O Sultão e a Khawala

"Antes de amanhecer às estrelas costumam tocar ao mar, isto diziam antigos turcos que também relacionam o tocar das estrelas com Laila, a Khawala mais bela do Sultão Mohammad Khaled Ali Abouzarah Dib"

- As estrelas tocam no mar vovô?

- Não Zurah, elas quase tocam.

Zurah era uma menina com 6 anos de idade, cabelos iguais molas em ouro, tinha a pele feito uma porcelana com leve tom rubro na face, duas brilhantes esmeraldas lhe davam um olhar intenso e angelical. Sempre que chegava da escola, ela corria para ver o seu avô, um senhor com 82 anos, cabelos brancos, olhos azuis feito o mar do Egeu, qual era do outro lado da Turquia e próximo ao Mar Mediterrâneo.

Samir era o nome do avô de Zurah, e ele tinha uma serena paciência da maturidade de um sábio.

- Como quase tocam, vovô?

- Zurah, vou lhe contar uma lenda antiga, onde um Sultão muito poderoso se apaixonou por umas de suas dançarinas...

Há muitos e muitos anos bem distantes, existiu o Sultão Mohammad Khaled Ali Abouzarah Dib, um homem muito impiedoso e com um poder inigualável aos piores seres que já existiram.

Dentre todos os caprichos do sultão, havia um em especial, qual era manter um harém com as mulheres mais belas e desejadas por todos. Neste harém ninguém podia tocar à não ser o próprio sultão.

Um belo dia, o sultão despertou mais cedo e correu para o seu harém em busca de satisfazer o seu voraz apetite sexual, mas ao encontrar suas escravas e dançarinas, não sentiu desejo por nenhuma das 365 mulheres que colecionava. Era uma para cada dia do ano e todas com belezas exóticas, delicadas e sedutoras. Aquele sol radiante adentrou uma das janelas de seu harém e o sultão estava irritado com a impossibilidade de sentir desejo, que começou tentar arranjar culpados. Foi até a janela, sentiu uma brisa gostosa e ao mesmo tempo lhe subiu um agradável cheiro de coentro, ameixa, bagas silvestres, anis, cravo, jasmim, flor de laranjeira da África, tuberosa, opoponax, sândalo, cedro da virgínia, âmbar, baunilha, heliotrópio... Realmente era confuso e ao mesmo tempo algo que lhe atraía um desejo insano.

Seu coração disparou ao ver Laila...

Desejoso e com a ambição do poder, o Sultão ordenou seus soldados à capturar aquela moça.

No início foi impiedoso e quis tentar arrancar toda a liberdade da vida de Laila, mas algo dizia que desta vez o Sultão teria uma grande lição.

Ela era lindíssima, seu olhar iluminado, cabelos negros e volumosos com a pele macia que nenhuma outra mulher tinha. Além daquele exótico cheiro que ele sentiu ao vê-la diante de suas imensas janelas.

Laila era feito um cavalo selvagem, sabia dançar feito uma serpente e tinha a perspicácia de uma águia em fúria. Com tudo ela era doce e não tinha aspecto de uma mulher maldosa. Tudo que ela queria era a sua liberdade e nada mais.

Todas as outras mulheres, foram tidas à força e com muita violência. O Sultão era impiedoso com os seus métodos para garatir o seu prazer e mostrar todo o seu poder.

Ele quis ser diferente com Laila, mas não por bondade ou capricho... Ela era uma mulher que surtia um enfeitiçar nos movimentos do Sultão, qual perdia totalmente a força e caía no chão.

Laila era uma dançarina e uma mulher especial, pois tinha poderes de sedução sem deixar ninguém lhe tocar.

Depois de muitas tentativas sem sucesso, o Sultão ficou com raiva e ordenou que jogassem Laila no mar e que lá ela morresse com o seu feitiço e sua virgindade intocável.

Foi uma maneira de tentar manipular o medo em Laila, mas sem muito sucesso.

Laila foi levada ao mar e em um instante o Sultão quase uma lágrima deixou escapar... Ele chegou perto dela e pediu que se tornasse sua única esposa, mas ela disse:

"O meu amor é a minha liberdade e diante dos seus olhos serão apagados, como todas as estrelas no céu eu posso brilhar, mas diante do seu poder eu tornarei toda a sua vida em escuridão"

Assim...

Na fúria e vaidade do Sultão, Laila foi jogada no mar e ela morreu sem poder respirar. Todas às estrelas do céu sumiram por alguns minutos e naquela noite o Sultão sentiu que parte dele estava indo junto com Laila.

O mar que era azul cristalino em negro se transformou, igual a visão daquele Sultão e qual, nunca mais a luz enxergou.

Nos tempos atuais...

Diante ao mar negro e um céu completamente estrelado, Zurah correu para frente do mar e disse:

- Olhe vovô!? O mar tem a cor dos cabelos de Laila!!!

Samir sorriu e abraçou a sua netinha que na inocência, aceitou o conto como algo mágico. Ainda dizendo que o Sultão perdeu um grande amor, pois Laila era livre e no mar negro se transformou.

Sabemos com todas às estórias que um dia aconteceram; quê...

Os seres humanos na busca do poder até o amor perdem, pois não conseguem nem mais se encontrarem. Mesmo diante do arrependimento e da tristeza, eles são teimosos e sofrem sendo impiedosos.

A morte é a chegada de uma estação, em seu inevitável fim para todos.