Outra Vez - A história (Parte 1)

Todas as manhãs, ela preparava o café e saía apressada para não perder a condução. Ele a olhava sem entender muito bem, como sua amada conseguia cumprir o mesmo ritual diariamente. Fazia apelos para que ela voltasse para a cama enquanto ela se despedia com uma vontade louca de ficar mais um pouco.
Seu sorriso meio amarrotado era encantador, a barba por fazer e o furinho no queixo a faziam voltar e dar-lhe um beijo demorado contrariando o horário de sair.
Nessa hora, ele a puxava e a prendia em seus braços e antes que ela dissesse sobre o cartão de ponto, ele a beijava provocando arrepios que ela sentia sempre como se fora a primeira vez.
Ele, sem os óculos, era mesmo muito bonito, embora a armação colorida desse-lhe um charme especial. Ela adorava quando ele, automaticamente, ajeitava com o dedo indicador a haste sobre o nariz. Aquele homem era o seu mundo...
Todos diziam que ele era um tanto descansado, um poeta que não levava nada à sério e que vivia dando desculpas para permanecer em sua casa sem contribuir nas despesas que ela bancava sozinha.
Ela voltava à tardinha da repartição, trazia o pão quentinho, com queijo por cima, como ele sempre pedia e também alguma coisa para cozinhar. Sentia-se feliz quando ele se fartava com sua comida e sorrindo, pegava o violão, a chamava para ficar mais pertinho e ouvir uma nova canção.
Ela deixava a louça na pia, limpava as mãos no avental e atendia imediatamente... Ele gostava daquela mulher. Fazia as canções para ela, depois desfazia o coque mal feito que ela ajeitava, e pedia-lhe um beijo. As noites eram assim...
As vezes o telefone tocava e interrompia o momento de tantos carinhos, do outro lado sua mãe perguntava se ela iria para o interior no feriado, mas logo a advertia:
- Não quero aquele folgado com você! Ele te explora, Ana Maria. Falo para o seu bem!
Ela respondia em meio às risadas por conta das cócegas que ele lhe fazia.
- Está bem mãezinha, no fim do mês, estarei em recesso no trabalho e irei te visitar...
Mal desligava o telefone e ele a lembrava, abrindo uma Long Neck, do festival de músicas que iria participar.
- Você não vai me abandonar no meio daquela multidão, vai?!
Ela sorria, e dizia:
- Nunca querido, mamãe pode esperar.

Cláudia Machado
15/6/18

Ouça a canção Outra Vez na minha página. Esse conto é uma "fotografia" da história dos protagonistas que vivem na canção. Qualquer imagem e semelhança é mera coincidência, bom que se diga.
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 15/06/2018
Reeditado em 12/10/2020
Código do texto: T6365351
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