Se isto continua...

[Continuação de "E depois"]

O celular de Cindy vibrou quando ela se preparava para recolher a louça do jantar: uma mensagem de texto chegando. Sorriu ao ver quem a havia enviado e resolveu ligar de volta, em vez de escrever uma resposta.

- Também precisava falar com você - avisou, ao ouvir a voz de Marsha do outro lado.

- Aconteceu alguma coisa? - Marsha lhe soou apreensiva.

- Aconteceu, mas conto depois - justificou-se em voz baixa, ao ver que a avó a encarava: "trabalho primeiro, celular depois", ela sempre dizia. - Te ligo em meia hora.

- Está bem - resignou-se Marsha, desligando.

Cindy terminou suas tarefas na cozinha, escovou os dentes, e trancou-se no quarto, enquanto a avó assistia TV na sala. Deitada na cama com a luz apagada, ligou novamente para Marsha e narrou seu encontro com Vanessa e o filho de Ted.

- Bom, não foi o fim do mundo, mas eu fiquei bem constrangida... bem no meu horário de trabalho, e comigo no caixa.

- Ela teve o desplante de ir ao supermercado para mostrar a criança? - Indignou-se Marsha.

- Naquele estilo de "não se meta com o meu homem, que ele tem dona" - Cindy riu baixinho.

- Estou com pena dessa criança... o pai e a mãe são dois obcecados!

E, para espanto de Cindy, falou sobre a ida de Ted à procura dela na universidade, omitindo apenas a parte final em que o rapaz afirmara que sabia "o que ela era"; Cindy podia passar muito bem sem isso.

- "Afinidade especial"? - Protestou a garota. - De onde esse maníaco tirou isso? O fato de ter me dado carona algumas vezes para casa, não significa que temos algum tipo de relacionamento! Aliás, desde que soube do rolo dele com essa Vanessa, estou tentando fazer com que me esqueça!

- Parece que não está surtindo muito efeito... - ponderou Marsha. - O fato dele ter ido atrás de mim e sugerir que sou "má influência" para você, já diz muita coisa sobre a personalidade desse tipo.

- Marsha... o que acho que devo fazer? - Cindy estava preocupada; a última coisa que desejava, era um barraco no seu local de trabalho.

- Você falou sobre a visita de Vanessa com ele?

- Não, ele não estava de serviço na hora em que aconteceu. Acha que eu deveria?

Marsha hesitou.

- Não sei... aparentemente, ele não é um tipo violento, mas temos que lembrar que há uma criança envolvida. Se Ted for cobrar satisfações da mulher, é possível que o bebê acabe prejudicado, de uma forma ou outra.

- O que vamos fazer, Marsha? - Insistiu Cindy.

- Você deve evitar ficar a sós com ele... e eu, vou comprar um spray de pimenta.

Interpretando a falta de reação de Cindy como medo, acrescentou:

- Pensando bem, vou comprar dois. Um pra você, claro.

* * *

Vanessa sorriu ao abrir a porta e deparar-se com Ted. Mas o sorriso apagou-se assim que percebeu o rosto contraído e o olhar furioso do rapaz. Ele entrou sem dizer palavra, fechou a porta atrás de si e só então abriu a boca:

- Sua vagabunda!

Em seguida, plantou a mão na cara dela.

- Ted! - Ela gritou.

- Quieta, vagabunda! - Ele a empurrou contra o sofá e a manteve ali, pressionando a mão contra seu peito. Parecia possesso.

- O que você falou pra Cindy no supermercado hoje? - Grunhiu ele, rosto bem próximo do dela.

- Ted... você está me machucando... - soluçou Vanessa.

- Achou que eu não iria saber, não é? - Prosseguiu ele.

- Eu não fui fazer nada, Ted, só compras... me solte...

Nesse momento, o bebê começou a chorar no quarto ao lado. Ted pareceu recobrar a razão e sentou-se no chão ao lado do sofá, cobrindo o rosto com as mãos.

- Olha só no que você está me transformando, Vanessa!

Quando retirou as mãos do rosto seus olhos estavam cheios de lágrimas.

- Eu não sou assim, eu não sou assim... - murmurou ele confuso, erguendo-se. Foi até o quarto e pegou a criança, voltando com ela no colo. Inclinou-se sobre Vanessa que continuava deitada, sem ação, e o colocou em seus braços.

- Cuide dele - intimou-a. - Continuamos essa conversa depois.

Saiu em seguida, fechando a porta atrás de si.

Ao perceber que estava novamente só, Vanessa caiu no choro, agarrada ao filho que também chorava.

- [Continua em "O melhor que você pode ter"]

- [03-12-2018]