Aquela de quinta
Marcinha estava ansiosa pela quinta feira, ela iria encontrar a sua cantora preferida da vida, mal podia esperar. Mas o que mais acelerava o coração de Marcinha, era seu encontro com Tainá. Elas haviam se visto apenas uma vez num show, e desde então não deixaram de se falar nenhum dia sequer. Marcinha viu que a chave da amizade mudou quando percebeu que não conseguia passar um dia sequer sem falar com Tainá, quando lembrava dela começava a sorrir e sentia o coração acelerar. Marcinha não sabia muito bem o que estava sentindo, mas definitivamente era mais do que puramente amizade, queria algo mais.
Marcinha havia combinado de buscar Tainá e mais duas amigas na rodoviária, de lá elas partiriam para encontrar a cantora. Na hora que a viu já sentiu seu peito acelerar. Marcinha não sabia ao certo como agir, elas estavam todo o tempo acompanhadas, o que deixava Marcinha ainda mais tímida. Pior que ela não sabia se o que sentia era recíproco ou viagem de sua cabeça. Marcinha não via brecha. No encontro com a cantora isso não saía de sua cabeça. Elas sentaram juntas, Marcinha ensaiou pôr a mão sobre a de Tainá, mas aboliu a ideia rapidamente. Já se sentia angustiada, precisava falar. Após o encontro, todas partiriam para um karaokê, Marcinha sabia que aquelas era a sua chance. Se quisesse que Tainá soubesse o que estava sentindo, era ali. Todas estavam muito animadas, e
Tainá, que geralmente é mais tímida e calada, já sorria com facilidade. Marcinha novamente deu um jeito de sentar ao lado de Tainá, do outro lado da mesa Mariana e Luana, que já sabiam do sentimento de Marcinha, faziam de tudo para deixar o clima mais relaxado. Mariana cantava muito bem, e parece que escolheu sue repertório inspirada no que Marcinha sentia, a primeira música foi "Toda forma de amor" e Marcinha não conseguia tirar os olhos de Tainá. Até que, ansiosa, Marcinha pediu pra Luana lhe acompanhar até o banheiro
- Cara, eu não sei o que eu faço!
Marcinha se mostrava angustiada
- Amiga, vc gosta dela não gosta?
- Gosto sim!
- Então você precisa falar!
- Até parece que com vc e Mariana foi fácil assim né, idiota?
- Não, sua besta, não foi. Por isso mesmo eu tô te falando isso. Se a gente tivesse sido clara com os nossos sentimentos desde o início, tínhamos evitado muito sofrimento. Principalmente a mim. Eu ficava sofrendo calada, remoendo um monte de coisas. Se eu tivesse falado pra ela desde o início o que eu tava sentindo, a gente tinha se acertado há mais tempo. Só não quero que você passe pelo q eu passei.
- Tá, acho q você tem razão. Mas e a coragem, cadê?
- Tem um monte de coragem ali no bar, uns sabores ótimos, menina. Se quiser até compro pra vc.
Diz Luana com um sorriso malicioso
- Alguém já te falou que você é bem idiota?
- Sim, vc, todos os dias!
- Agora você quer que eu encha a cara e fale com a Tainá q tô gostando dela?
- Se quiser jogar ela num canto e começar a trocar saliva tudo bem também. Fica a seu critério.
- Eu tô falando sério, sua vaca!
- Eu não tô falando pra vc encher a cara, mas você sabe que fica bem mais solta depois de uns goles, eu disse goles.
- É, isso é verdade.
- Olha só, a gente vai tudo pra casa da Mariana amanhã de manhã, vc não vai poder ir, ou seja, se você quer falar, mostrar ou fazer alguma coisa, tem que ser hoje, é a chance que você tem.
- Ah tá, sem pressão né?
- Exatamente... não, é sério. Vc quer mesmo ficar remoendo esse monte de sentimento aí dentro por muito mais tempo? Tá legal pra vc?
- Não.
- Então!
- Tá, você tem razão.
- Eu sempre tenho razão, Marcinha, vc que não gosta de admitir.
- Nossa, q humilde ela.
- Isso sempre, agora vamos que elas já devem tá estranhando a gente demorando tanto no banheiro. Agora retoca esse batom e muda essa cara de bunda!
- Cara de bunda tem a senhora sua mãe!
- Não mete minha mãe no meio! É sério. Tua cara tá muito angustiada. Relaxa.
Depois de retocar o batom, Marcinha e Luana saem do banheiro e encontram Mariana e Tainá na mesa rindo e beliscando uns petiscos.
- Ó, a gente pediu pra gente, mas a Tainá comeu tudo!
Disse Mariana, apontado pra amiga do outro lado da mesa
- Que mentira! Ela que tá parecendo uma draga. Aqui Marcinha, guardei pra vc senão Mariana comia até a mesa.
Marcinha então pensou que talvez não estivesse viajando tanto.
-Ah, obrigada, pelo menos alguém lembra de mim né, Mariana?
- Eu não fiz nada!
Diz Mariana morrendo de rir
A noite corria bem, realmente, após algumas bebidas, Marcinha já estava mais relaxada. Ela percebia que Tainá sempre dava um jeito de tocá-la.
Até que, Marcinha decidiu cantar uma música. Escolheu também Lulu Santos, apenas mais uma de amor.
Antes de começar a cantar, olhando pra Tainá, Marcinha começa a falar
- Eu escolhi essa música porque, além de ser linda, ela reflete o momento que eu tô vivendo agora. Percebi que o amor é um sentimento que deixa a gente confusa a princípio, e aparece dos lugares mais inesperados, mas a gente não consegue evitar, ele tá aqui... e começou...sem deixar de olhar pra Tainá
"Eu gosto tanto de você que até prefiro esconder, deixo assim ficar subtendido..."
Após um tempo, já tarde da noite, Tainá esbarra com Marcinha no banheiro
- Foi lindo vc cantando, viu?
- Obrigada. Era algo que eu queria falar.
- Falar? Pra quem?
Até que, se virando pra Tainá, Marcinha pergunta
- Tainá, até quando a gente vai fingir que não tem nada acontecendo aqui?
- O que tá acontecendo aqui?
- Aquela música foi pra você. Eu gosto de você.
Após um momento de pausa
- Tainá, você não tem nada pra me dizer?
- O que você quer que eu diga?
- O que tá sentindo, o que sente?
- Eu gosto de vc também. Vc me faz me faz bem, me faz rir. Com poucas pessoas eu me sinto tão a vontade quanto com vc...
- É mesmo?
- É.
Diz Tainá com o olhar ainda tímido.
Com um largo sorriso, Marcinha diz
- Sabe, eu acho que a gente não tem muito mais o que dizer não.
- Não?
Então, num ato súbito, Marcinha pega Tainá pela pescoço e a puxa para si. Olhando fixamente em seus olhos lhe faz a fatídica pergunta
- É isso que você quer?
Tainá não disse nada, não foi necessário
Marcinha e Tainá então se beijam, como se não houvesse amanhã. Ali parecia que toda a angústia se dissipava. Tainá parecia se encaixar perfeitamente no abraço de Marcinha, que a mantinha firme perto de si.
Após o beijo, olhando em seus olhos e deslizando os dedos entre os longos cabelos loiros de Tainá, Marcinha diz com um sorriso
- Vc é linda, sabia?
Com um olhar tímido, Tainá responde
- E vc é louca.
- Hum hum, e acho bem que é por você.
As duas se beijam novamente, até que chega alguém e as interrompe. Já na mesa, as duas não contaram nada, mas a troca de olhares já denunciava alguma coisa.
Até que, por baixo da mesa, Tainá segura firme na mão de Marcinha, e imediatamente lhe dá um sorriso. Aquilo era o sinal que Marcinha tanto anseava durante todo aquele tempo.
Marcinha não sabia o que iria acontecer dali pra frente, mas definitivamente aquela noite de quinta iria ficar guardada em sua memória pra sempre, como uma lembrança boa, daquelas que fazem a gente sorrir.