Lei de Murphy às avessas

Lei de Murphy é uma lei que diz que se há a possibilidade de alguma coisa dar errado, dará. O Murphy, que dá nome a lei, era o engenheiro e capitão da força aérea americana, Edward Aloysius Murphy, que a formulou, em 1949, após descobrir que todos os eletrodos para medir a velocidade de aceleração e desaceleração de pilotos estavam mal instalados.

Renato Mullir sofreu os efeitos desta célebre lei exatamente no dia de seu aniversário. No dia 21 de setembro de 2016, Renato Mullir completou 46 anos de idade muito bem vividos por sinal. Seus amigos escolheram um lugar sui generis para um conquistador inveterado de mulheres: uma boate GLS. Se você nunca ouviu falar o que significa o “GLS” da boate, vou explicar! Não tem nada a ver com GPS que é usado para localização. Uma boate GLS quer dizer uma boate frequentada por Gays, Lésbicas e Simpatizantes. Simples assim.

Renato não era nem pra sair naquele dia, porque estava muito gripado. Mas nem só de trabalho é feito o homem e como os amigos insistiram muito, ele aceitou comemorar seu quadragésimo sexto aniversário na boate Vem que tem!, uma famosa boate gay em Copacabana.

A comemoração começaria às 21 horas em ponto, mas teve que esperar a chegada do aniversariante. Mesmo saindo mais cedo, o médico cirurgião plástico, Renato Mullir, se atrasou por causa de um engarrafamento monstro causado por uma passeata de manifestantes favoráveis ao impeachment do Presidente da República. Mas, ele chegou... trinta minutos atrasado! Mas os amigos nem ligaram. Ao contrário: comemoraram! Julio, Alberto e Roberto eram médicos como Renato, mas de especialidades diferentes. Todos eram casados, exceto... o aniversariante! Mas as esposas ficaram em casa. A comemoração era só entre amigos homens, tipo “clube do Bolinha”, onde as mulheres não entram.

A boate era muito bem frequentada. A elite carioca estava ali. Com seus ternos e tailleurs de bom corte, homens e mulheres se descontraíam ao som de música eletrônica, no mais alto volume, após mais um dia de labuta. Havia, é claro!, gays e lésbicas também, afinal de contas a boate era deles (as). No palco principal, as drag queens batiam os cabelos de forma harmônica e elegante. O público aplaudia. Roberto foi buscar uma bebida no bar da boate junto com Alberto e Julio. Uma forma de deixar livre o aniversariante que trocava olhares nada discretos com uma bela loira, apesar dele preferir morenas.

― Boa noite! Tudo bem? ― disse Renato Mullir de forma meio espalhafatosa para a loira de olhos azuis e lábios voluptuosos que estava sentada à mesa com duas amigas e um amigo.

― Você quer dizer bom dia, né? Já passa da meia-noite, querido. ― Disse a loiraça para risada geral de seus amigos.

― É. Você tem razão. ― retrucou o aniversariante com um sorriso amarelo. ― Posso saber seu nome?

― É claro que sim. Meu nome é Rafaela. E o seu?

― Me camo, quer dizer... me chamo: Renato Mullir. ― Gaguejou o aniversariante deslumbrado com a beleza da linda mulher.

― Prazer, Renato. Mas infelizmente, preciso ir embora agora. Amanhã eu desfilo. Sou modelo profissional.

― Você pode me dar seu telefone? ― perguntou o médico quase fazendo biquinho.

― Prefiro que você me dê o seu. ― Disse Rafaela, levantando-se da mesa para ir embora com os amigos.

Renato estava cometendo todos os erros de um principiante na arte da conquista: hesitação, botar a mulher num pedestal como se ela fosse uma deusa (apesar dela ser!) e, no fim, cometeu o último: deu seu telefone sem obter o da mulher de volta. Rafaela pegou o telefone do aniversariante, deu dois beijinhos no rosto dele (ela era carioca!) e antes de ir embora, e sumir no horizonte do cirurgião plástico, fez um sinal com a mão em forma de telefone dando a entender que ligaria pra ele.

Renato Mullir estava nas mãos da bela modelo. Uma situação que ele estava acostumado a causar, não a sofrer.

Passado um mês ela não ligou. Mas Renato Mullir estava apaixonado. Tal como um peixe que luta por sua vida depois de fisgado, o cirurgião plástico lutava por amor, que por enquanto era platônico. Ele sabia que Rafaela era modelo e desfilava. Entrou na internet de seu computador pessoal e deu um Google em todas as modelos cariocas que desfilaram no dia seguinte ao seu aniversário. Encontrou! Era ela! Mas seu nome não era Rafaela. Era Patrícia. Renato se empenhou ao máximo para encontrar Rafaela, quer dizer Patrícia, Patrícia Kolls. Renato Mullir sofreu os efeitos não da Lei de Murphy e sim da Lei da Atração, aquela que diz que atraímos para nós tudo aquilo que pensamos com duração e intensidade. E, inconscientemente, Renato Mullir buscava um grande amor. E ele encontrou. Após muitos presentes e juras de amor mútuas, Renato e Patrícia foram festejar os seis meses de namoro juntos. No motel, ele teve mais uma surpresa sobre a mulher que ele tanto amava: ela nascera ele, mas isso não era problema nenhum para Renato Mullir, afinal de contas, ele era cirurgião plástico...

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 23/06/2018
Código do texto: T6371529
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