O colecionador de postais
"Cada louco com sua mania", é o que muitos dizem por aí. Nunca achei loucura colecionar cartões postais de todas as cidades pelas quais passei, mas tudo bem, o rótulo pegou e aqui estou eu, olhando para o cartão da cidade que mais me marcou: Colônia, na Alemanha.
Antes de continuar, preciso confessar a vocês que nunca me casei, guardando todo o meu amor para uma dama que conheci em Colônia quatro anos atrás. Eu estava apenas de passagem, saído de Berlim, a caminho de Bruxelas, e algo me fez parar ali, naquela cidade, famosa pela sua catedral. Presumo que tenha sido o destino o responsável.
Não sabia muito o que fazer por ali. Procurei algum centro de informação para turistas e me mostraram o caminho para a catedral. Segui em frente.
Quando lá cheguei, já do lado de fora era possível escutar o canto divino de um grupo de artistas que ali se apresentava. Uma mistura de gospel com ópera que agradava a todos os presentes. Muita gente assistia à apresentação. Parei à porta e contemplei.
Minutos depois, a música teve fim e os aplausos ressoaram pela igreja. O grupo agradeceu e se desfez em cumprimentos entre eles e alguns admiradores que os cercavam. Eu continuei a observar.
Meus olhos atentos percorriam os detalhes de cada canto, a arquitetura, as cores. Nada se perdia nem passava despercebido. Minuciosa e cuidadosamente eu desvendava cada centímetro da Catedral de Colônia.
Contudo, do meu olhar astuto escapou uma pequena coisa, ou melhor, um pequeno alguém.
"Linda, não?" No forte sotaque alemão, aquela voz de anjo me assustou, pegando-me de surpresa. Ela não tinha mais que um metro e sessenta, cabelos loiros ondulados, olhos azuis escondidos atrás de óculos de grau caretas.
"Sim, maravilhosa", eu respondi em um alemão meio arrastado que aprendi com meus avós, com o coração ainda disparado do susto. Ela não percebeu.
"Prazer Emma!"
"Leonardo. O prazer é meu."
Não pude deixar de perceber que ela se vestia como o grupo que havia cantado. "O grupo de vocês foi magnífico. Parabéns pela apresentação."
"Ah, que isso! Obrigada!"
Caminhamos por tempo suficiente para eu saber que a igreja já não me chamava mais tanto a atenção. "Gostaria de tomar um café?"
Lembrava-me de ter visto uma ou duas cafeterias a caminho da catedral. Pedimos uma mesa e nos sentamos para conversar. Ela pediu Latte Macchiato e eu, um expresso com cookies para acompanhar. Contei um pouco sobre minhas viagens pelo mundo, sobre como gostava de ser jornalista e ela me contou sobre o grupo, sobre como era viver pela música.
Não muito mais tarde, ela precisou partir e eu voltei à estação de trem para seguir a Bruxelas.
É engraçado como o amor funciona. Nunca vira aquela jovem em minha vida antes e me conectei tão logo a ela que não a esqueci por um segundo. De tão entretidos que estávamos na conversa, esqueci de pedir seu número de celular e só me dei conta quando já estava no trem. Mas não fazia mal, pois há um ditado alemão que diz que sempre nos encontramos duas vezes na vida. Agora era hora de reencontrá-la.
Minhas coisas já estavam todas organizadas, visto, passaporte, malas. Meu coração saltava pela boca na ansiedade de reencontrar Emma. Segundo minhas pesquisas, seu grupo de música se apresentaria em alguns dias na mesma catedral que nos conhecemos. Embarquei.
Mal aterrissamos e eu já estava fora do avião. Em poucas horas, eu havia chegado no hotel e, frente ao espelho, eu ensaiava minhas falas quando a visse. "Olá, Emma! Lembra-se de mim? Leonardo. Nos conhecemos aqui mesmo, quatro anos atrás."
No dia da apresentação, eu estava lá. Fiz questão de repetir tudo o que fiz na primeira vez. Passei pelas mesmas ruas, cheguei atrasado e parei no mesmo lugar, à porta, de onde eu a avistei, cantando na primeira fila. Assim que a música acabou, corri para o local em que nos conhecemos, próximo ao altar. Era só esperar. Ela apareceria ali.
"Linda, não?" Ouvi aquela voz perguntando. Era ela, inconfundível.
"Sim, maravilhosa", virei-me, respondendo, o coração tão acelerado quanto da primeira vez. "Desculpe-me! Achei que estivesse falando comigo."
O ditado alemão estava certo. Eu a vi uma vez mais, mas agora ela estava acompanhada, de mãos dadas com um outro rapaz. Com meus olhos atentos, não pude deixar de reparar nas alianças que carregavam. Antes de deixar a igreja, olhei-a nos olhos uma última vez. Ela não me reconheceu, ela não me amou.