Ao despertar

Caio estava sentado em um banco do parque, apreciando o dia ensolarado. Era um domingo de tarde, o céu estava completamente azul, e era possível ver os raios de luz sendo refletidos através das árvores.

Ele se encontrava abaixo de uma sombra, projetada por um ipê-amarelo. Estava passando a mão pelo seu cavanhaque e refletindo sobre várias coisas. Ele possuía um cabelo castanho bagunçado, além de olhos pretos. A sua frente, ele podia ver um gramado com várias pessoas. Famílias brincavam e faziam piquenique, crianças corriam pela grama e alguns casais simplesmente estavam sentados juntinhos, apenas curtindo o momento.

Naquele dia, Caio acordou e percebeu uma atmosfera diferente, algo que todos percebem, mas ninguém sabe explicar. É uma sensação de que algo bom está prestes a acontecer, mas nem sempre realmente acontece algo.

Olhando para os casais de namorados que se encontravam ali, começou a refletir sobre seus próprios relacionamentos. Em sua vida amorosa, ele tinha namorado apenas uma moça por seis meses, além de ter se envolvido com mais mulheres.

Apesar de gostar de verdade da moça que ele namorou, ela acabou pedindo o término do namoro, por motivos superficiais que ele nunca entendeu. Para os outros casos, foi Caio que nunca conseguiu se envolver por completo no relacionamento, achando melhor parar antes que aquilo pudesse se tornar mais sério.

Há um pouco mais de dois anos ele não se envolvia com ninguém, e estava perdendo as esperanças de um dia realmente encontrar alguém. Aquilo era algo exagerado de sua parte, mas cada um chega ao seu limite em momentos diferentes. Caio sempre teve alguém nos anos anteriores, e agora estava só em seu mundo dos romances.

O que mais o chateava era o fato do Dia dos Namorados ser dali dois dias. Ele tentava não pensar sobre isso, mas sempre vinha um vazio dentro dele. Aquela sensação boa que Caio sentiu quando acordou estava se dissipando, quando...

- Nossa, um moço jovem com uma vida inteira pela frente, pensando que vai acabar sozinho no mundo?

Ao ouvir isso, Caio olhou para a sua direita e percebeu que uma moça se encontrava ali, olhando para ele. Ela estava usando um vestido cheio de flores e tinha o sorriso mais bonito que ele já havia visto. Seus cabelos castanhos eram lisos e longos, e seus olhos eram verdes e intensos. Ele não queria mentir para si mesmo, mas era uma das mulheres mais bonitas que ele já tinha falado.

- Desculpa, você estava falando comigo? Eu estava viajando um pouco aqui – disse Caio, sorrindo timidamente.

- E com quem mais eu poderia estar falando? – disse a moça ironicamente, mas ainda sorrindo.

- É, verdade... Bom, você pode repetir?

- Eu disse que como pode um moço jovem com uma vida inteira pela frente, pensar que vai acabar sozinho no mundo...

- Nossa, eu não percebi que tinha falado nada disso alto.

- E você não disse. Eu posso ler seus pensamentos Sr. Caio – disse a moça, dando uma risada depois.

Caio ficou sem entender, como se tivesse participando de uma brincadeira e foi pego de surpresa.

- Você não precisa entender o que está acontecendo Sr. Caio, não por agora.

Ela dizia “Sr. Caio” com uma graça na voz, o que fazia o coração de Caio bater mais forte, como aquele sorriso também fazia.

- E em que momento eu vou precisar entender isso? – perguntou Caio.

- Em breve você entenderá Sr. Caio. Tudo na vida tem seu tempo.

- Entendi, e o que mais você pode ver sobre meu futuro? – disse Caio, sorrindo.

- Tá achando que sou vidente? – disse a moça, e os dois caíram no riso.

- Bom, você lê mentes...

- Haha não é bem isso também. Vamos dizer que estou aqui para te dar uma mensagem – disse a moça.

- Não vai me dizer agora que você é do futuro, né?

Pela primeira vez, a moça escondeu um pouco o sorriso e olhou com uma seriedade nos olhos para Caio.

- Caio, me chamo Alice, e daqui exatamente 217 dias vamos nos conhecer nesse parque, eu serei sua última e definitiva namorada. Como eu disse, tudo na vida tem seu tempo e não devemos tentar apressar algo, querer que aconteça logo. Nós seremos um super – casal haha, e eu te chamarei de Sr. Caio e tantos outros apelidos, como você fará comigo também. Só estou aqui para acalmar seu coração e dizer que tudo dará certo, que você não precisa se preocupar tanto com algo. Eu sei que isso parece coisa de filme, mas são assim que as coisas acontecem na vida. Uma hora surgi uma oportunidade e nós temos que ter inteligência e compreensão para aceita-la. Agora, quero que você olhe para aquele casal que está sentado no banco a nossa esquerda, bem lá em frente.

Caio obedeceu e olhou, e para sua surpresa e espanto, o casal era ele e Alice, abraçados, conversando e sorrindo, como se nada mais no mundo importasse para eles. Com lágrimas nos olhos, Caio voltou a sua atenção para Alice, mas percebeu que ela não estava mais ao seu lado e em nenhum outro lugar. Confuso e feliz ao mesmo tempo, ele virou e continuou observando o seu futuro.

Quando Caio despertou, tinha aquela sensação, de que algo bom poderia acontecer, mas não sabia o motivo, como sempre. Não sabia que tinha sonhado e nunca se lembraria daquele sonho, mas se sentia melhor naquela manhã, mais otimista e pronto para aproveitar cada oportunidade que poderia lhe surgir.

Em um outro canto da cidade, uma moça chamada Alice também despertava com uma sensação boa, sem saber o motivo.

FIM

Otávio Chagas
Enviado por Otávio Chagas em 11/06/2018
Reeditado em 24/06/2019
Código do texto: T6361528
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