo de Deus. Foi à mão Divina que a tirou para que não continuasse contra os planos de Deus.

Se, tinha certas coisas que os opositores de Ana, não aprovavam-se, por coincidência na mesma tecla, em alguma coisa bateu. Todos concordavam que realmente Ana partiu, deixando alegria para muitas famílias.

Éh! Todo mundo tem o direito de pensar o que bem quer. Mas, jamais julgar o próximo. Pois, o mistério de Deus, está em cada um de nós, e só ele sabe o motivo por cada coisa que acontece na nossa vida.