A TRAGÉDIA DE AMOR A MODA ANTIGA.
A história aconteceu no final do século XVIII em Salvador-Ba.
Veja a narrativa de Joaquim Gonçalves no “Album Popular Brasileiro” do editor Affonso Costa em seu 4º volume no ano de 1913 na Bahia, pags.303/305.
“Ele a amava com todo o ardor de uma paixão de louco, era o seu primeiro amor e a primeira ilusão de seus vinte anos. Simples alferes do batalhão de linha chamava-se Joaquim da Silva e saíra a pouco da Escola de Guerra onde havia cursado por vocação.
Possuia uns cincoenta contos de réis, era filho único do dr. Euzébio da Silva, tinha educação exemplar de um perfeito cavalheiro.
Ela de nome Branca de Souza, saía do Colégio onde os pais a detinham como interna, desde a idade de seis anos e apenas núbil – tinha quinze anos primaveras, estava nesta idade, alegre onde as moças, as vezes, contra a sua vontade, aceita a vontade dos pais, entrega-se ao primeiro mancebo que a cumprimenta, sente-se devorada por um fogo interno que não pode vencer e que a faz acreditar no amor. Mais tarde pode se tornar perfeitamente indiferente.
No baile, travaram conhecimento; e dominado pelo coração de súbito cativo pelas atrações magnéticas da adolescente que por temperamento e avivara-lhe os desejos. Ele a pedira em casamento aos pais, ricos negociante de fumo desta praça. O enlance celebrara-se poucos meses depois e os dois jovens esposos foram habitar em casa simples mas agradável no “corredor da Vitória” onde pareciam viver em harmonia.
Passaram-se, assim, dois anos.
A paixão de Joaquim não se modificava, no entanto, ele sofria atrozmente.
Sofria, por não ter ainda conhecido os prazeres da paternidade e também por ter percebido que à esposa se tornara inexplicavelmente antipático.
Uma noite, pelas oito horas, estando se sentindo febril em serviço no quartel, pediu a um colega o substituísse e regressou mais cedo para casa. Ao introduzir a chave na porta, sentia palpitar-lhe o coração e involuntariamente, olhara para as janelas do quarto de Branca. Através da vidraça via-se a pálida luz de uma lamparina. O jovem alferes abriu rapidamente a porta, correu ao referido aposento e próximo a ele, ouviu as vibrações do estalo de um beijo. Parou, levou a mão no coração, como para comprimi-lo, com o ombro empurrou a porta que cedera a seu impulso, penetrou no quarto e viu... a sua mulher nos braços de um homem que ele não conhecia! E, doido, desconhecendo o que fazia, suspendeu uma cadeira e quebrou-a sobre os amantes que saíram a correr gritando de medo e dor. Joaquim, fechou-se no próprio quarto e a dor no peito aumentara, desmaiou. Quando abriu os olhos, estava na enfermaria do quartel. Ao seu lado um colega que a substituiu, e com voz fraca relatou a dor profunda que passara, pediu a morte. O colega não quis ouvir. Joaquim vez força para levantar do leito com ajuda do colega ficou sentado e o colega em pé, ao virar o corpo, Joaquim segura o revolver e puxa do cinturão do colega e rápido da um tira em seu próprio ouvido.”
Em um ano depois os jornais publicavam:
“Realiza-se no dia 5 de janeiro o consórcio da Exma. Sra. D. Branca da Silva com o sr. Manoel da Cunha, negociante desta praça. D. Branca da Silva é viúva do alferes Joaquim da Silva que em um acesso de loucura, suicidara-se no dia 2 de dezembro do ano passado.”
MEUS COMENTÁRIOS:
É mais uma história urbana envolvendo pessoas ricas e poderosas que não sai nas crônicas policiais da época.
A narrativa foi fidedigna do real acontecimento. O escritor da crônica Joaquim Gonçalves era parente do alferes e não teve permissão da família para esclarecer mais a tragédia familiar. Os nomes são fictícios.
Os homens daquele tempo tinham a base educacional da honra acima de tudo e não aceitavam a vergonha da traição e humilhação conjugal. A morte encerra a dor ferida e os fatos serão esquecidos. Será mesmo?
Que diferença faz hoje no século XXI. O homem moderno, não há mais honra, não há mais dignidade, não há mais caráter, não há mais educação que faça o perfil de um homem honesto. Os valores humanos estão nos genes hereditários e no principio religioso, assim podemos acreditar. No passado, bem distante, a base da educação vinha dos jesuítas, homens religiosos e desbravadores que passaram para os filhos dos colonizadores uma cultura que não mais existe. Forjaram homens que apostavam o valor das suas palavras na barba que orgulhosamente mantinham. A mulher era submissa ao homem, tinha uma educação esmerada ao crescer no lar paterno e ao casar respeitava o marido, salve a certos casos como o citado acima. Isto é, já no fim do século XVIII as coisas foram mudando. A mulher já não se conformara de “ ler, contar e saber prendas domésticas”. Começara a extravasar os seus pensamentos na poesia e literatura. Na ausência do marido e na morte dele, ela assumia a direção da fazenda ou engenho. Muitas controlavam seus bens com mão de ferro quando não havia o primogênito na família. Outras queriam mais do que “ler, contar e saber prendas domésticas”, o sonho de ingressar na faculdade cresceu, conseguiram, criaram asas e foram aceitas em outras profissões liberais as quais só eram permitidas ao homem. Mas a qualidade e a quantidade de saber não chegou a todas as mulheres, só aquelas que tinham família de boa situação financeira. As demais chegavam no máximo a ser professora primário. As mulheres evoluíram muito mais que os homens no período de 100 anos.
Aproveitem o quanto for possível, valorize-se o bastante. É necessário crescer, evoluir materialmente e espiritualmente.
Hoje, há tragédia de amor, tem novos caminhos com novas causas e novas maneiras de encarar o adultério.
O homem evoluiu para viver melhor, mais não necessariamente o seu espírito.
Álvaro B. Marques.