Blue Jean
E num intervalo da apresentação, o crooner desceu do palco e veio até nossa mesa.
- Jean! - Exclamou ele para a minha acompanhante.
- Barry! - Respondeu ela, erguendo-se. Os dois se abraçaram e trocaram beijos no rosto, muito felizes. Comecei a ficar enciumado.
- Não me apresenta seu amigo? - Perguntei, braços cruzados.
- Desculpe, George - respondeu ela, estendendo a mão para que eu me erguesse. - Barry, este é George, meu namorado.
Ergui-me e apertei a mão do crooner. Um aperto vigoroso e um sorriso franco. O sujeito parecia ser boa gente.
- Como vai, George?
- Bem... e de onde vocês se conhecem?
Sentamo-nos os três à mesa.
- Trindade e Tobago... 1957? - Indagou ele para Jean.
- Sim... faz dez anos. Foi bem antes da independência, lembro bem - confirmou Jean.
E virando-se para mim:
- Barry cantava no La Tortuga, uma boite de Port of Spain, a capital das ilhas. Foi lá que nos conhecemos - explicou ela. - Eu já trabalhava na British Petroleum, como secretária, e costumava frequentar o lugar nos fins de semana.
- Foi uma surpresa te ver aqui - declarou o crooner, embevecido.
- O mesmo digo eu, já que seu nome não constava do programa da noite.
- Estou substituindo um colega, Francis... ele teve que se ausentar por conta de uma amigdalite. Provavelmente não vão alterar o programa por conta disso, só vou ficar em Londres umas duas semanas...
Senti que estava sobrando na conversa, mas achei indelicado interromper os dois.
- E você ainda está morando nas ilhas? - Indagou Jean.
- Sempre preferi o Caribe, você sabe... depois de tantos anos, creio que não me readaptaria à vida na Inglaterra - confessou ele.
- Apesar dos furacões... - comentou ela com um sorriso. Barry também sorriu, e naquele momento eu tive a certeza de que os dois haviam partilhado mais do que alguns olhares sob o céu das ilhas. Resolvi intervir.
- Se fosse ficar na cidade por mais algum tempo, talvez pudesse nos acompanhar ao Annabel's. Pretendo levar Jean lá uma noite dessas...
Barry me encarou surpreso.
- Desculpe... você é sócio do Annabel's?
- Já joguei muito pôquer com Mark Birley - declarei sem pensar duas vezes.
Fez-se um silêncio embaraçoso na mesa durante alguns instantes. Finalmente, Barry olhou para o relógio de pulso e depois para mim.
- Preciso voltar para o palco. Foi um prazer, George.
E para minha acompanhante:
- Sempre bom te rever, Jean!
Trocaram beijos de despedida e ele retornou ao seu microfone.
- Que história foi essa de Annabel's e Mark Birley? - Indagou Jean, muito séria.
- Eu estava brincando - respondi em tom de desculpas.
Jean continuou a me encarar sem mudar de expressão.
- Eu conheço Mark Birley. Ele não joga pôquer.
Foi a última vez em que vi Jean. Duas semanas depois, ela embarcou com Barry num voo da BWIA rumo à Port of Spain.
- [08-10-2018]