O Natal
Ele estava triste e sozinho numa cidade distante dos seus parentes consanguíneos. Hélio sempre foi uma pessoa racional e achava a maioria das comemorações tradicionais festas sem sentido, a não ser o comercial.
O rapaz acreditava no Jesus histórico, com um acréscimo de suas deduções pessoais e de sua bagagem de espírito. Era um questionador e uma boa alma. Mas ainda meio perdido.
No entanto, diz a sabedoria popular que quem busca sempre alcança. E Hélio nunca tinha comemorado um Natal durante os seus trinta e cinco anos. Não se casou e não tinha respostas para muitas questões. O Natal era uma dessas.
- Não considera uma jogada comercial esta data? Perguntou ao seu colega de trabalho, Marcelo.
- Pode ser, Hélio. Mas é uma oportunidade para ficar com minha família. E isso é o que me importa.
Hélio não respondeu, mas não pode deixar de pensar que era uma lástima que alguém que morasse na mesma cidade que a maior parte dos seus parentes precisasse de uma data específica para valorizar aqueles que são eleitos também do seu coração.
Na véspera de Natal Hélio saiu de carro e foi para o mercado, quando, na saída viu duas crianças que lhe chamaram muito a atenção. Maltrapilhas como muitas outras que via todo dia naquela cidade de seiscentos mil habitantes.
Do alto da espiritualidade, Jesus, o governador do mundo, observava o rapaz e o amava com toda sua força, de maneira incondicional. E comovido com sua busca em ser bom desinteressadamente, o mestre deixou escorrer algumas lágrimas e sua luz aumentava extraordinariamente. Seu brilho era tamanho que neste momento parecia um sol a irradiar sua energia de amor. E cada raio seu dirigia -se à Terra, invadindo momentaneamente algumas pessoas, que seriam instrumentos seus para que Hélio tivesse seu primeiro Natal.
- Feliz Natal, tio. - disse o menino para Hélio, com alegria no olhar.
Hélio parou e, depois de refletir um pouco, perguntou
- O seu Natal é bom menino? Têm sido bons?
- Como não, tio? Respondeu o menino, inspirado. - Diante de tudo que a vida me deu, ou do pouco, como pensam alguns, tenho deixado o meu melhor. O meu melhor, é o máximo que posso fazer. Alguns tem tanto e fazem o mínimo.
Hélio não pode conter algumas lágrimas. Deu alguns trocados ao menino que aparentava quinze anos. Sua irmã, doze.
No dia seguinte ficou sabendo pelo noticiário da televisão que aquele menino morreu protegendo outros moradores de rua que ceiavam juntos na noite de Natal. Alguns jovens aloprados invadiram o local que eles estavam, uma casa vazia, e abriram fogo, depois de os insultar com palavras e tentar obrigá-los a dizer que o Natal era uma festa idiota e que Jesus não se importava com eles. O menino com alma de gigante, começou a cantar "noite feliz", no que foi seguido pelos seus companheiros.
Hélio ficou extremamente revoltado, e passou o dia de Natal tomando um porre. Ele dormiu a acordou por volta das vinte horas, com a lembrança de um sonho, onde Jesus recebia aquelas crianças, com um coral de anjos. Elas gritando e felizes corriam para abraçar o mestre que as acolhia carinhosamente. E o menino, que era o líder do grupo, dizia:
- Mestre, não somos dignos.
Jesus, na sua simplicidade, o abraçou e respondeu:
- Nosso Pai não nos pede que sejamos os melhores, meu querido. Mas que, no silêncio de nossa simplicidade, façamos o nosso melhor. Para que Ele seja visto em nós, para que brilhe a nossa luz e nossos irmãos vejam, então, o Criador de todas as coisas nas atitudes simples em prol das pessoas esquecidas pelo mundo.
Nesse dia Jesus nasceu para Hélio, que não mais reclamava e nem julgava. Apenas fazia o seu melhor em prol dos necessitados de todas as espécies no mundo.