AMOR EM POESIA
JB Xavier
Lá no fundo de um grosso livro de poemas, um verso, um dia, apaixonou-se perdidamente por uma estrofe. Foi amor instantâneo! Perdidamente apaixonado, examinou-lhe as rimas angelicais, a métrica perfeita, as palavras rebuscadas, o conteúdo consistente. E a beleza das sincronias lhe fez compreender que já não era mais dono de seu destino. Naquele momento ele entendeu que desse dia em diante havia um elo entre ele e ela para sempre.
Com uma coragem que nunca pensou ter, ele um dia aproximou-se timidamente, e nervoso disse quase num sussurro:
- Bom dia...Como você se chama?
A Estrofe dirigiu-lhe então o olhar mais doce que alguém já lhe havia lançado, examinando-o da primeira à última letra. Admirada com sua consistência, bom gosto e harmonia, ela percebeu que sem ele ela simplesmente não existiria. Pelo menos não assim, linda, elegante e harmoniosa como era. E como era observadora, logo percebeu a inocência do verso e quão nervoso ele estava. Mesmo assim ela o considerou uma figura interessante...
- Como me chamo? – disse finalmente – Meu nome é complicado. Chamo-me Registro de Sentimentos Arrebatados, mas pode me chamar pelo apelido: Poesia!
- E o verso ficou assim, sob o encanto da beleza da Poesia, pensando em como poderia enfeitá-la ainda mais docemente para que ela pudesse brilhar em toda a sua esfuziante beleza.
E quando descobriram que um não poderia existir sem o outro, casaram-se. Convidaram para padrinhos o Fonema e a Interjeição, e desse casamento nasceram anos de felicidade plena, de comunhão de sentimentos, e o verso fez de sua vida, uma ida aos confins da imaginação, enfeitando a estrofe e dando-lhe vida. Ela, por seu tempo, lhe dava segurança, fornecia-lhe sentido, inseria-o num universo que nunca conhecera. Dessa união nasceram dois poemas muito bonitinhos, e uma quadrinha que era a alegria de todos.
Até que um dia, em que tudo vira monotonia, surgiu o Soneto, trazendo consigo a autoridade e as glórias de um passado distante, a beleza gélida de sua métrica perfeita e os arranjos únicos de sua construção.
A estrofe, impressionada com a pose do Soneto, sentiu o calor da paixão invadir-lhe o interior, e, em nome do amor, desejou ardentemente fazer parte daquele mundo diferente, altivo, ainda que decadente. Ela e o Verso já não formavam mais o casal perfeito, eram agora uma confusão de sentimentos mal explicados, de lembranças tristes e alegrias ressentidas de um passado feliz.
Disso resultou que o Verso, triste e sem vida, sem uma estrofe para pertencer, sozinho e carente de sentido, desapareceu na imaginação de algum poeta descuidado, e a estrofe seguiu feliz em sua felicidade fugaz, tentando dar brilho ao Soneto, já um pouco fora de moda. E tudo que era sujeira virou moralidade, como aliás, em qualquer sociedade.
JB Xavier
Lá no fundo de um grosso livro de poemas, um verso, um dia, apaixonou-se perdidamente por uma estrofe. Foi amor instantâneo! Perdidamente apaixonado, examinou-lhe as rimas angelicais, a métrica perfeita, as palavras rebuscadas, o conteúdo consistente. E a beleza das sincronias lhe fez compreender que já não era mais dono de seu destino. Naquele momento ele entendeu que desse dia em diante havia um elo entre ele e ela para sempre.
Com uma coragem que nunca pensou ter, ele um dia aproximou-se timidamente, e nervoso disse quase num sussurro:
- Bom dia...Como você se chama?
A Estrofe dirigiu-lhe então o olhar mais doce que alguém já lhe havia lançado, examinando-o da primeira à última letra. Admirada com sua consistência, bom gosto e harmonia, ela percebeu que sem ele ela simplesmente não existiria. Pelo menos não assim, linda, elegante e harmoniosa como era. E como era observadora, logo percebeu a inocência do verso e quão nervoso ele estava. Mesmo assim ela o considerou uma figura interessante...
- Como me chamo? – disse finalmente – Meu nome é complicado. Chamo-me Registro de Sentimentos Arrebatados, mas pode me chamar pelo apelido: Poesia!
- E o verso ficou assim, sob o encanto da beleza da Poesia, pensando em como poderia enfeitá-la ainda mais docemente para que ela pudesse brilhar em toda a sua esfuziante beleza.
E quando descobriram que um não poderia existir sem o outro, casaram-se. Convidaram para padrinhos o Fonema e a Interjeição, e desse casamento nasceram anos de felicidade plena, de comunhão de sentimentos, e o verso fez de sua vida, uma ida aos confins da imaginação, enfeitando a estrofe e dando-lhe vida. Ela, por seu tempo, lhe dava segurança, fornecia-lhe sentido, inseria-o num universo que nunca conhecera. Dessa união nasceram dois poemas muito bonitinhos, e uma quadrinha que era a alegria de todos.
Até que um dia, em que tudo vira monotonia, surgiu o Soneto, trazendo consigo a autoridade e as glórias de um passado distante, a beleza gélida de sua métrica perfeita e os arranjos únicos de sua construção.
A estrofe, impressionada com a pose do Soneto, sentiu o calor da paixão invadir-lhe o interior, e, em nome do amor, desejou ardentemente fazer parte daquele mundo diferente, altivo, ainda que decadente. Ela e o Verso já não formavam mais o casal perfeito, eram agora uma confusão de sentimentos mal explicados, de lembranças tristes e alegrias ressentidas de um passado feliz.
Disso resultou que o Verso, triste e sem vida, sem uma estrofe para pertencer, sozinho e carente de sentido, desapareceu na imaginação de algum poeta descuidado, e a estrofe seguiu feliz em sua felicidade fugaz, tentando dar brilho ao Soneto, já um pouco fora de moda. E tudo que era sujeira virou moralidade, como aliás, em qualquer sociedade.